ÁLBUM ESSENCIAL

Room on Fire: o dilema dourado dos The Strokes

Quando o sucesso espreita, a genialidade se refugia na sofisticação do caos

Room on Fire: o dilema dourado dos The Strokes

Na série “ÁLBUM ESSENCIAL” desvendamos discos que funcionam como cápsulas do tempo e marcos evolutivos da música e hoje chegamos a um paradoxo fascinante: “Room on Fire” (2003), segundo álbum dos The Strokes, obra que encapsula o tormento criativo de uma banda pressionada pelo fantasma de um debut revolucionário.

Lançado no crepúsculo do pós-9/11, em um mundo ainda atordoado pela guerra ao terror e pela erosão da inocência dos anos 1990, o disco é um retrato da ansiedade de uma geração que cresceu entre o cinza de Nova York e o brilho artificial da fama. Se “Is This It” (2001) foi o tiro de partida do revival do rock garage nos anos 2000, “Room on Fire” é o momento em que a bala ricocheteia: os Strokes não queriam repetir a fórmula, mas também não podiam fugir dela.

Aqui, a banda aperfeiçoa sua dicção sonora , guitarras cortantes como navalhas, bateria frenética, o vocal embriagado de Julian Casablancas, mas acrescenta camadas de síntese eletrônica, melodias new wave e uma melancolia mais madura. É um disco mais quente e mais frio ao mesmo tempo, como o título sugere: um incêndio contido, ardendo por dentro.

O repertório é um estudo em economia criativa. Nenhuma faixa ultrapassa os quatro minutos, mas cada uma delas contém universos inteiros. “Meet Me in the Bathroom” captura a decadência hedonista da cena musical nova-iorquina com uma crueza que anteciparia o interesse posterior de Casablancas pela produção minimalista. “The End Has No End” mostra a banda flertando com sintetizadores sem jamais perder sua essência garage.

E “Automatic Stop”, talvez a canção mais emocionalmente complexa do disco, prova que os Strokes poderiam escrever baladas sem cair no clichê, é uma canção sobre arrependimento e oportunidades perdidas que soa ao mesmo tempo pessoal e universal.

Recepção e legado

À época, “Room on Fire” dividiu a crítica: alguns o chamaram de “Is This It 2.0”, outros viram nele um passo à frente. O público, porém, adotou o disco como um clássico instantâneo – vendeu bem, mas sem o estrondo do predecessor.

Anos depois, sua reputação só cresceu. Artistas como Arctic Monkeys, The Killers e até Billie Eilish citam o álbum como influência. Hoje, é visto como a ponte entre o garage rock revival e a sofisticação do indie dos anos 2010.

Room on Fire é para quem...

  • Ama a dicotomia entre caos e controle, como em “Kid A” do Radiohead ou “Fever to Tell” do Yeah Yeah Yeahs.
  • Quer entender a transição do rock dos anos 2000 para a era digital.
  • Prefere discos que revelam camadas a cada audição.

Se “Is This It” foi o beijo roubado, “Room on Fire” é o casamento complicado, menos perfeito, mas muito mais interessante.

Confira Room on Fire

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