PESQUISA

Da granja à mesa: Qualidade do ovo começa no bem-estar da ave

Galinhas criadas soltas produzem ovos com gema mais escura, casca mais resistente e valor nutricional superior

Estudantes pesquisam o que está por trás da qualidade do ovo caipira (Foto: Divulgação)
Estudantes pesquisam o que está por trás da qualidade do ovo caipira (Foto: Divulgação)

Antes de chegar à frigideira, o ovo percorre um longo caminho, muitas vezes invisível ao consumidor. Nas prateleiras, a variedade chama atenção: ovos brancos, vermelhos, caipiras, de granja, com selo, sem selo. Mas o que realmente determina a qualidade do alimento que chega à mesa? Com esse olhar crítico, um grupo de estudantes de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Brasília (CEUB) foi a campo para investigar a origem dos chamados ovos caipiras — e o que há por trás de sua fama de serem mais saudáveis e saborosos.

A pesquisa envolveu visitas a três propriedades do Distrito Federal: Granja Gemas, Granja da Tia Malu e o Instituto Federal de Planaltina, com o objetivo de entender como vivem as galinhas criadas em sistemas caipiras. Foram observados aspectos como estrutura de alojamento, ventilação, densidade populacional, acesso à luz natural, manejo da cama e, principalmente, o comportamento das aves.

“No sistema caipira, as galinhas podem ciscar, tomar banho de areia, subir em poleiros e interagir entre si. São comportamentos naturais que só aparecem quando o ambiente favorece”, explica a estudante Ana Júlia Alencar, integrante do grupo, ao lado de Alice Tato Haas, Anna Clara Pereira Matos e Victoria Beatriz Gomes Fontana.


Qualidade do ovo começa no bem-estar da ave

As estudantes identificaram que galinhas criadas em sistemas com maior liberdade tendem a produzir ovos com gema mais escura, casca mais resistente e, em alguns casos, melhor valor nutricional. Detalhes muitas vezes ignorados no consumo cotidiano, mas que dizem muito sobre as condições em que o alimento foi produzido.

Além de técnicas modernas, chamou atenção do grupo a sensibilidade dos pequenos produtores. “Em uma das granjas, o produtor não usava relógio ou termômetro para medir as condições do galinheiro. Ele apenas observava o comportamento das aves. Se estavam agitadas ou muito caladas, já sabia que algo estava fora do normal”, relatam.

O estudo articulou conhecimentos de anatomia, fisiologia, etologia, sanidade e manejo, proporcionando uma compreensão prática e integrada da produção animal. Para a professora Francislete Melo, orientadora do projeto, essa vivência amplia o senso crítico dos futuros profissionais:

“Foi possível enxergar como práticas simples podem impactar diretamente o bem-estar das aves e, consequentemente, a qualidade do alimento que chega à mesa. Esse olhar técnico e sensível é o que buscamos formar na universidade.”

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Comunicação científica com linguagem acessível

Como desdobramento da pesquisa, o grupo criou o AgroVet, um podcast disponível no YouTube que traduz o conhecimento acadêmico em conversas acessíveis com professores, produtores e especialistas. A proposta é popularizar informações técnicas e aproximar estudantes, profissionais e a sociedade de temas fundamentais para o futuro da alimentação.

Os episódios abordam desde manejo de pequenas criações e agroecologia, até políticas públicas para agricultura familiar e o papel da mulher no campo.

“Quando escolhemos um produto vindo de um sistema respeitoso, incentivamos uma cadeia que valoriza o bem-estar animal, o meio ambiente e a saúde pública. É um ciclo, e o médico-veterinário tem papel essencial nesse equilíbrio entre técnica, viabilidade e ética”, concluem as estudantes.

A pesquisa mostra que a escolha do que se coloca no prato não é apenas uma questão de paladar, mas de consciência — e que, por trás de um simples ovo, pode haver todo um sistema de produção que merece ser visto com mais atenção.

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