Jessé Souza

Cenas de desenho animado 02 10 2014 102

Jessé Souza* Mostrar boa vontade para fiscalizar a compra de votos é um fato. Agora, efetivamente combater esse tipo de crime eleitoral é outro. Os órgãos fiscalizadores em Roraima estão longe de mostrar algum resultado eficiente para minar o comércio eleitoral que se desenha nesses poucos dias que faltam para o eleitor ir às urnas. A Justiça proibiu o saque de valores de até R$10 mil nas agências bancárias. Embora seja uma iniciativa válida, a logística para manipular esse dinheiro ilegal já vem sendo montado há um certo tempo. Se os órgãos fiscalizadores tivessem boa vontade e estrutura para ir atrás da montanha de dinheiro sujo destinado à compra votos, então teria que começar a rastrear o alto volume de saques feitos pelas empresas muito antes da decisão proibitiva da Justiça. Se não for feito isto, de nada adiantará. A Polícia Federal espalhou cerca de 100 agentes para ficar seguindo candidatos em reuniões de bairros ou tentando se infiltrar em listas de boca de urna. Detalhe: vão “disfarçados” em carros com vidro fumê, com aparência de turistas no meio de pessoas humildes e com semblante de classe média que fica incomodada em festa de gente pobre. Enquanto isso, os grandes chefões da boca de urna agem nos escritórios em áreas centrais, em casas alugadas cheias de segurança (entre eles policiais), carro-forte e com todo aparato sendo apoiado inclusive por estruturas do poder constituído. Traduzindo, enquanto as fiscalizações ficam com os olhos voltados para os bairros mais afastados do Centro, os operadores dos esquemas ficam livres para agir a cada pleito, sem que as autoridades consigam alcançá-los ou ao menos inibir as ações criminosas. Quando a polícia alcança alguém, a Justiça não aceita as provas ou acata as brechas jurídicas que livram os políticos endinheirados. Não custa lembrar que dois deputados foram flagrados com a “mão na botija” e caçados, mas conseguiram reverter a decisão porque a Justiça não aceitou as filmagens do flagrante feitas pela Polícia Federal. Sendo assim, é muito difícil acreditar que o esquema de compra de votos possa ser freado nas eleições deste ano. Porque os caciques da política são cientes das deficiências dos órgãos fiscalizadores e estão mais preparados do que o aparato montado para tentar flagrar os crimes. Se a compra de voto não for tratada como crime organizado, uma máfia, tudo continuará na mesma. E, desta forma, a fiscalização de crimes eleitorais em Roraima sempre se parecerá com desenhos animados de Tom e Jerry, do gatinho e o Piu-piu, do Papa-Léguas e o Coiote. Os órgãos fiscalizadores até podem saber aonde ir e o que fazer, mas nunca vão conseguir pôr a mão nos personagens principais. *Jornalista [email protected]