Enquanto as forças policiais do Estado tomaram a decisão de concentrar esforços nas fronteiras, faccionados venezuelanos exibem truculência e audácia em Boa Vista, executando e baleando vítimas em acerto de conta por causa do tráfico de droga. O caso mais recente foi o do mototaxista baleado com três tiros em via pública, na noite de segunda-feira, 18, no bairro Raiar do Sol, o qual já tinha envolvimento com o tráfico de droga.
No entanto, os bandidos executaram quatro pessoas a tiros em cinco dias, um casal na terça-feira da semana passada e dois homens no sábado e domingo seguintes. Mas a escalada da violência já vinha desde julho, quando em um período de 10 dias quatro venezuelanos foram mortos em ataques a tiros nas proximidades da Rodoviária Internacional de Boa Vista, todos associados à presença de facções venezuelanas e acertos de contas relacionados ao tráfico de drogas.
Há algo que não está conectando. Quando a violência encrudesceu no entorno da Rodoviária, a ideia era montar um posto policial lá dentro do terminal rodoviária. Alguns dias depois, mais exatamente na segunda-feira, o Comando-Geral da Polícia Militar anunciou a Operação Comandos 2025 com a finalidade de combater crimes nas regiões de fronteira com a Venezuela e Guiana, além de na divisa com o Amazonas, no Sul do Estado. A operação vai até 31 de dezembro, coordenada pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp).
Neste momento de conflagração do crime na Capital, há muito a ser feito em Boa Vista no que diz respeito ao enfrentamento ao avanço do tráfico de droga, à atuação de faccionados e de outros crimes, a exemplo do elemento que se sentiu livre para atacar um homem no meio da rua com um mata-leão, no bairro Aeroporto, que por pouco não custou a vida da vítima; ou do caso da adolescente de 17 anos, que foi ameaçada por um homem armado, no bairro Cinturão Verde. São casos explícitos de que há algo muito errado com a segurança da população que vai além da atuação de facionados.
Logo, é temerário que esta operação visando fronteiras concentre esforços onde a atuação precisa ser das forças policiais federais, enquanto a população boa-vistense se vê acossada diariamente pela criminalidade. Antes podia-se argumentar que eram facionados venezuelanos matando seus patrícios em acertos de conta, mas a violência tem avançado sobre cidadãos no seu dia a dia, caminhando em via pública, onde o policiamento ostensivo tem visivelmente falhado, ou mesmo dentro de casa. Furtos tornaram-se corriqueiros em residências e comércios.
Os fatos mostram um contrassenso em que uma operação policial passa a focar nas rodovias federais, enquanto faccionados venezuelanos se apoderam dos bairros periféricos de Boa Vista, no mesmo momento em que elementos armados ou não atacam pessoas em via pública ou assaltam e furtam residências a qualquer hora do dia e da noite. Diante de tudo disso, para tentar entender o que está se passando, só restam perguntas a serem feitas.
Por que as forças policiais estaduais se apressam em ir para as fronteiras com países vizinhos e na divisa com o Amazonas em um momento em que ocorreu a maior apreensão de barras de ouro de origem não declarada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF)? Por que não concentrar esforços para conter a criminalidade na Capital como prioridade absoluta? Por que mobilizar os policiais para que atuem em outros municípios, longe de casa, no momento em que há um descontentamento explícito devido à falta de reposição salarial há 11 anos?
*Colunista