ANUÁRIO DA EDUCAÇÃO

Apenas 3,3% dos alunos do Ensino Médio em Roraima têm aprendizagem adequada em Português e Matemática

Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 mostram que a defasagem em Português e Matemática compromete o aprendizado e evidencia a necessidade de investimentos

O dado aponta que muitos estudantes chegam ao Ensino Médio com defasagem educacional, ou seja, sem dominar conteúdos e habilidades que deveriam ter aprendido nas etapas anteriores da escola. (Foto: Arquivo/FolhaBV)
O dado aponta que muitos estudantes chegam ao Ensino Médio com defasagem educacional, ou seja, sem dominar conteúdos e habilidades que deveriam ter aprendido nas etapas anteriores da escola. (Foto: Arquivo/FolhaBV)

Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 revelam que apenas 3,3% dos estudantes da 3ª série de Roraima alcançaram nível adequado em Língua Portuguesa e Matemática, disciplinas centrais para a formação escolar. O estado registrar mais de 185 mil matrículas na educação básica.

O levantamento, elaborado pelo movimento Todos Pela Educação com base em informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Inep/MEC (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação), aponta que o estado possui 904 escolas e 8,4 mil professores na rede de ensino. Entretanto, os resultados mostram que o desafio não está no acesso, mas na qualidade da aprendizagem.

Nos anos finais do ensino fundamental, por exemplo, apenas 8,1% dos estudantes do 9º ano alcançaram desempenho satisfatório em Português e Matemática. Mesmo com 86 em cada 100 jovens concluindo essa etapa até os 16 anos, o aprendizado segue abaixo do esperado.

Para a professora Milce Magno, mestre e docente da Língua Portuguesa da rede estadual, esses números refletem problemas estruturais e históricos.

“Esse índice [de 3,3%] revela um quadro preocupante do nosso sistema educacional. Significa que a maioria dos estudantes conclui o Ensino Médio sem dominar plenamente competências básicas em leitura, escrita e raciocínio lógico. Trata-se de um reflexo de desigualdades históricas, deficiências estruturais e também dos impactos prolongados da pandemia de COVID-19, que interrompeu processos de ensino e agravou lacunas já existentes”, reflete.

Sem uma base sólida de leitura e escrita

O recurso faz parte do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O dado aponta que muitos estudantes chegam ao Ensino Médio com defasagem educacional, ou seja, sem dominar conteúdos e habilidades que deveriam ter aprendido nas etapas anteriores da escola. Isso significa que, mesmo frequentando a série correta para a idade, eles não conseguem ler e interpretar textos com segurança ou resolver problemas básicos de Matemática.

A professora explica que isso se soma a múltiplos fatores: turmas numerosas, pouco acompanhamento individual e familiar, e o uso intenso de linguagens digitais abreviadas pelos jovens. Além disso, a situação se agrava com a infraestrutura limitada das escolas.

“Algumas escolas em Boa Vista ainda estão com infraestrutura precária, bibliotecas pouco atualizadas devido não haver leituras para a juventude da atualidade, falta de espaços de leitura ou de tecnologia educacional limitam as oportunidades dos alunos, internet precária. Ainda tem a sobrecarga dos professores devido baixos salários. Eles acabam procurando duas ou três escolas para suprir suas necessidades pessoais e pouca formação continuada referente à educação especial, abordagens tecnológicas, dificultam a implementação de práticas pedagógicas inovadoras. Esses fatores combinados reduzem o potencial de aprendizagem dos estudantes”, detalha Milce.

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Infraestrutura escolar e o impacto no aprendizado

O impacto dessas condições se reflete nos dados do estado: no Ensino Médio, apenas 35% das escolas possuem laboratório de informática, 25% laboratório de ciências e 48,9% quadra de esportes. Nos anos finais do Fundamental, apenas 27,8% das escolas têm laboratório de informática, 14,3% laboratório de ciências e 43,7% quadras de esportes.

Segundo Milce, sem espaços adequados e recursos atualizados, o aprendizado não consegue se desenvolver plenamente, mesmo quando há boa vontade dos professores.

“Para reverter esse quadro, é fundamental investir em políticas de alfabetização na idade certa, formação continuada dos professores, bibliotecas bem equipadas e programas de incentivo à leitura dentro e fora da escola. Projetos de escrita criativa, clubes de leitura, uso de tecnologias educacionais e parcerias com a comunidade, setores privados, incentivo familiar, também podem tornar a Língua Portuguesa mais atrativa e próxima da realidade dos jovens na atualidade”, concluiu a docente.

O panorama geral da educação básica em Roraima mostra que a rede estadual concentra 374 escolas (41% do total) e 4.177 professores, enquanto a rede municipal conta com 472 unidades (52,2%) e 4.017 docentes. Na educação infantil, a rede municipal concentra 87,9% das matrículas, mostrando que o desafio está mais na qualidade do ensino do que no acesso.

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