A baixa produção de bananas fez com que boa parte do produto consumido pelos roraimenses venha de outros estados, como da Bahia, no Nordeste, do Mato Grosso, no Centro-oeste, e de Minas Gerais, no Sudeste. O resultado da importação é a disparada nos preços do produto. Nos primeiros meses do ano, o aumento foi de 64,48% em Roraima. Somente em fevereiro, a elevação foi de 22,07% e em abril 22,98%, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Um dos fatores que contribuíram para o cenário atual foi a estiagem que afetou o Estado. As plantações foram prejudicadas e a escassez de banana nas feiras e supermercados se tornou uma realidade logo no primeiro semestre. Para suprir a demanda, mercados, feirantes e donos de frutaria são obrigados a importar. O custo com o transporte da mercadoria afeta diretamente os preços.
Hoje, o quilo da banana-maçã trazida da Bahia pode ser adquirido a R$ 8,00 nas feiras e em supermercados por aproximadamente R$ 9,00. A mesma quantidade de banana-nanica está saindo por cerca de R$ 9,50. “Já é o quinto mês que trazemos o produto da Bahia para comercialização em Boa Vista”, disse o gerente de um supermercado, Osimar Nascimento, ao apostar na produção agrícola local, para ampliar a oferta no mercado. “O bom é que haja concorrência, porque quanto mais bananas no mercado, menor o preço”, comentou o gerente.
Já a banana-prata, também trazida de outros estados, é um pouco mais barata. No entanto, o preço atual – de R$ 6,00 pelo quilo nas feiras e cerca de R$ 7,00 nos supermercados – é considerado alto se comparado ao valor de R$ 3,50 praticado até o ano passado. A feirante Francisca Fernandes, 52, trabalha exclusivamente com bananas há 19 anos na Feira do Produtor, localizada no bairro São Vicente. Ela disse nunca ter visto situação como a atual.
“A primeira remessa importada chegou no dia 24 de abril, numa época em que raramente se encontrava a fruta. O preço aumenta, porque é a lei da procura e da oferta. Não tem banana local, temos que trazer e há o custo com frete, o que encarece ainda mais. Formei meus filhos vendendo banana e nunca vi isso”, disse Francisca, ao informar que o produto demora oito dias para chegar em Boa Vista, depois de percorrer quilômetros por estrada e em vias fluviais pelos rios da Amazônia.
Segundo ela, o estado de origem depende do tipo da fruta. “A banana-maçã, por exemplo, vem de Mato Grosso”. A feirante informou que o produto chega até Rondônia (RO), ou Santarém (PA), por meio de estradas. Depois, o transporte é feito de barco até Manaus (AM) e, em seguida, pela BR-174 até Boa Vista. “Durante todo o percurso, o estoque é mantido em ambiente refrigerado”, comentou, ao mostrar o recém-chegado carregamento de banana.
A Folha percorreu os corredores da Feira do Produtor e, dos dez vendedores exclusivos de bananas, apenas a feirante Zíbia Pereira de Andrade, 40 anos, estava vendendo o produto produzido em Roraima. Ela atua na feira há 17 anos e considera a banana regional mais saudável por ser produzida de maneira mais natural, sem utilização de agrotóxicos. “Agora que começaram aparecer as primeiras frutas plantadas aqui”, disse, ao acreditar que a produção regional pode não ter sucesso nos próximos meses. “Muitos produtores não querem mais investir temendo novos prejuízos”, considerou.
Para ela, os agricultores poderiam ser incentivados pelo Estado. “Não era para precisar desta banana de fora se houvesse apoio do poder público para a plantação roraimense, com investimentos em mecanismos de irrigação e outros”, frisou. Com as chuvas de inverno, a banana regional volta a ocupar timidamente espaços nas feiras. Apesar da elevação nos custos nos primeiros meses do ano, o Dieese registrou em junho queda de 3,63% no preço da banana, que é considerado um dos itens da cesta básica. (A.D)
Governo do Estado assegura que incentiva produção
Sobre a produção de banana em Roraima, o secretário-adjunto de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Francisco Wolney Costa, disse que os produtores são incentivados por meio de diversas iniciativas. Uma delas são os escritórios que existem nas cidades do interior, com profissionais ligados à agricultura, como técnico agrícola e engenheiro agrônomo, que prestam assistência especializada aos agricultores. “Eles fazem visitas e oferecem orientações importantes e necessárias para plantações e utilização do solo”, informou.
Outra ação realizada, de acordo com Costa, é a construção de cacimbas para facilitar o fornecimento e a utilização da água. “As cacimbas podem minimizar as consequências negativas dos efeitos climáticos, como a seca que ocorreu em Roraima, quando muitos produtores perderam suas plantações, principalmente os bananais, que queimaram ou secaram. Para as pessoas que perderam a produção com a estiagem, forneceremos mudas frutíferas, inclusive de banana. É uma maneira de apoiar o agricultor e recuperar a produção”, comentou.
Com relação à irrigação, ele disse que a implantação deste mecanismo deve ser realizada pelo próprio dono da terra. “No entanto, o Governo do Estado presta toda a assistência de acesso ao crédito bancário para que o agricultor possa realizar os investimentos necessários com irrigação”, disse Costa, ao informar que desde 2015 é mantida a Agência de Fomento (Aferr), com disponibilidade de recursos estaduais para financiamentos destinados ao pequeno produtor, com juros abaixo do mercado.
Ele citou também o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Governo Federal, desenvolvido pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Com o PAA, é feita a aquisição de produtos de agricultores que não tiverem a oportunidade de comercializar toda a produção. “Adquirimos esses alimentos plantados no Estado para serem utilizados na merenda escolar”, explicou.
Mesmo com os investimentos, Wolney Costa reconheceu que muito ainda precisa ser feito para que a agricultura em Roraima avance nos próximos anos. “Ainda não é o ideal, mas hoje esses investimentos existem”, avaliou. (A.D)