EXPLORAÇÃO SEM RETORNO

Autoridades discutem abertura do turismo em terras indígenas do Uiramutã

Empresas em Boa Vista lucram com turismo em terras indígenas sem repasse às comunidades

Reunião aconteceu nesta quinta-feira (8). Foto: divulgação
Reunião aconteceu nesta quinta-feira (8). Foto: divulgação

Representantes indígenas, autoridades locais e órgãos oficiais discutiram, nesta quinta-feira (8), os desafios e os caminhos legais para a abertura do turismo em terras indígenas no município do Uiramutã, extremo Norte de Roraima. A reunião, realizada na sede da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto (Semecd), contou com a presença de lideranças das comunidades, secretários municipais, vereadores, representantes da Funai e do Departamento Estadual de Turismo (Detur).

Apesar do crescente interesse turístico pela região — considerada a mais indígena do Brasil —, na reunião, houve denúncia da atuação de empresas em Boa Vista que comercializam pacotes de visitação a territórios indígenas sem qualquer consulta ou retorno financeiro às populações locais.

A pauta da reunião girou em torno da regulamentação do turismo nas terras indígenas, como prevê a Instrução Normativa nº 3/2015 da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que estabelece normas para atividades turísticas nesses territórios. A normativa determina que qualquer visitação depende de autorização da própria comunidade ou da Funai, respeitando a autonomia dos povos originários.

Gilmar de Souza (Funai), responsável pelo acompanhamento do turismo em terras indígenas de Roraima. Foto: divulgação

Gilmar de Souza Pinto, representante da Funai responsável pelo acompanhamento do turismo em terras indígenas de Roraima, destacou que o processo precisa partir do interesse das próprias comunidades.

“Antes de qualquer coisa, é necessário consultar as lideranças e, em assembleia, discutir a possibilidade de abrir a comunidade ao turismo. Se houver consentimento, deve-se elaborar um plano de visitação com orientações claras sobre o que é ou não permitido ao turista. Além disso, é fundamental a formação de guias locais e a realização de oficinas sobre o tema”, explicou.

Gilmar alertou ainda que várias empresas já comercializam pacotes para áreas do Uiramutã, sem qualquer tipo de autorização da Funai ou das comunidades envolvidas. O debate evidenciou a urgência de uma regulamentação clara que assegure o protagonismo indígena na gestão do turismo e garanta que os benefícios dessas atividades retornem diretamente às populações locais.

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Pauta discutida em assembleia indígenas

A chefe de gabinete da Prefeitura, Erlize de Souza, explicou que a pauta já foi colocada para ser discutida em assembleias promovidas por organizações indígenas, mas na maioria das vezes as lideranças e tuxauas a rejeitaram, justamente por falta de legalidade e outras implicações jurídicas.

“É bom frisar que o prefeito Benísio respeita a decisão que sai dessas assembleias. Ele também segue o protocolo de consulta da Raposa Serra do Sol. Então, o turismo não depende apenas da prefeitura. Na região das Serras, por exemplo, os indígenas aprovaram uma ata e já iniciaram uma discussão sobre a possibilidade de visitação e do etnoturismo. Acredito que agora, com a mediação de outros órgãos públicos, as coisas andem”, ressaltou Erlize.

O tuxaua-geral da região das Serras, José Sabino, falou da instrução normativa da Funai e adiantou que o Conselho Indígena de Roraima (CIR) já trabalha na elaboração de um plano que posteriormente será enviado à Funai. “É bom lembrar o seguinte: se o turismo não for aprovado e legalizado pelas comunidades torna-se invasão. A visitação deve beneficiar nossas comunidades”, frisou José Sabino, que vai trabalhar como mediador junto às comunidades indígenas.

Participaram da reunião os secretários municipais Silas Cavalcante Abelardo (Meio Ambiente e Turismo), José Novais Pereira da Silva (Articulação Política), Eloíza Cavalcante de Lima (Administração), Erlize José de Souza (chefe de Gabinete), os vereadores Cizimar da Água Fria (Cidadania) e Greyce Brasil (PP), além do presidente do Conselho Municipal de Turismo, Abraão Nonato Araújo, o tuxaua-geral da região das Serras, José Sabino, e representantes do Detur.

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