O fluxo de imigrantes venezuelanos cruzando a fronteira em direção à Boa Vista tem aumentado cada vez mais. Segundo estimativas da Polícia Federal, cerca de 30 mil pessoas já adentraram Roraima. A situação de vulnerabilidade estimulou o trabalho social de diversas entidades, que atuam para garantir melhores condições de vida para estas pessoas. Uma destas organizações é o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), uma agência que atua em 130 países desde a década de 1950.
Em entrevista ao Programa Agenda da Semana, na Rádio Folha AM 1020, no domingo, o oficial de meios de vida da Acnur, Paulo Sergio Almeida, e o chefe do escritório da agência em Roraima, Pablo Mattos, falaram sobre o trabalho da entidade junto aos venezuelanos e o apoio que vem prestando a entidades que já atuam nesse sentido, como o poder público por meio do Governo do Estado.
“A agência foi criada para lidar com emergências, deslocamento de pessoas que saem de um país em razão de perseguições, guerras, violência, enfim, problemas que levam elas a deixar seu país de origem em busca de proteção. É uma agência salva-vidas que visa amenizar os problemas que essas pessoas enfrentam nestes deslocamentos, visa protegê-las e atuar junto aos governos para que garantam que essas pessoas sejam acolhidas, recebidas e protegidas para que não tenham que ser devolvidas para o local de origem”, explicou Almeida.
Ele lembrou que a Acnur está presente em 130 países. “Atuamos frente a todas as grandes emergências que assolaram a história da humanidade a partir de 1950. Com a questão do fluxo de venezuelanos, não só no Brasil, mas também em outros países que fazem fronteira com a Venezuela como a Colômbia, as ilhas caribenhas e outros países. A Acnur então reforçou a sua atuação no Brasil e estabeleceu a partir junho deste ano presença com um escritório em Boa Vista”, detalhou.
“É claro que o Estado Brasileiro atua de maneira articulada entre as esferas federal, estadual e municipal. Essa responsabilidade se dá na medida de competência de cada um desses órgãos governamentais. Nosso papel é apoiar, seja no ponto de vista técnico, de capacitação e estruturação, mas também no complemento de ações onde esses governos tenham um pouco mais de dificuldade em atuar”.
O chefe do escritório em Roraima, Pablo Mattos, afirmou que a Acnur deve permanecer enquanto houver esse fluxo de imigração. “Iniciamos os nossos trabalhos em 12 de junho e vamos ficar enquanto for necessário. Temos trabalhado com o Estado brasileiro nas três esferas e com entidades da sociedade civil. Nossa operação envolve diversos eixos de atuação. O principal é o registro e identificação das pessoas e o abrigamento destas. O papel da Acnur é desenvolver uma atmosfera favorável”, relatou.
A Acnur tem atuado junto ao Governo Federal na elaboração de um plano de contingência. “Trouxemos especialistas em abrigamentos e ajudamos o governo a atuar nesse sentido para a construção de abrigos em padrões internacionalmente aceitos. Também trouxemos especialistas em gestão de abrigos e, por fim, temos tentando complementar esse esforço dos governos”, disse Mattos.
Além do trabalho técnico, a agência fornece kits de higiene, material de limpeza, colchonetes e mosquiteiros. “Já estamos atuando no melhoramento da estrutura destes locais para onde os imigrantes que ocupavam a rodoviária foram deslocados. Já estamos para tentar fornecer condições dignas. Colocamos filtros de água, materiais de higiene pessoal, entre outros itens”, listou.
O trabalho social também é um dos pontos de atuação da agência da ONU. “Temos ações voltadas para mulheres, crianças, indígenas que são populações vulneráveis que chegam com esse fluxo. São populações vulneráveis que chegam junto com esse fluxo. Cada um tem uma necessidade específica que tentamos atender”, afirmou o chefe do escritório.
PESQUISA – A estimativa é que este ano cerca de 15 mil pessoas fizeram pedido de refúgio em Roraima e mais ou menos 2 mil pedidos de residência temporária. A Acnur fez uma pesquisa junto com a UFRR, que mapeou o perfil sociodemográfico laboral dos venezuelanos não indígenas. Os dados apontam que 60% das pessoas entrevistadas têm alguma atividade remunerada. “É óbvio que a grande questão é que boa parte dessa atividade é no mercado informal. Os valores pagos são preocupantes, pois são sempre inferiores ao salário mínimo. O número de venezuelanos acessando o mercado de trabalho informal vem crescendo”.
DOAÇÕES – A Acnur é mantida com base em doações, seja do governo, órgãos privados, sociedade civil, pequenos, médios e grandes doadores. “É assim aqui e em qualquer outro país onde a Acnur atua. Quem tiver interesse em colaborar pode acessar o nosso portal na internet no endereço http://www.acnur.org e verificar a melhor maneira de contribuir.