Décadas de abandono e uma esperança de melhorias para a educação indígena
Jessé Souza*
Em 02 de junho passado, esta coluna publicou o artigo intitulado “Uma educação caindo aos pedaços há pelo menos três décadas”, tratando exatamente sobre a situação das escolas localizadas nas comunidades indígenas, tanto as estaduais quanto as municipais.
Construídas ainda pelo então governador Ottomar Pinto, já falecido, quase todas estão há pelo menos 30 anos sem receber qualquer reforma ou ampliação em sua estrutura física. Em várias localidades a situação é pior, pois as escolas foram construídas pelas próprias comunidades de forma improvisada, sem o mínimo de estrutura adequada.
Seis meses depois, em 05 de novembro, a Folhabv publicou a matéria intitulada “Diretora diz que escolas indígenas estão sem condições minimas”, corroborando com o que foi comentado por esta coluna e indo mais além, detalhando o nome de 27 escolas indígenas onde falta estrutura para as aulas presenciais.
O fato é que, depois de Ottomar Pinto, nenhum governo se interessou em garantir estrutura mínima para essas escolas e para outras estruturas públicas nas comunidades, a ponto do prédio das escolas servirem também para abrigar, de forma improvisada, o posto de saúde, onde também serve como cozinha comunitária e clube de mães.
Assim também como nenhum (isso mesmo: nenhum) parlamentar direcionou emendas para obras de reforma e ampliação do prédios dessas escolas, contribuindo para que a situação se agravasse a cada ano, à medida que a demanda de ensino público só aumenta a cada ano.
Porém, desde 2020, o atual governo estadual vem destinando R$ 7 milhões para reforma, ampliação e construção de escolas em terras indígenas. Parte desse recursos é oriundo de emenda parlamentar da deputada federal Joênia Wapichana (REDE), inclusive com recurso para compra de mobílias para as escolas.
Significa que, pela primeira vez, desde a instituição do Estado, que as comunidades indígenas estão sendo lembradas pelo governo e por uma parlamentar federal que, não por coincidência, é a representante indígena no Congresso Nacional. Isso serve para mostrar que os políticos que vão às comunidades pedir o voto dos indígenas são os mesmos que esquecem a situação dessas pessoas assim que se elegem.
Existem situações tão vergonhosas em que as comunidades constroem sua escola, com ajuda dos professores que tiram dinheiro do próprio bolso para as reformas, mas o município, em vez de contribuir, apenas vai lá colocar a placa com o nome da escola e da Prefeitura. Esse exemplo pode ser visto na Comunidade do Ouro, no Município do Amajari.
Esse é o perfil da estrutura da educação indígena em todo o Estado de Roraima. Ainda assim, ela é exemplo pedagógico para o país como educação diferenciada, onde existem professores indígenas que lutam por um sistema que respeite a língua, as tradições e a diversidade étnica das diversas populações.
O que falta mesmo é o comprometimento dos políticos e dos governos em dar a sua parte para garantir a estrutura mínima adequada para que as comunidades tenham essa educação diferenciada de qualidade, pois é somente a partir da escola que essas populações irão garantir um futuro mais digno.
Mas, ao que parece, diante da realidade que se apresenta, é justamente isso que muitos políticos não querem, pois eles preferem a situação como está, com as comunidades na submissão, em que muitos políticos só aparecem para pedir ou comprar o voto em tempo de eleição.
*Colunista