SE O PAPAI NOEL NÃO FOR VAMOS NÓS
Wender de Souza Ciricio
No mundo dos desvalidos vivem muitas pessoas que pouco tem para comer, vestir e se divertir. O local de morada desse povo costuma ser chamado de favela, invasão, cortiço, periferia, gueto, subúrbio e morro. Vivi em algumas dessas “repartições” e foi nelas que experimentei na pele os percalços e as enormes tribulações que pode um desfavorecido passar. Materialmente a vida de minha família sucumbia à insegurança. A criatividade culinária de minha mãe nos favorecia no sentido de ter o que se alimentar, ora um biscoito frito e ora bolinhos de arroz. Com a força bruta de meu pai e o esforço conjunto de meus irmãos conseguíamos superar as carências construídas pela pobreza. Porém não é assim com todos que vivem sob o status de plebeus ou de pobres desprovidos do básico e essencial. Muitos abrem suas velhas geladeiras e ali se deparam com algumas garrafas de água e para por ai, pois é só isso mesmo, pronto, acabou. Nada mais e nada menos.
O que pega é: que conexão dessa fala com o Papai Noel? Opa, não deveria ser: que conexão o papai tem com essa fala? Mais ainda: Que conexão o Papai Noel tem com esse mundo do cortiço, da carência e da pobreza? Por parte de quem ali vive o sonho de ver, de ter, de poder estar ao lado do Papai Noel é grande e indescritível.
Quem não gosta de estar ao lado de alguém que distribui volumosas gargalhadas, fala de paz e personifica a imagem do bem, de quem supre e dá presentes? Quem rejeitaria esse homem de vermelho que levanta a bandeira de um natal em que na calada da noite recheará as árvores de presente? Qualquer um em estado de lucidez jamais excluiria de seus sonhos um homem que na data de natal fala do bem e de bens.
O discurso do Papai Noel é veemente, insistente e abrangente, tão abrangente que chega na periferia, alcança desde o pobre ao miserável. Esse grito vermelho chega aos ouvidos dos desprovidos e eles perguntam: Será que teremos do Papai Noel uma real conexão conosco? Será que ele vem em nossa chaminé de papelão? Vai ser um encontro palpável? Podemos esperar nossos presentes, nossas comidas, o peru, a nozes, o arroz com passas e a champanhe para extravasar alegria e para poder dizer que o Papai Noel vive e é legítimo? Quantos sonhos e quantas utopias consegue o Papai Noel implantar nos corações das pessoas. O discurso do Papai Noel não é exclusivo para um grupo mas para todos, mas a visita é seletiva, é para poucos.
Muitos querem Noel, mas o Noel não vai atender todos que lhe querem. Vem natal e vai natal e vai ser assim. O natal que nossa atualidade vestiu de roupa vermelha é um privilégio que muitos não irão ver, tocar e nem de perto sentir. Para muitos vai ser mais um natal da frustração, da desilusão, da fadiga, da ansiedade, do choro e do pranto. É o natal da vítima que viu, ouviu, sonhou mas não experimentou.
O que dizer e o que fazer? Quem tem seja solidário, faça nem que seja para um e até para dois, mas faça. Se o Papai Noel não vai vamos nós. Leve um chester, um peru ou até mesmo um frango assado e faça as vezes do Noel. Diga que ele não teve como ir mas você foi. Leve uma bola, boneca, roupa, entre na periferia, na vila, no cortiço, no gueto, olhe para os lados, para sarjeta e faça acontecer, faça o desiludido sorrir, extravasar e deixe ele te abraçar. Empatia, altruísmo e calor humano é tudo de bom e é tudo que precisamos, é o melhor dos presentes. Jesus Cristo, o legítimo aniversariante, esteve em todas casas, exerceu empatia, levou presente, levou a vida, ofereceu a eternidade, levou a dimensão do celestial, levou o céu. Façamos o bem e assim feliz natal para todos.
Psicopedagogo, historiador e teólogo
Fone: (95) 98112.6086
O bonde da educação
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos”. (Pitágoras)
A preocupação com a educação vem de longe. Se o Pitágoras já se preocupava com isso, tinha toda razão. O mundo sempre viajou no bonde da educação. E de bonde não se vai longe. Então vamos saltar do bonde e pegar uma nave mental. Vamos acreditar que sem uma educação eficiente não chegaremos a lugar nenhum. Que é o que está acontecendo conosco. Os redemoinhos a que assistimos nas últimas décadas está nos levando para o fundo do poço. E olha que o poço é fundo.
A já famosa pandemia está nos levando à reflexão sobre o perigo que estamos correndo. As dificuldades que estamos enfrentando pensando mais no problema do que na política de fundo de quintal, são assustadoras. E o perigo está no fato de não percebermos isso. E não percebemos porque não fomos educados para perceber. E lá vamos nós, subindo no bonde da ignorância. Continuamos pensando que somos cidadãos brasileiros, quando na verdade o que somos é marionetes, títeres de uma política ainda incipiente.
Refleti por dois segundos e achei que nossa política não é incipiente, mas caduca. Ainda rimos dos pensamentos de políticos que nos disseram a verdade sobre a nossa política. Afonso Arinos, por exemplo, disse: “Os partidos nacionais são arapucas eleitorais e balcões de vendas”. E se não nos limitarmos à política nacional, e nos estendermos à política internacional, vamos nos afogar. Mas fiquemos por aqui, que é o que nos preocupa. Porque não sabemos nos dirigir, continuamos nos orientando por políticas sem orientação.
Ulisses Guimarães também disse: “Na câmara não há bobos. O menos esperto ficou na suplência”. Observe que o Ulisses escreveu o esperto com “s”. O que já disse tudo. O problema é que não somos expertos para entender o que ele disse. E não somos porque não nos educaram quando éramos crianças. Mas ainda somos nós, e como nós vamos cuidar de nós mesmos. Simples pra dedéu.
Mas tudo bem. Vamos cuidar de nós mesmos e fazer o que devemos fazer, para que realmente mereçamos ser cidadãos. Porque ainda não somos, e pensamos que somos. E não seremos enquanto não formos politicamente educados. Sei que estou repetitivo, mas não posso evitar. É na repetição que acabamos percebendo que não tínhamos entendido. Não estou querendo ser orientador. Estou apenas batendo um papo, expressando meus pensamentos. Mas seria
bom se começássemos a pensar no poder que temos para mudar o rumo da nossa política partidária. Vamos nos educar para podermos nos livrar da obrigatoriedade no voto. Mas precisamos merecer o voto facultativo. Pense nisso.
991251-1460