A importância dos limites na educação
Flávio Melo Ribeiro*
Lendo um texto sobre como desvirtuar a educação de uma criança, dois pontos me chamaram bastante atenção. O primeiro é “comece na infância a dar ao seu filho tudo o que ele quiser. Assim, quando crescer, ele acreditará que o mundo tem a obrigação de lhe dar tudo o que deseja.” O apelo comercial dos dias de hoje fazem com que os pais sem firmeza e esclarecimento cedam aos desejos dos filhos, passem a comprar tudo, mesmo que para isso se sacrifiquem. Fazem-no para agradar, para evitar birra, ou mesmo para não escutá-lo chorar, sem se darem conta do futuro do filho e da armadilha que estão montando para si próprios. Muitos entendem que os filhos assim agem porque são crianças e com o simples passar do tempo se tornarão adolescentes maduros e compreenderão os pais. Ledo engano, ninguém amadurece sem limites, sem compreender a consequência dos seus atos, sem vivenciar que o mundo não gira ao seu redor.
Segundo ponto: “apanhe tudo o que ele deixar jogado: livros, sapatos, roupas. Faça tudo para ele, para que aprenda a jogar aos outros toda a responsabilidade.” Me chamou atenção, não o comportamento dos pais, mas a antecipação que fiz ao procurar visualizar quem seria esse adolescente e passei a reconhecer diversos clientes, conhecidos, filhos de amigos e companheiros de esportes. Todos lidam muito bem quando todo o ambiente está equilibrado, mas na primeira dificuldade, vejo o quanto é fácil acharem culpados. A ênfase com que fazem as críticas aos demais e a facilidade de salvarem a própria imagem é algo visível, despercebido apenas a quem o faz. Muitos pais acham bonita a bagunça que os filhos fazem porque avaliam a esperteza da criança, esquecendo-se de ensinar que a bagunça também pode ser arrumada e é responsabilidade de quem fez. Porém, esses mesmos pais ficam horrorizados quando aos 18 anos o filho continua fazendo bagunça e não cuidando dos bens familiares.
Nos dias de hoje, há pais que ainda seguem teorias sem consistência que afirmavam absurdos como a necessidade de um “jardim do Éden” a todas as crianças, como se cada um tivesse o seu próprio mundo. Mas na realidade vivemos todos num único mundo, porém de forma diferente, com significados diferentes para as mesmas situações, pois temos histórias e educações diferentes. Isto contribui para ocorrerem as adversidades e atritos entre as pessoas e a falta de limite vai dificultar ainda mais a resolução deles, pois a primeira reação é a mágoa, a raiva, o embate; raramente, a compreensão, a conquista de espaço levando em consideração as consequências de seus atos e a ética.
*Psicólogo- CRP12/00449 E-mail: [email protected] Contatos: (48) 9921-8811 (48) 3223-4386
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Direitos humanos em Roraima
Vera Sábio*
Dia 10 de dezembro é comemorado o Dia dos Direitos humanos. Assunto extremamente intenso e com muitas vertentes, pois cada pessoa é diferente e única, tendo necessidades iguais a de todos, mas também com especificidades que precisam ser respeitadas e olhadas com individualidade. Afinal, o maior direito está em atender e enxergar o ser humano como humano, verificando suas particularidades.
Um exemplo sou eu mesma. Sou cega, mas trabalho, tenho autonomia e dignidade. Vocês sabem que só pelo levantamento do IBGE temos em Roraima mais ou menos 24% da população com alguma deficiência, e com certeza nem 5% destas pessoas têm trabalho digno, estudo adequado e crescimento necessário para se sentirem úteis, felizes e capazes?
Porém, somos uma quantia pequena diante do restante da população de Roraima. E para atingir mais o direito de todos, quero citar uma das diversas partes destes direitos que nosso Estado não tem.
“Temos o direito de ir e vir em todo o território nacional”.
Lá no Rio de Janeiro, se tem o direito de ir… ir às favelas, por exemplo; mas, dificilmente, tem o direito de voltar de lá com vida. E aqui em Roraima não temos o direito de ir para Manaus na hora que quisermos, afinal temos correntes que nos separam do restante do País. Enfim, alguém pode me explicar qual é o nosso direito?
O novo presidente da República disse algo interessante: “Nossas casas precisam ter janelas e portas, ou seja, segurança; afinal, não podemos deixar tudo aberto, para que entre e saia quem quiser”. Ou seja, venezuelanos e guianenses entram em nosso País “de boa”, com maior facilidade do que nós podemos ir para Manaus à noite, por exemplo. Ou mesmo irmos passear em alguma área indígena que faz parte do nosso País.
E outra perguntinha básica: na própria cidade de Boa Vista, que é a capital e por isto mais bem estruturada do que as demais do Estado, nós, pessoas com deficiência como cadeirantes, moletantes e cegos, conseguimos ir e vir com segurança nas calçadas, rampas, travessias, comércios, praças e outros lugares públicos? Afinal, a prefeitura fez um monte de reformas com valores exorbitantes e colocou sinal sonoro? Faixas e rampas adequadas e calçadas padronizadas? Ou apenas colocou pisos e mais pisos táteis sem se preocupar com a eficiência ou ineficiência deles?
Acho que não está descrito no decreto universal dos Direitos Humanos, a frase básica da Convenção da ONU com poder constitucional: “que nada seja feito por nós sem a nossa participação”. Temos o Conselho Estadual de Direito das Pessoas com Deficiência e tentamos por diversas vezes formar o Conselho Municipal de Direito da Pessoa com Deficiência, conseguindo constituí-lo em diversos municípios, mas sendo barrado no município de Boa Vista por que mesmo?
Acredite, população boa-vistense sem alguma limitação física ou sensorial: esta condição, infelizmente, pode acontecer com qualquer pessoa, sendo este índice muito crescente a cada dia e bem poucas as pessoas com deficiência que nasceram com esta condição. Ou seja, todos somos sujeitos e, ao pensar nisso, nos tornamos com maior empatia e respeito pela situação do outro que quando menos se espera pode fazer parte de nós.
Direitos humanos são direitos de todos, com a certeza de que o meu direito acaba onde começa o do outro e que para tê-lo é indispensável que saibamos cumprir nossos deveres.
Temos um dever grande com a sociedade para que ela se torne melhor. Dever de fazer nossa parte e principalmente não sermos omissos e exigir que os outros façam a parte deles.
Dever de votar em pessoas comprometidas em executar o seu papel e fazer nosso Estado e nossa cidade melhores. Como também dever de retirá-los de lá se isso não acontecer.
Somos assim responsáveis pelo que fizermos e também pelo que deixamos de fazer. Pois, muitas vezes, o mal acontece bem mais pelo que não fizermos, por estarmos acomodados e recebendo favorecimentos imorais. Pensemos nisso e não deixamos para os outros a parte que nos cabe.
*Psicóloga, palestrante, escritora, servidora pública, esposa, mãe e cega com grande visão interna.
Adquira meu livro: “Enxergando o Sucesso com as Mãos”. Cel: (95) 991687731
Blog: enxergandocomosdedos.blogspot.com.br
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Alerta contra a violência
Oscar D’Ambrosio*
Se você acredita na lei do carma, ou seja, que para toda ação na vida existe alguma reação em algum momento, assista ao filme finlandês “Euthanizer”’. Se não acredita, veja também, porque as questões ali colocadas são de tamanha força, que obrigam a rever nosso cotidiano.
A história tem como protagonista um mecânico que sacrifica profissionalmente animais. Mas o que parece aterrador é, para ele, uma forma de salvação da dor, pois somente faz isso quando chegam até ele animais que estão sofrendo. Se isso não ocorre, não causa a morte do bicho e é capaz de infringir aos humanos que maltratam o animal diversas torturas.
Concorrente pela Finlândia ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, a obra é uma grande crítica à banalização da violência. Existe um grupo de tendências neonazistas em ações preconceituosas e também uma veterinária que não se mostra muito envolvida com o sofrimento dos animais.
O conjunto é de assustar, pois o panorama que se mostra da sociedade contemporânea é de intenso despreparo para a vivência em comunidade. A relação do protagonista com o pai é uma prova disso, e as sucessivas ações agressivas de todos contra todos alertam para um futuro perigoso, em que a tolerância e a paz parecem não ter morada.
*Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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Mudando sempre
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos.” (Victor Hugo)
Há vinte e uma eternidades a Terra vive um processo de mudanças. Quando caminhamos pelos ambientes considerados naturais, observamos os resultados das mudanças. Mas não somos capazes ao analisar quantos milênios os ventos levaram para esculpir imagens inacreditáveis nas pedras gigantescas. Mas mais difícil é se considerar quantos séculos se passaram até que chegássemos ao celular. Ontem, choveu durante o dia aqui na ilha. E sem ter o que fazer, resolvi assistir à televisão. Em certo canal, assisti a um programa antigo, sobre a era Vargas, no Brasil. Olhando as imagens e o comportamento das pessoas, fiquei viajando sobre os tempos passados. Quem assistiu ao programa deve ter observado o comportamento, hoje ridículo, mas natural e elegante para a época: o então presidente, Getúlio Vargas, na varanda do prédio, fumando um charuto, provavelmente cubano.
Mudanças aparentemente fúteis. Mas não deixam de ser importantes. Desde que observemos as coisas mais simples e que nos levam às reflexões sobre as mudanças, sobretudo na nossa Educação, na nossa Cultura, e no nosso desenvolvimento. Ainda não estamos no patamar que devemos alcançar e que só o alcançaremos quando acordarmos para a racionalidade. E ser racional é não perder tempo com o que não nos interessa. Manter o foco no que nos interessa faz com que realizemos o que queremos. Simples pra dedéu. Estamos iniciando mais uma temporada, tanto na nossa política quanto na nossa Educação. E uma depende tanto da outra, quanto a outra dela. Então, vamos ver o que fizemos de errado ou de certo nas últimas eleições e refletir sobre o que deveremos fazer no futuro. Porque é assim que acertamos: aprendendo com os erros.
Estamos preocupados com a indolência no desenvolvimento humano. Mas como ela não me interessa, vou esquecê-la e me juntar aos que estão mais interessados com o desenvolvimento da humanidade. E estou certo de que você também está interessado em colaborar para o desenvolvimento. Então, vamos fazer o que devemos fazer, como deve ser feito. Então, vamos nos lembrar do Swami Vivecananda: “Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa, mas pela maneira de ele executá-la.” Vamos nos cuidar, como responsáveis pelo desenvolvimento humano. Não importa o que fazemos, o que interessa é como o fazemos. Quando alguém criticou o Thomas Edson porque ele estava demorando muito a acertar na criação da lâmpada elétrica, ele respondeu: “Eu não estou errando. Estou aprendendo como não fazer.” Aprender com os erros leva à evolução. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460