JESSÉ SOUZA

Devolução de animais à natureza e o caso das araras com fim trágico em Tepequém

Arara que era conhecida como Laura foi a segunda a morrer eletrocutada em fios de alta tensão, em Tepequém

A Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) promoveu uma diligência no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto Brasileiro dos Recursos Renováveis e do Meio Ambiente (Ibama) em Boa Vista, nesta quarta-feira, 30, com a finalidade de averiguar a estrutura daquele local que recebe animais resgatados, apreendidos e também aqueles entregues espontaneamente para que possam ser devolvidos à natureza, posteriormente.

Embora seja essencial verificar a estrutura do Cetas e como estão sendo realizadas as atividades pelos profissionais, uma séria questão tem passado ao largo das autoridades: a destinação de animais que eram domesticados, especialmente as aves. A questão é que essas aves devolvidas à natureza acabam tendo um fim trágico, a exemplo do que tem ocorrido com araras e outras aves na Serra do Tepequém, no Município de Amajari, Norte de Roraima.

O caso mais recente foi de uma arara-canindé,  batizada de Laura, que morreu eletrocutada na Vila do Paiva, no mês passado, repetindo o destino de outra arara vermelha anterior, esta que ficou completamente carbonizada ao receber uma descarga no fio de alta tensão da rede elétrica, restando apenas o anel metálico que ela carregava como identificação. Em outro caso, uma arara vermelha teve que ser recolhida de volta porque estava atacando e provocando sérios ferimentos nas pessoas que tentavam contato direto com o animal.

Essas aves domesticadas acabam criando um laço afetivo com os moradores de Tepequém, pois passam a frequentar as residências e locais públicos em busca de alimentos, se tornando também atração de turistas. E quando ocorrem esses acidentes, o fato trágico provoca uma comoção nas pessoas. Desta última vez, chegou a abrir uma discussão na comunidade sobre a destinação dessas aves, que são soltas em uma área de preservação, mas que acabam indo parar na área urbana por não mais se adaptarem à vida na natureza.

Em situação semelhante, aves e outros animais soltos na natureza acabam se tornando alvos fáceis de predadores, tendo um fim rápido e trágico, o que poderia ter sido diferente se fossem levados a criadores credenciados, a exemplo do Bosque dos Papagaios e do 7º Batalhão de Infantaria de Selva, ambos em Boa Vista.

Esses casos acabam não chegando ao conhecimento das autoridades, por isso seria essencial que os animais devolvidos à natureza fossem melhor acompanhados para que não haja uma destinação com fim trágico, a exemplo do que tem ocorrido em Tepequém. E o que seria uma ação de proteção da fauna silvestre acaba se tornando uma tragédia final para animais que eram domesticados e não podem mais ser devolvidos à natureza.

A diligência feita pelo Ministério Público apontou que o Cetas abriga atualmente 250 animais, entre jabutis, várias espécies de pássaros, tamanduá e macaco, conforme foi divulgado para a imprensa. Mas aquela unidade chega a receber entre 1.500 e 2.000 animais por ano. Então, é necessário que se observe com mais atenção e rigor a devolução de animais à natureza, especialmente a aves que acabam sendo libertadas na Serra do Tepequém. Até aqui, a experiência tem sido trágica.

*Colunista

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