Luiz Thadeu Nunes e Silva

Na semana passada a convite de um grupo da terceira idade, para uma roda de conversa, falei sobre os desafios de envelhecer bem. Não sou geriatra ou gerontólogo, nem especialista no assunto, mas aos 66 anos, estou gostando de envelhecer, e tenho algumas histórias para contar. No outono da vida estou mais seguro, sem preocupação em saber o que pensam a meu respeito, e sem esperar muito da vida. Sereno, observo a passagem do tempo, e parafraseando Mário Lago: “Fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem fujo dele. Qualquer dia a gente se encontra e, dessa forma, vou vivendo cada momento”.

No encontro, dominado por mulheres de diferentes idades e, alguns homens, a conversa fluiu para temas como: saúde, solidão, sexualidade, espiritualidade, projetos de vida, planos de futuro.

Alguém falou que após enviuvar, aos 68 anos, descobriu uma nova vida e está experimentando coisas novas, que jamais pensou.

Outra falou que casada, há 36 anos, sente-se só, abandonada, o marido não lhe nota mais.

Um senhor de 63 anos, falou da solidão após separação da esposa com quem foi casado por 35. Citou s falta feminina na casa e da ausência dos filhos adultos e casados, que não o visitam.

Uma senhora de cabelos prateados, tez queimada de sol, cor de jambo, falou do seu lado esotérico e do namorado trinta anos mais jovem. De bem com a vida, está escrevendo um livro sobre sua caminhada, dos tempos de hippie até agora: avó moderna, antenada com o mundo e ídola das netas. Arrancou suspiros de outras mulheres.

Uma jovem senhora provocou o grupo: queria saber se alguém ali era feliz. Silêncio na sala. Alguém quebrou o silêncio dizendo que “felicidade é algo relativo, que cada um deve ter um grau de felicidade”.

Outro, citando Oscar Wilde na peça “O Retrato de Dorian Gray” — “O prazer é o único propósito. A felicidade verdadeira? Ela não existe”, fez um ótimo relato sobre sua vida atual. Já casou e descasou duas vezes, em ambos os casamentos não estava confortável e resolveu sair. Coisa rara para homens, que geralmente espicham os relacionamentos por comodidades. Disse que aos 70 anos, morando só, em pequeno apto, está satisfeito e produtivo. Falou que “não tem mais tempo para se preocupar com questiúnculas, que gasta seu tempo na academia, viajando, cozinhando e reunido amigos em aulas de filosofia”; e que namora uma moça de 40.

Todos foram unânimes em dizer que o foco é “si mesmo”, e que seu dinheiro é para se sustentar, pois criaram e sustentaram filhos, que hoje seguem seus caminhos.

“Se tudo que você ofereceu não foi o suficiente, ofereça sua ausência”, ensinou uma senhora com sotaque carregado. Verdade, às vezes a ausência é o maior ato de dignidade e respeito a si mesmo.

As mulheres, sempre elas, falaram da vaidade com o corpo e da forma leve de encarar o mundo. Uma arrancou gargalhadas da plateia ao dizer que “separada, não quer mais saber de homens. Homem dá muito trabalho. Estou na minha melhor fase”.

Uma senhora de voz suave, olhos vivos, disse algo profundo: “Nos cobramos tanto por não termos realizados tudo o queríamos, que esquecemos de agradecer o que conquistamos”. Gratidão é fundamental para dar valor e sentido à vida.

A verdade é que estamos vivendo mais, e, independente da idade, estamos cheios de vida, planos de vida e metas para o futuro. Cultura, esporte e espiritualidade são itens para uma vida saudável. Ter se planejado financeiramente ao longo da vida é fundamental.

Ao final da palestra citei Bertrand Russell: “Três paixões, simples,

mas irresistivelmente fortes,

governam a vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a permanente paixão pela vida.”

Bem-aventurados os que fizeram da vida uma festa, mesmo sabendo que nos espera é o abismo.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.

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