Cotidiano

Mulheres de presos denunciam esquema de corrupção na Pamc

Em depoimento, mulheres de presos afirmam que agentes penitenciários e até professores cobram propina para facilitar entrada de ilícitos

Um suposto esquema de corrupção dentro da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc), localizada na zona rural de Boa Vista, foi denunciado por mulheres de presos que integrariam uma facção criminosa no Estado. Elas afirmam, em depoimento, que agentes penitenciários e até professores cobram propina para facilitar a entrada de drogas, celulares e outros objetos proibidos na unidade prisional.

A Folha teve acesso ao Auto de Qualificação e Interrogatório de uma das denunciantes, presa na semana passada após tentar entrar com vários objetos no presídio, entre eles sacolas com maconha, sete aparelhos de celular, chips de várias operadoras, carregadores, medicamentos e até um anel e uma pulseira banhados a ouro.

No depoimento, ela destacou que possui união estável com um dos presos, que teria o cargo de “Salveiro do Estado”, uma espécie de mensageiro da organização criminosa, e que os objetos apreendidos em posse dela eram para o parceiro.

A acusada relatou que o esquema que envolve agentes penitenciários funcionaria com a cobrança de propina a mulheres de detentos antes dos dias de visita aos companheiros. O valor cobrado dependeria do tamanho da “bolsa”, imposto por meio de uma tabela. Uma bolsa pequena, do tamanho de um nécessaire, custaria em torno de R$ 200,00. Já uma maior, tipo as de bebê, custaria R$ 500,00. E uma do tamanho aproximado de 40x60cm custaria R$ 700,00.

Ela citou, no depoimento, que os próprios agentes se deslocavam até a casa das mulheres dos detentos para recolher o pagamento das propinas, sempre no dia anterior às visitas. A mulher afirma que um dos agentes penitenciários, que participaria do esquema de corrupção, foi batizado pelos próprios presos com o nome de “PCC”, sigla da organização criminosa que atua dentro dos presídios, por não considerar agentes como “policiais da lei”. A infratora também confirmou a participação de agentes mulheres no esquema.

Já o esquema com professores que ministram cursos técnicos a detentos no presídio funcionaria de outra forma. Os próprios docentes, que não são revistados, são quem entrariam na Penitenciária com drogas, celulares e outros objetos. Eles entregariam aos presos em troca de propina. O valor cobrado pelos professores não foi informado pela denunciante. A mulher destacou ainda, que pagou R$ 2 mil aos agentes de plantão para “comemorar” três noites de lua de mel com o marido dentro da Pamc.

Conforme ela, os integrantes da facção criminosa usam celular de apenas uma operadora no presídio, que denominam de “Linha Vermelha”, por ser mais difícil de ser rastreado. Com os celulares, os presos utilizam a internet para realizarem videoconferência com integrantes da organização em outros estados.

SINDAP – A Folha tentou entrar em contato com representantes do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Roraima (Sindap), para falar sobre a acusação envolvendo profissionais da categoria, mas até o fechamento desta matéria, às 18h de ontem, não houve retorno.

SEJUC – Em entrevista à Folha, o secretário estadual de Justiça e Cidadania, Josué Filho, afirmou que as denúncias feitas pelas mulheres de presos da Pamc estão sendo investigadas pela Polícia Civil, Ministério Público de Roraima (MPRR) e pela Corregedoria-Geral de Justiça. “Essa pessoa foi recolhida e estamos apurando essas informações. Muito brevemente daremos mais detalhes do desfecho dessa investigação”, disse.

Sobre a participação de agentes penitenciários no suposto esquema de corrupção, inclusive com o “batismo” de alguns deles, ele reafirmou que o caso está sendo apurado e classificou o apelido dado pelos presos como “exagero”. “Tudo está sendo investigado, porém, achamos meio exagerado esse nome dado aos agentes”.

O secretário informou que a denunciante está recolhida no Comando de Policiamento da Capital (CPC) da Polícia Militar para preservar a integridade física dela. “Todas as informações que fazem parte do depoimento estão sendo objeto de investigação. Os órgãos estão apurando, nossa inteligência está fazendo perícia no material recolhido e dali estamos buscando outras informações”, ressaltou.

Josué Filho destacou que tem conhecimento da existência do crime organizado nos presídios do Estado, mas que continua seguindo a política de não reconhecer suas atividades. “Não aceitamos isso enquanto Estado, não dialogamos e nem fazemos apologia ao crime organizado”, frisou.

Ao fim das investigações, o secretário informou que, se constatada a participação de agentes penitenciários e professores no esquema de corrupção na Pamc, eles serão punidos. “Está sendo aberto o procedimento e, se for constatado, sofrerão as penalidades administrativas e penais conforme determina a lei”. (L.G.C)