Pelos menos 75 pessoas que estão na fila de espera para fazer exames e cirurgias cardíacas no Hospital Geral de Roraima (HGR) estão sem opção, pois o único aparelho de hemodinâmica do Estado está quebrado há quase um mês. A denúncia foi feita ontem pelo presidente do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM/RR), Alexandre Marques. Ele alertou: “Vidas estão em jogo”.
“Recebemos a denúncia de médicos do Serviço de Cardiologia Invasiva do Centro de Diagnóstico por Imagem [CDI] de que o único aparelho de hemodinâmica do Estado está quebrado há quase um mês. Resolvemos fazer uma visita ao local para ver de perto o drama dos médicos que não podem trabalhar pela falta do equipamento e dos pacientes que aguardam uma resolução do problema o mais urgente possível”, frisou. A visita ocorreu na manhã de segunda-feira juntamente com a vice-presidente do CRM/RR, Francinéia Moura.
O aparelho é responsável por vários procedimentos cardiológicos invasivos como arteriografia, angioplastia, implante e troca de marca-passo, cateterismo e estudo eletrofisiológico. Sem funcionar, é impossível qualquer procedimento cirúrgico. “Sem esse equipamento é impossível fazer qualquer procedimento cardíaco. Temos uma fila de espera de 75 pacientes, inclusive alguns com risco iminente de morte, que estão internados no HGR com quadros cardiológicos gravíssimos e sem perspectiva de realização de qualquer procedimento”, afirmou. “Os médicos estão angustiados com a situação porque os pacientes estão em risco de morte iminente”.
Diante da situação, o presidente do CRM informou que enviou ofício ao secretário estadual de Saúde, Stênio Nascimento, ao procurador da República em Roraima, Ígor Miranda, promotor de justiça, Zedequias de Oliveira Júnior, e ao conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Joaquim Sotto Maior.
No relatório, o presidente do CRM pede urgência na transferência dos pacientes com casos considerados mais graves através de TFD (Tratamento Fora de Domicílio) ou que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) contrate urgentemente os serviços particulares dos procedimentos em clínicas locais, além da substituição ou conserto de equipamento e a instalação do novo aparelho de hemodinâmica, que se encontra armazenado no Departamento de Serviços Gerais (DSG) do Governo do Estado.
Alexandre Marques afirmou que durante a fiscalização ao CDI, os médicos do Serviço de Cardiologia Invasiva solicitaram providências urgentes, já que, sem o equipamento, foram cancelados vários procedimentos cirúrgicos agendados e até de urgência foram cancelados. “São vidas que estão em jogo e não podem esperar mais”, frisou.
SESAU – Em nota, a assessoria de imprensa da Sesau informou que, em relação aos serviços prestados pelo CDI, a direção afirmou que foi detectado problema em uma peça de comando do aparelho de hemodinâmica e que imediatamente a empresa responsável pela manutenção foi acionada para fazer o reparo.
Devido à necessidade de substituição da peça, a empresa solicitou 20 dias para fazer o serviço e, por conta da indisponibilidade de oferta da peça no mercado nacional, por se tratar de um equipamento com peça importada, a empresa solicitou ampliação do prazo para mais 10 dias, que deverá vencer até o fim desta semana.
Em relação aos pacientes, a Sesau alegou que os casos graves estão sendo assistidos de acordo com a indicação médica de urgência e que “não descarta a liberação de TFD de acordo com a análise do médico especialista”. Afirmou que os demais casos que não apresentam risco de morte serão reagendados para posterior atendimento, tão logo a situação seja normalizada. (R.R)
Aparelho que custou R$ 4,3 milhões está guardado na caixa há cinco anos
O presidente do CRM, Alexandre Marques, informou que o aparelho de hemodinâmica que apresentou defeito tem mais de 20 anos de uso e que não tem mais condições de reposição de peças. Relatou ainda a existência de outro aparelho de hemodinâmica que ainda encaixado e armazenado no Departamento de Serviços Gerais (DSG) do Governo do Estado.
“Esse equipamento foi adquirido pelo Governo do Estado em 2009 e nunca foi instalado”, frisou Marques. Conforme as notas fiscais às quais a Folha teve acesso, o aparelho foi adquirido em setembro de 2009 e custou mais de R$ 4,3 milhões aos cofres do Estado. A Sesau não se pronunciou sobre este assunto.
Um documento endereçado ao gabinete do HGR, datado do dia 13 deste mês, informava que o equipamento do CDI estava em pane desde o dia 30 de outubro e pedia providências. No mesmo dia, a direção do HGR encaminhou o documento à Sesau. Até ontem nenhuma providência havia sido tomada.
TFD – Da lista de 75 pacientes que aguardam por procedimentos no Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI), para cinco deles foi solicitada urgência para liberação do Tratamento Fora de Domicílio (TFD).
A Folha teve acesso a um documento enviado no dia 11 deste mês por um dos médicos do CDI para a direção do HGR que consta os nomes dos pacientes e os procedimentos urgentes a que deveriam ser submetidos, entre eles a implantação de marca-passo, espera de cateterismo e até “risco iminente de morte”.
O relatório do CRM aponta ainda que outras áreas do CDI estão funcionando normalmente na realização de exames, como mamografia e tomografia. “No quesito limpeza, o CDI se encontram em perfeitas condições de higiene e iluminação adequada para o ambiente de trabalho”, destacou. (R.R)
Cotidiano