Polícia

Túnel de 36 metros de extensão é encontrado na Penitenciária

A maior fuga em massa de todos os tempos estava programada para sábado, mas localização de túnel abortou a ação dos presos

Depois de um trabalho de investigação feito pela Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) da Secretária de Justiça e Cidadania (Sejuc), em conjunto com o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), foi encontrado um túnel de quase 4 metros de profundidade com 36 metros de extensão, por volta das 15h da tarde de ontem, na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc).
O buraco já havia passado o muro do presídio e faltava apenas um alambrado de proteção para que o túnel alcançasse a área externa, permitindo que se concretizasse a maior fuga em massa de Roraima, com previsão para ser executada no sábado, conforme fontes da Folha. Segundo as autoridades policiais, há quase três meses que o setor de inteligência investigava a denúncia da existência do túnel dentro da Pamc, inclusive o fato era comentado a cada motim registrado naquela unidade.
Localizado atrás da Ala 14 da Pamc, onde os presos de maior periculosidade estão, as equipes fizeram a sétima tentativa de localizar o local, conforme explicou a equipe de inteligência da Polícia Militar.  “A diferença é que desta vez nós tínhamos a informação de que aquele era o local exato”, frisou o titular da Sesp, coronel Amadeu Soares.
O local estava coberto com uma massa de cimento, parecendo um piso de concreto. A partir daí, os policiais encontraram um cano com fundo falso. Aliado à informação de que aquele seria o local, levou à descoberta do túnel. “O local estava normal. Os agentes pisando no local, investigando a informação de que era ali que eles estavam escavando, e descobriram um piso oco, encontrando um cano solto. Eles aprofundaram , encontraram e quebraram o restante da entrada”, disse o secretário.
O túnel tinha sistema de ventilação e iluminação. A cada três metros havia instalados ventiladores e lâmpadas.  “O trabalho feito nesse túnel é um que comparo ao que foi feito no cofre do Banco Central. Porque aqui, de 3 em 3 metros, tanto na profundidade quanto na extensão, você encontra uma estrutura de ventilador, calços para a terra não arriar, com uma profundidade de 4,5m. Além da iluminação durante toda a sua extensão que ultrapassa os limites do muro da Pmac”, enfatizou.
Soares disse ainda que as escavações vinham sendo feitas há no mínimo 90 dias. “Para conseguir cavar toda essa extensão, considerando que eles não tinham o tempo todo liberado para trabalhar, os presos faziam quando dava. Acredito que eles estavam trabalhando nisso há muito tempo”, destacou.
De acordo com o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Dagoberto Gonçalves, a intenção dos presos era sair longe das vistas das guaritas. “É bastante amplo e foi confeccionado para sair bem longe da visão da guarda externa da Pamc”, destacou.  Conforme o coronel, o trabalho realizado no túnel foi tão bem feito que se assemelha a um profissional, feito por uma pessoa que conhece a arte de fazer escavação.
Foto: Divulgação
Buraco tinha estrutura indicando que foi feito com orientação profissional
Sobre a divulgação dos presos que trabalharam na obra e como eles realizavam o trabalho, o secretário informou que, após o termino das investigações, os nomes e métodos serão divulgados.
 “Agora nós já podemos dizer que a sociedade pode ficar tranquila que aquilo que era temido por todos já está resolvido, porque se descobriu esse famoso túnel. Uma ação do sistema de segurança que foi absolutamente eficiente em encontrar um túnel que intranquilizava a sociedade roraimense”, frisou o titular da Sejuc.
TENTATIVAS – Conforme explicou o comandante da PM, coronel Dagoberto Gonçalves, diversas tentativas para achar o túnel foram feitas.  Inclusive uma vala foi cavada por quase todo o entorno da Pmac na tentativa de encontrar o local exato.
“Tentamos encontrar esse túnel com informação que nós tínhamos. A vala foi uma tentativa de localizar porque nós já tínhamos a informação de que ele já se estendia para fora dos muros. Só que nós não acertamos na profundidade, pois ele tem aproximadamente cinco metros de profundidade e nós só cavamos por dois metros e meio”, disse o coronel.
GOVERNO – A Secretaria de Comunicação do Governo do Estado informou, por meio de nota, que o túnel seria fechado com concreto ainda na noite de ontem com a presença do governador Chico Rodrigues (PSB), que iria para lá acompanhar os trabalhos na Pamc. (JL)
Agentes penitenciários denunciam que não têm controle sobre detentos do semiaberto
Agentes penitenciários denunciam que não têm controle sobre os detentos que cumprem pena em regime semiaberto na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc). A categoria afirma que apenas 15 profissionais são responsáveis por toda a população carcerária que passa de mil detentos, dos quais cerca de 500 estão no semiaberto. A falta de armamento e equipamentos de segurança impede que eles mantenham o controle em caso de rebelião ou motim.
Os detentos que cumprem pena no regime semiaberto podem sair do presídio para estudar ou trabalhar às 7 horas e devem retornar no início da noite, às 19h. Em Roraima, os que estão sob este regime e possuem uma ocupação fora do sistema prisional cumprem pena na Cadeia Pública de Boa Vista.
Já os que aguardam uma oferta de emprego ou oportunidade de estudos cumprem pena na Pamc. Conforme um agente penitenciário que preferiu não se identificar, chega a 500 o número de detentos nesta situação. “Como eles estão no semiaberto, ganham o direito de circular livremente nas áreas comuns do presídio”, disse.
O agente destacou que apenas 15 profissionais são responsáveis por toda a população carcerária e que, em caso de rebelião ou motim, eles não terão como manter o controle. “Os detentos que circulam livremente representam um risco maior, pois como estão fora das celas podem iniciar uma rebelião a qualquer momento”, explicou.
Outro agente relatou que a falta de armamento, munição e coletes balísticos agrava a situação. Ele afirmou que há apenas cinco armas de calibre 38 e uma de calibre 12 disponíveis para os 15 profissionais. “Nossos coletes estão vencidos desde 2011. As poucas armas que temos estão sem munição. Ainda não aconteceu algo pior devido ao bom comportamento da maioria dos detentos”, frisou.
No dia 29 de setembro os agentes penitenciários foram até a sede da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) solicitar a compra de armas, munição, coletes balísticos e a contratação de mais profissionais. Na ocasião, o secretario titular da pasta, Natanael Nascimento, não os recebeu.
Na época, a assessoria de comunicação do órgão respondeu que havia dois processos em andamento para aquisição dos materiais reivindicados pelos agentes e que em um prazo de até 90 dias estariam disponíveis. 
SEJUC – A Folha entrou em contato com a assessoria de comunicação da Sejuc para pedir esclarecimentos em relação à denúncia, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria. (I.S)