
Embora o Estado de Roraima esteja na 15ª colocação entre as unidades da Federação que apresentam crimes violentos acima da média nacional no ano de 2023, apesar da queda na taxa de mortes violentas intencionais, conforme abordado no artigo anterior, alguns fatores precisam ser observados nas estatísticas do Atlas da Violência de 2025 como sérios alertas, a exemplo da violência contra mulheres, estupro de vulnerável, sistema prisional, crimes cibernéticos e tráfico de drogas, que apresentam números preocupantes.
É preciso observar que os dados são referentes a 2023, mas a realidade das notícias policiais diárias mostra que teremos aumento da criminalidade em 2024, diante dos seguidos crimes observados no Estado com a atuação de facções venezuelanas, inclusive com a descoberta de cemitério clandestino. Por enquanto, os registros do Atlas da Violência apontam inclusive queda no número de mortes violentas intencionais na Capital, Boa Vista, passando de 108 casos em 2022 para 94 casos em 2023, uma taxa de redução de 13%.
Por questão de espaço, é necessário abordar essas questões por partes, a começar com o tráfico de drogas, que se tornou um grande desafio diante do redesenho da geografia do crime nas fronteiras, influenciada em Roraima pelo garimpo ilegal, o qual foi negligenciado especialmente a partir de 2019, quando uma nova invasão em massa começou na Terra Indígena Yanomami e o narcogarimpo passou a ser uma grande ameaça. Essa disputa por rotas e territórios é o grande gerador da criminalidade, com assassinatos, policiais no crime e outros tipos de violência.
Dentro das estatísticas sobre tráfico de drogas, o Estado de Roraima é apontado como um dos “exemplos gritantes” de casos de tráfico de drogas, que cresceram 1.197% em dez anos, saltando de 40 casos em 2013 para 519 em 2023. Embora a apreensão de cocaína no país tenha registrado redução entre 2022 e 2023, Roraima está entre as 9 unidades da Federação que apresentaram crescimento em 2023, junto com Amapá, Amazonas, Bahia, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
Por outro lado, esse dado não pode ser visto apenas como um fator negativo ou fortalecimento do tráfico, pois os dados podem representar maior atuação no combate ao tráfico. Em 2023, houve registro de diminuição na quantidade de cocaína apreendida na Região Norte, depois de um pico de apreensões em 2022, o que pode ter uma relação exatamente com o sucesso na repressão a determinadas rotas, conforme os especialistas assinalam no Atlas.
A realidade apresentada nas estatísticas mostra que o desafio da Segurança Pública não só em Roraima, mas em todo o país, é o crescimento do crime organizado. Conforme o Atlas, o país precisa lidar com 72 facções criminosas de base prisional (Senappen, 2024), que têm no narcotráfico uma de suas principais fontes de poder econômico. O garimpo ilegal contribuiu decisivamente para colocar Roraima na rota da cadeia transnacional da cocaína, que é produzida na América do Sul e consumida em outros centros, como Europa, Ásia e África.
Portanto, para enfrentar a criminalidade e reduzir os dados negativos é necessário que as autoridades de Segurança Pública e da Justiça sigam atuando e dando respostas rápidas para enfrentar as organizações criminosas, as quais se fortalecem com as vulnerabilidades sociais e institucionais, aumentando a capacidade de produzir violência e restringir direitos nos territórios nos quais atua, conforme aponta o relatório dos especialistas responsáveis pelo Atlas da Violência de 2025.
*Colunista