
Após a morte do Papa Francisco no último dia 21 de abril, o Vaticano se prepara para iniciar, em 7 de maio, o conclave que definirá seu sucessor. Enquanto os 133 cardeais eleitores (provenientes de 71 países) se isolam na Capela Sistina, o filme Conclave (2023) ganha relevância por retratar justamente esse ritual secular. Mas até que ponto a ficção se alinha à realidade?
Segundo B. Kevin Brown, professor de Estudos Religiosos da Universidade Gonzaga (EUA), o longa dirigido por Edward Berger “faz um trabalho razoável” ao reproduzir os aspectos formais do processo. As cenas de votação, por exemplo, mostram cardeais depositando cédulas em um cálice – detalhe confirmado pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA – e a queima das cédulas com produtos químicos que geram fumaça preta (sem decisão) ou branca (novo papa eleito). A duração média de três dias, retratada no filme, também reflete a prática dos últimos conclaves, como os de 2005 e 2013.
Porém, o filme não resiste a certas licenças dramáticas. Brown aponta imprecisões nos trajes clericais, como colarinhos “não totalmente corretos”, e uma missa pré-conclave sem altar.
De acordo com o estudioso, a trama também exagera ao mostrar o cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes) recebendo informações externas durante o isolamento. Na realidade, os cardeais são proibidos de ter contato com o mundo exterior, sem acesso a telefones ou notícias. “Isso violaria as regras do conclave”, reforça Brown.
Um dos momentos mais controversos do filme envolve a chegada do cardeal Vincent Benitez (Carlos Diehz), nomeado “in pectore” (em segredo) pelo papa falecido. Segundo o direito canônico, se a identidade de um cardeal secreto não for revelada antes da morte do pontífice, seu título expira imediatamente – como ocorreu com um dos quatro cardeais secretos de João Paulo II, cujo nome jamais foi divulgado. No filme, porém, Benitez consegue participar da eleição, um cenário considerado impossível na vida real.
As intrigas pessoais também são amplificadas. O cardeal Joshua Adeyemi (Lucian Msamati) enfrenta acusações de paternidade secreta, enquanto Joseph Tremblay (John Lithgow) é envolvido em suspeitas de simonia (venda de cargos eclesiásticos). Brown explica que, embora escândalos sejam investigados antes do conclave, rumores podem surgir – como ocorreu em 2013, quando circularam boatos de que o então cardeal Bergoglio (futuro Francisco) tinha apenas um pulmão, história que ele mesmo desmentiu.
Na prática, casos reais mostram como a Igreja lida com controvérsias. O cardeal Angelo Becciu, por exemplo, foi excluído do conclave de 2025 após condenação por crimes financeiros, decisão confirmada por cartas do Papa Francisco divulgadas na mídia italiana. “Há politicagem, mas os cardeais buscam resolver questões delicadas antes do isolamento”, destaca Brown.
Conclave: Conheça o filme
Conclave acompanha o cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes), encarregado de liderar a eleição papal após a morte do pontífice. Enquanto os votos se sucedem na Capela Sistina, segredos enterrados emergem: um candidato é acusado de corrupção, outro de um relacionamento proibido, e um terceiro surge como um cardeal misterioso nomeado em segredo. Com um elenco estelar – incluindo John Lithgow e Carlos Diehz –, o filme mergulha em uma teia de poder, fé e moralidade, questionando até onde a instituição pode esconder suas falhas. Conclave está disponível na Amazon Prime.