Cotidiano

Usuários reclamam da qualidade do serviço de transporte público

Passageiros demonstram insatisfação com o preço da passagem, a demora dos coletivos, a precariedade e a superlotação em horários de pico

Em Boa Vista, mais de 500 mil passageiros utilizam o transporte público ao mês, conforme dados da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur). Para atender a demanda, existe uma frota de 79 veículos que atende 17 linhas de ônibus na Capital. No entanto, a qualidade dos serviços ofertados e a quantidade de usuários são o motivo de inúmeras reclamações.

Para constatar as reclamações dos usuários, a equipe de reportagem da Folha foi ontem, 26, ao terminal de ônibus no centro da cidade. No local, diversos passageiros relataram insatisfação, sendo o preço da passagem, a demora dos coletivos, a precariedade, a superlotação em horários de pico e a falta de acessibilidade a pessoa cadeirante em paradas de ônibus os motivos mais citados.

Das inúmeras pessoas insatisfeitas, a pedagoga Josenia Monteiro, de 31 anos, é uma delas. Ela contou que às 6h30 pega o primeiro coletivo em direção ao trabalho, mas de forma desagradável, devido à superlotação. “É revoltante ter que esperar tanto tempo na parada, pagar uma passagem abusiva e ir ‘engavetado”, reclamou.

Ainda sobre a superlotação, a pedagoga questionou o porquê de não haver fiscalização, já que cada coletivo tem uma capacidade máxima. “Deveriam fiscalizar isso, sempre é essa situação, é um passageiro em cima do outro, sempre com mais gente do que o permitido”, disse.

Sobre a demora, Josenia contou que já chegou a esperar mais de uma hora em paradas de ônibus, principalmente nos finais de semana, quando a frota é reduzida. “Já passei mais de uma hora esperando na parada. No final de semana é pior ainda”, afirmou. Enquanto conversava com a equipe de reportagem da Folha, a passageira esperava o coletivo. Ao todo, foram 40 minutos de espera.

O passageiro sente no bolso ter que pagar R$ 3,60 por viagem. “É abusivo o preço cobrado, não tem qualidade, os horários são inconvenientes, além disso, devido à demora, a gente acaba perdendo a integração”, relatou.

A falta de informações nas paradas de ônibus também foi denunciada pela pedagoga. Para ela, deveria existir informativos com as linhas de ônibus nas paradas. “Ainda sinto dificuldades quando preciso pegar um coletivo, só tem informativo no terminal, quando preciso pegar em uma parada tenho que pedir informação das pessoas”, comentou.

Ainda sobre as paradas, a pedagoga frisou a falta de acessibilidade a cadeirantes. “Já presenciei pessoas tendo muita dificuldade pra subir nas paradas porque não tinha rampa. A prefeita [Teresa Surita] fala tanto em acessibilidade, mas, na prática, ainda falta”, observou.

A dona de casa Ivaneide Borges, 42 anos, é cadeirante e afirmou ter dificuldades quando se desloca até as paradas. Segundo ela, só não se torna mais difícil porque sempre tem um familiar para auxiliar. “Tenho que pegar de dois a quatro ônibus por dia e tem abrigo que não existe rampa, assim fica muito complicado”, lamentou.

Durante o trajeto que a equipe de reportagem da Folha fez em coletivos, o estudante Thiago Bessa, 20 anos, manifestou sua insatisfação. Ele disse perder quase quatro horas ao dia tanto na espera quanto nos trajetos do transporte público. “Pego quatro ônibus ao dia. Já cheguei a ficar mais de uma hora esperando”, disse. “A maioria dos ônibus é velha, sem qualidade. Existem poucos que têm ar-condicionado”, acrescentou.

O estudante também reclamou da atual tarifa paga. Mesmo pagando a metade, ele disse que o valor é muito alto para quem usa o coletivo diversas vezes ao dia. “Eu pago como estudante, no entanto, ainda é um valor alto pra quem só estuda”, argumentou. “Eu tenho aula todos os dias, o dia inteiro, eu opto em não ir em casa no horário de almoço para não ter que gastar mais com transporte”, finalizou o estudante.

PREFEITURA – Em nota, a Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) informou que no período de férias escolares existe uma redução natural da quantidade de passageiros, já que a maioria das pessoas que utiliza o transporte coletivo é estudante e, nesse período, a frota de ônibus é reduzida para 85%.

Reforçou que não houve denúncia referente à demora dos ônibus, mas a Emhur fará um levantamento de todas as linhas para verificar o teor da denúncia. “Ressaltamos ainda que, os usuários podem denunciar na Central 156, ou procurar a sala da Emhur no Terminal do Centro, especificando a linha em que estiver ocorrendo o atraso, para que as medidas necessárias sejam tomadas”, informou.

Ainda em nota, informou que a empresa concessionária de transporte coletivo em Boa Vista irá gradativamente substituir a frota de ônibus, uma vez que os atuais não comportam a estrutura para o ar-condicionado. Com relação a informativos, o Terminal do Centro possui informações com horários e linhas dos ônibus.

Sobre os abrigos, ressaltou que todos os novos abrigos de ônibus, que fazem parte do projeto de Mobilidade Urbana, estão sendo construídos com rampas de acessibilidade. “Ressaltamos que a Emhur está fazendo um levantamento para identificar possíveis faltas de acessibilidade nos abrigos, para posteriormente encaminhar à Secretaria de Obras para as devidas providências”, esclareceu.

Com relação à tarifa, a Emhur esclareceu que o reajuste da passagem foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Municipal de Transporte Coletivo Urbano do Município de Boa Vista e do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista, com a participação dos sindicatos. Os referidos Conselhos Municipais consideraram os vários aumentos nos preços dos combustíveis e mão de obra, pois o último reajuste aconteceu em 2015. (E.M)