Policiais da Força Nacional de Segurança foram chamados, na semana passada, para retirarem emergencialmente os profissionais de saúde de uma comunidade indígena na Terra Yanomami, localizada nas imediações da fronteira com a Venezuela, depois de ameaças feitas por um indígena em posse de uma arma de fogo. Os trabalhadores do polo base do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) foram removidos de helicóptero para outra comunidade.
Indígenas armados por garimpeiros é só mais um dos problemas que os profissionais de saúde precisam enfrentar em sua rotina de trabalho. Em alguns casos, desentendimentos por comida gera conflitos, pois muitas comunidades que tiveram contato direto com o garimpo não conseguem viver mais da caça, pesca e do plantio de roça, o que faz com os indígenas se revoltem ao terem alimentação negada, uma vez que os alimentos são regrados pelas equipes.
Já houve caso de agente de saúde assassinado com flechada por causa do uso de tomada para carregar celular, médica atacada a pauladas por indígena que não se conformou com o atendimento e todos os tipos de ameaças por qualquer motivo, muitas vezes por indígenas que conviveram com garimpeiros e adotam postura agressiva a qualquer descontentamento. Armas de fogo passaram a fazer parte da vida de vários indígenas entregues por garimpeiro como forma de pagamento para silenciarem ou apoiarem o garimpo ilegal na terra indígena.
É por isso que se tornou imprescindível a presença da Força Nacional de Segurança na Terra Indígena Yanomami não só para reforçar a fiscalização contra o garimpo ilegal, como também para garantir a vida e a integridade física dos profissionais de saúde que trabalham nos polos. Afinal, a mais recente operação da Polícia Federal, nesta quinta-feira, em Boa Vista, comprovou que existe um grande esquema de fornecimento de armas, munições e combustíveis para o garimpo ilegal.
Na operação de ontem, os agentes da PF tiveram como alvo de busca e apreensão um policial militar da reserva, o que só reforça a participação de gente importante no apoio ao garimpo. Não se pode esquecer que o próprio comandante da Polícia Militar é um dos investigados sob suspeita de venda ilegal de armas e munições, junto com um parlamentar.
Na mesma medida em que as ações de combate ao garimpo na Terra Yanomami avançam, muitos garimpeiros e agenciadores estão se mudando para o Município Uiramutã, tendo como base a sede daquela localidade, que se tornou ponto de apoio e logística para o garimpo na Guiana. Aquela cidade se tornou um “arraial”, com intenso comércio movimentado principalmente à noite por garimpeiros e seus agenciadores. A situação está ficando insustentável.
O que fica muito evidente é que a resistência por parte dos mantenedores do garimpo ilegal está diretamente ligada ao apoio que essa atividade fora da lei recebe de gente importante, como policiais da ativa e da reserva, empresários, políticos e outros, conforme vêm apontando as investigações da PF nas várias operações deflagradas em Roraima e outros estados.
Enquanto essas ramificações não forem desmontadas e os responsáveis punidos, o garimpo continuará desafiando as autoridades, com sérios riscos de a qualquer momento mais um profissional de saúde voltar para casa no caixão, além dos demais problemas provocados aos indígenas, ao meio ambiente e à sociedade em geral, que sente os reflexos da criminalidade advinda do crime organizado que se apossou da garimpagem.
*Colunista