Cotidiano

PMBV derruba acampamento de ocupantes

Servidores da Emhur e da Guarda Municipal destruíram os barracões onde desintrusados de terra indígena estavam acampados

JÉSSICA LAURIE e ISAQUE SANTIAGO Colaboradores da Folha   Cerca de 80 famílias remanescentes da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, que estão acampadas em um terreno localizado às margens do Anel Viário, no final do Conjunto Cidadão, zona Oeste, desde o dia 25, tiveram suas barras de madeira e coberta por lonas destruídas pela Guarda Municipal e por funcionários da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) na manhã de ontem.
Conforme relatos dos ocupantes da área, as equipes da Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) chegaram por volta das 8h30 com vários tratores e sem nenhuma documentação que os obrigassem a retirarem-se do local. “Um rapaz chamado ‘Filé’ ordenou que todos os funcionários que estavam no local passassem  por cima de tudo, pois estávamos invadido uma propriedade privada”, disse Gorete Moura, advogada responsável pelos assentados.
“Sem ao menos me dar a chance de defesa, na qual  tentei mostrar todos os documentos que comprovavam que a nossa manifestação é legal, eles me deram voz de prisão e levaram-me para o 5º Distrito Policial (DP)”, destacou Gorete.  De acordo com a advogada, as terras são da União e as famílias estavam apenas fazendo uma manifestação pacífica e reivindicando seus direitos, pois elas não teriam lugar para morar.
Durante a destruição do acampamento,  a advogada teve o dedo polegar da mão direita torcido por um guarda municipal. Em seguida, ela registrou um Boletim de Ocorrência, no qual alega agressão física e abuso de autoridade por parte dos funcionários da Emhur e da Guarda Municipal. “Eles também levaram todos os aparelhos celulares das pessoas que tentaram registrar esse absurdo”, disse.
A Folha esteve no local logo após a saída das equipes. Conforme os invasores, que preferiram não se identificar, existe por parte das autoridades locais um “desvio de terras”. “Esse lugar é nosso. A União cedeu para que fôssemos reassentados, não tem dono. O Estado e nem o Município podem se meter aqui, não entendemos o motivo da agressão”, justificaram. “Mas eles fizeram isso em vão. Nós vamos ficar aqui até que tudo seja resolvido. Não temos onde morar  e não vou com a minha família para a rua. A única solução é invadir terras desocupadas”, disse um rapaz.
PROPRIEDADE – Conforme foi apurado pela Folha, a empresa imobiliária Amazônia Imóveis alega ser a dona da área ocupada. Na semana passada, após a invasão, a equipe de reportagem entrou em contato com Deibson Bandeira, que afirma ser o proprietário do terreno.
Segundo ele, a área já foi invadida cinco vezes em anos anteriores. “Parece que essas pessoas não aprendem. Essa é uma propriedade particular. Se fosse pública, eles ainda teriam a chance de ficar com o local, mas não é”, declarou.
Bandeira afirmou que já entrou na Justiça com pedido de reintegração de posse e ressaltou que, nas invasões anteriores, o problema se resolveu no prazo de uma semana. “O máximo de tempo que já levou para o local ser desocupado foi um mês. Tenho a certeza de que mais uma vez terei minha propriedade de volta”, afirmou.
PREFEITURA – A Folha entrou em contato com a Secretaria Municipal de Comunicação para pedir esclarecimentos em relação à presença da Guarda Municipal e de funcionários da Emhur na retirada do acampamento em uma área privada, mas não houve retorno. (JL/IS)