ANA PAULA LIMA
Colaboradora da Folha
Durante 20 anos, o cigarro foi companheiro do motorista Eleuso Pedroso. Na época em que começou a fumar, aos 14 anos, acreditava que a prática não traria malefícios a longo prazo porque pouco se falava sobre o assunto. Aos poucos, ele foi percebendo que a influência dos amigos teve um peso grande na vida, principalmente porque começou a associar o tabagismo com bebida alcoólica.
“Antes era moda, íamos às festas e pensávamos que aquilo era charme. Decidi parar porque quando eu bebia me dava vontade de fumar, além disso, foi incomodando também no ambiente de trabalho. Meus chefes não gostavam que eu fumasse no pátio, então passou a ser incômodo para os outros”, relembrou.
O processo de largar o cigarro foi um desafio enorme para o motorista, que também tinha que lidar com a opinião de amigos e familiares sobre o vício e resistir à vontade de colocar o cigarro na boca. Entre os desafios, Pedroso também sentia limitações na respiração, que ele definia como um “peso” e que começava a afastar as pessoas de sua vida por conta do cheiro de cigarro.
Hoje, quase 16 anos depois, o motorista não pensa em voltar a fumar e garante que tem uma qualidade de vida melhor. “Eu sempre falo que agora é a geração saúde. Cigarro e bebida alcoólica não fazem bem. Se quiser ter uma saúde boa, não use isso. Não faça que nem eu, que já passei dos 40 [anos] e comecei a dar valor à saúde só agora. Tem que cuidar enquanto é cedo”, completou.
A história do Eleuso é mais uma entre milhares de pessoas no Brasil que entram no vício do cigarro e deixam arrastar por décadas a dependência do tabagismo. Entretanto, largar o fumo é muito mais difícil do que parece e para tentar dar suporte a essas pessoas, foi criado o Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado hoje, 29 de agosto.
Por dia, 428 brasileiros morrem por causa do cigarro
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o planeta. Anualmente, seis milhões de pessoas no mundo morrem devido ao cigarro. Por dia, 428 brasileiros morrem por causa do cigarro. Ainda segundo a OMS, no Brasil, 75% dos fumantes tiveram contato com o tabaco antes dos 18 anos.
As ações para combater o fumo em Roraima são realizadas pelas Unidades Básicas de Saúde e também pelo Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS AD) que fazem atendimentos gratuitos para vencer a dependência química.
De acordo com o gerente do Departamento de Políticas de Saúde Mental da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Renato Amaral, o serviço é oferecido também no Hospital Coronel Mota, que faz o acolhimento e depois designa para o tratamento correto.
“É feito, primeiro, um apoio psicológico e depois a parte medicamentosa quando há necessidade porque quando o indivíduo para de fumar ele fica extremamente ansioso. Fazemos essas ações durante o ano inteiro. O primeiro passo é a pessoa querer parar de fumar, onde ela possa procurar um profissional da área e conseguir”, disse o gerente.
Conforme Renato Amaral, as atividades também são feitas dentro das escolas para ampliar o debate e conscientizar os danos causados pelo cigarro. Porém, o gerente afirmou que não houve campanha durante o mês de agosto com a justificativa que o período eleitoral poderia influenciar.
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Tabagismo causa impotência sexual
Conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a dependência do tabagismo faz com que fumantes homens percam 6,12 anos de vida e as mulheres fumantes percam 6,71 anos de vida.
A médica Jérula Lima explicou que o tabagismo é visto como uma doença que causa dependência física, psicológica e comportamental igual a outras drogas ilícitas. A nicotina, ao ser inalada, produz alterações no Sistema Nervoso Central, estimulando a sensação de prazer para o fumante, que com o passar do tempo tem a necessidade de consumir mais cigarros para atingir o mesmo efeito.
Contudo, o uso de cigarro expõe a diversas substâncias tóxicas que causam câncer e também aumentam o risco de contrair doenças crônicas que podem levar à invalidez e até à morte.
“Muitas pessoas utilizam o cigarro esporadicamente, acreditando que o consumo não é prejudicial. Entretanto, mesmo o uso infrequente causa danos à saúde e pode levar à dependência”, disse.
A médica completou ressaltando que o tabagismo pode levar a doenças respiratórias, impotência sexual e infertilidade. A combinação de uso de anticoncepcionais e cigarro aumenta as chances de trombose nas mulheres.
“Equivocadamente muitas pessoas acreditam que o tabagista é um ‘não deixa de fumar porque não quer’. Não é isso. Na verdade ao tentar deixar de fumar, a pessoa apresenta grandes desconfortos físicos e psicológicos que trazem sofrimento e que podem impor a necessidade de várias tentativas até que finalmente consiga abandonar o cigarro”, afirmou.
Narguilé é mais prejudicial que o cigarro
O narguilé é um dispositivo no qual o tabaco é aquecido e a fumaça por um filtro de água para ser aspirada pelo fumante por meio de uma mangueira. Bastante utilizado por não parecer tão prejudicial, o narguilé é considerado mais prejudicial à saúde por concentrar maior quantidade de substâncias.
Uma sessão de uso expõe o fumante à inalação da fumaça por um período maior do que o cigarro e pode equivaler ao uso de 100 a 200 cigarros. “Propicia o desenvolvimento de câncer de pulmão, doenças respiratórias e cardíacas, também causando dependência. Além disso, apresenta riscos de doenças infectocontagiosas devido o compartilhamento do bocal entre os usuários, como herpes, hepatite C e tuberculose”, garantiu a médica Jérula Lima.
Prefeitura não informa quais atividades realiza
Durante a apuração da matéria, a reportagem da Folha entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista para saber quais são as atividades de combate ao fumo dentro das Unidades Básicas de Saúde, além de questionar se haveria uma programação especial para comemorar a data do Dia Nacional de Combate ao Fumo. Foi enviado um e-mail para a Secretaria Municipal de Comunicação no dia 27 de agosto solicitando as informações. Até o fechamento desta matéria, a prefeitura não respondeu e não deu outros esclarecimentos sobre o assunto. (A.P.L)
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