JESSÉ SOUZA

Cenas da vida real, enquanto os políticos só pensam na próxima eleição

Fila da saúde pública é apenas um dos problemas que a população precisa enfrentar em busca de atendimento (Foto: Divulgação)

Neste exato momento em que escrevo esse artigo, minha irmã está no centro cirúrgico em um hospital fora de Roraima, em um centro de referência, dando sequência ao seu tratamento contra o câncer no aparelho digestivo. E a família em oração. Se ela tivesse ficado aqui, para esperar pelo sistema de saúde público do governo local, ainda estaria tentando concluir os exames solicitados pelos médicos e correndo atrás de retorno médico.

Havia duas alternativas: esperar pelo atendimento público local e ver suas chances de vida serem reduzidas bruscamente; ou levantar a cabeça, unir a família, fazer rifas, pedir dinheiro e correr atrás de amigos com influência para conseguir uma vaga fora do Estado, uma vez que o Governo do Estado faz de tudo para negar o Tratamento Fora de Domicílio (TFD).

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Uma amiga providenciou a ajuda mais difícil, que era conseguir uma vaga no centro de referência fora do Estado. Sim, conseguir tratamento fora depende da influência junto a políticos. Quem não consegue esse empurrão, vai para a fila do desprezo do governo local, onde quase nada funciona, onde a demora na fila é mais que ultrajante, é criminosa.

Quem acompanha o movimento na internet sabe que as famílias que descobrem alguém com câncer têm que se agarrar a tudo que vier pela frente: pedir esmola no semáforo, fazer bingos e rifas, implorar pix solidário seja de quem for, nos grupos de WhatsApp e perfis das redes sociais, esperando alguma empatia e solidariedade. Como se tratam de pobres ajudando pobres, nada disso é suficiente e há casos em que é necessário se desfazer de bens conquistados sob sangue e suor durante a vida toda.

Graças ao bom Deus, aos amigos e às pessoas solidárias, minha irmã conseguiu estar em um centro de referência, onde começou o tratamento de quimioterapia imediatamente, assim que chegou lá, onde foi acolhida caridosamente por uma instituição religiosa que a abriga, aliviando os gastos financeiros com hospedagem e alimentação.

Se a família não tivesse se mobilizado, minha irmã teria definhado até a doença se tornar irreversível, submetida às mentiras governamentais de que tudo está bem, que os hospitais estão todos organizados e com bom atendimento, enquanto faltam remédios até para pacientes na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), uma fila interminável para cirurgias eletivas, espera criminosa para realizar exames e um serviço de tratamento de câncer que não funciona.

Enquanto tudo isso ocorre, os políticos estão pensando somente na próxima eleição, a despeito das pessoas doentes que precisam recorrer a pistolões, a esmolar nas redes sociais, a recorrer a amigos e a implorar solidariedade em tempos de golpes da internet. E não está fácil para ninguém, nem para quem já vai nascer em uma maternidade coberta de lona…

*Colunista

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