Em entrevista ao programa Agenda da Semana neste domingo (12), o ex-juiz federal Helder Girão Barreto fez uma análise contundente sobre a crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, desencadeada pela taxação de 50% sobre produtos brasileiros decretada por Donald Trump. Com linguagem direta e baseado em fatos, Barreto pintou um quadro preocupante das relações internacionais do país.
“O Brasil não estava no radar dos Estados Unidos, mas entrou por culpa do conjunto da obra desse desgoverno”, afirmou Barreto, referindo-se às recentes decisões da política externa brasileira. O ex-juiz foi categórico ao apontar que “nenhum outro país do mundo é tão adversário aos Estados Unidos quanto o Brasil hoje”, destacando que nem mesmo a China, principal rival econômico dos EUA, sofre taxações tão elevadas.
A postura do governo Lula foi alvo de duras críticas. “O Brasil reagiu verbalizando, através do seu presidente da república e da sua primeira dama, com chacota. Como se fosse um palco e que o assunto não fosse sério”, lamentou Barreto. Para ele, a resposta brasileira deveria ter sido mais pragmática, considerando que “essa carta [de Trump] é uma emanação de um presidente da República que também exerce soberania”.
Barreto desmontou a narrativa de que a taxação seria influência de Jair Bolsonaro sobre Trump. “Eu não creio, com você também não creio, ninguém acredita que o filho do presidente Jair Bolsonaro tem esse poder todo de influenciar o presidente da maior potência do mundo”. Em vez disso, apontou para uma série de posicionamentos do atual governo que teriam levado ao atual impasse, incluindo o apoio ao Hamas e a aproximação com a Rússia.
Os riscos econômicos foram outro ponto destacado. “Essa carta traz uma ameaça. Não é só taxação de 50%. É 50% sobre as taxações que já existem. E se o Brasil retaliar com taxação, ele diz, essa taxação será acrescida aos 50%”, explicou. Barreto alertou que a situação pode escalar para um bloqueio econômico, lembrando que “a Venezuela aceita bloqueio econômico. O Irã aceita bloqueio econômico. A Cuba aceita bloqueio econômico. E pronto. O Brasil vai perder com isso? Vai perder com isso, muito”.
A entrevista também abordou a fragilidade política interna. “O governo brasileiro já não tem o apoio popular. Já não tem o apoio do Congresso Nacional. Se mantém pela conjuminação, pela interligação com o Supremo Tribunal Federal. E ainda provoca a maior potência do mundo”, analisou Barreto, sugerindo que o presidente Lula pode estar perdendo capacidade para governar.
Ao final, o ex-juiz citou Rui Barbosa para descrever o momento político. “De tanto ver triunfar as novidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça […] o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, e a ter vergonha de ser honesto”. Uma metáfora poderosa para o atual cenário que, segundo Barreto, exige mais seriedade e menos politicagem.