Cotidiano

Motoristas de táxi anunciam que vão cobrar corrida a R$ 2,00 em protesto

Segunda-feira foi marcada por uma série de protestos de taxistas convencionais e de lotação contra a instalação de Uber

Os taxistas de Roraima anunciaram a queda no preço das corridas para R$ 2,00, a partir desta terça-feira, 27, tanto para táxi convencional quanto o lotação. A decisão foi tomada na tarde de ontem, após a paralisação da categoria, , em protesto à instalação de Uber em Boa Vista, quando apenas 30% dos serviços foram mantidos para manter a legalidade do movimento.

Segundo o presidente do Sindicato dos Taxistas de Roraima (Sintacaver-RR), Marino Jorge, a cobrança em menor valor seguirá até a categoria receber uma resposta oficial do Município, que até o momento não se manifestou sobre o assunto. Ele afirmou que o protesto ocorreu por conta da insatisfação da categoria com a instalação de Uber, aplicativo voltado para a prestação de serviço de transporte urbano e que cobra preços muito mais baixos. Por exemplo, uma corrida da Praça do Centro Cívico até o bairro Cidade Satélite sai em torno de R$13,00 a R$ 18,00.

Jorge ressaltou que a categoria não é contra a população utilizar um transporte barato. “Só que a gente também precisa de vantagem para prestar um serviço mais barato para a população, senão não tem condições de concorrer com esse transporte. Nós não queremos prejudicar a população, nós só estamos lutando pelos nossos direitos e para promover um melhor serviço a todos”, frisou.

O sindicalista informou que a paralisação também teve como objetivo solicitar alguma resposta da Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) ou da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Ehmur) sobre a fiscalização dos motoristas do Uber. “Falamos com Sérgio Pillon [presidente da Ehmur] e ele me disse que os fiscais da Ehmur não têm o poder para multar nem fazer nada. Então, alguém tem que nos dizer quem tem o poder. Esse é o motivo da paralisação”, esclareceu.

Categoria protesta em frente à Emhur e interdita avenida

O movimento dos taxistas iniciou por volta das 08h, quando os taxistas se reuniram em frente à sede do sindicato da categoria, no trecho sul da BR-174, e de lá seguiram em carreata até a Praça do Centro Cívico, com discursos em carros de som e buzinaços ao longo do caminho. Do local, os taxistas seguiram até a frente da sede da Emhur, no bairro São Francisco, na zona norte, onde esperavam falar com o presidente da Emhur, Sérgio Pillon.

Os taxistas bloquearam a avenida no trecho em frente à sede da Emhur e causaram transtornos ao trânsito. A situação foi regularizada somente com a chegada de agentes da Superintendência Municipal de Trânsito (SMTRAN), que deixaram uma via liberada para o tráfego dos veículos. No local, os taxistas foram informados que o presidente da Ehmur estaria em uma reunião fora do prédio e não foram atendidos.

Equipes da Força Tática e Ronda Ostensiva, da Polícia Militar, e Guarda Civil Municipal foram acionadas para segurança dos funcionários da instituição e para acalmar os ânimos. Ainda pela manhã, em um momento de forte chuva, taxistas chegaram a querer entrar no prédio da Ehmur, mas somente um pequeno grupo obteve sucesso e os demais foram barrados pelos policiais.

Após não terem recebido a resposta esperada, os taxistas seguiram para o Terminal de Ônibus José Campanha Wanderley, no Centro, onde bloquearam a via que dá acesso ao terminal dos táxis-lotação. Na ocasião, o presidente do sindicato informou à Folha que a categoria só sairia do local com a presença de representantes do Município.

“Peço ao público que entenda. Estamos lutando pelos nossos direitos. Ou eles [representantes do Município] vêm ou nós não saímos mais daqui. Não tem mais previsão para sair. Se o Município não receber a gente, manda a Força Tática tirar. Nós estávamos protestando pacificamente e não quiseram nos atender. Agora ou nós vamos ser atendidos por bem ou por mal”, frisou o sindicalista.  No entanto, por volta das 18h, os taxistas foram liberados com a promessa de aplicar preços mais baixos no dia seguinte.

PREFEITURA – A Folha entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista à cerca da paralisação, porém, mais uma vez, o Município preferiu não se manifestar sobre o caso.

Populares defendem instalação de Uber

A vendedora que tem um boxe no Terminal de Ônibus do Centro, Maria Ozinete, onde trabalha com serviços alimentícios, disse que também utiliza o transporte público e que espera que com a chegada do Uber os taxistas melhorem o seu atendimento. “Eu vejo o pessoal reclamar muito que o táxi-lotação não quer ir para o bairro Cidade Satélite. O porquê eu não sei. Diz que é difícil de ir para o lado desse bairro”, afirmou.

Uma funcionária pública, que preferiu não se identificar, comentou que a concorrência é algo normal e que os motoristas de táxi têm que se atualizar.  De vez em quando eu utilizo o serviço quando saio do trabalho.

Eu sempre arranjo problema com os taxistas porque eles querem andar na rua feito loucos, correndo, e ficam falando ao telefone, mandando mensagem enquanto dirigem. E o preço é muito caro. Sair do aeroporto, por exemplo, que é tabelado, o pessoal tem que pagar R$ 45,00, mesmo ficando ali perto. É abusivo”, reclamou.

Um vendedor de relógios do terminal informou que, para ele, o protesto não tem fundamento. “Todo mundo tem direito de trabalhar, isso é bobagem. É tempestade em copo d’água. O que chama cliente é prestar um bom atendimento ao passageiro, andar limpo, ter criatividade. Tem espaço pra todo mundo”, frisou.

Empresa afirma que serviço tem amparo na Constituição

Questionada pela Folha, a empresa de transporte urbano se posicionou, por meio de nota oficial, afirmando que “todo cidadão tem o direito de trabalhar honestamente, assim como o direito de escolher como quer se movimentar pela cidade”.

Com relação à atuação dos motoristas parceiros do Uber, que prestam o serviço de transporte individual privado de passageiros, a empresa afirmou que os condutores têm respaldo na Constituição Federal e que o ato é previsto na Lei Federal nº 12.587/2012, que trata sobre a Politica Nacional de Mobilidade Urbana. “Conforme a legislação, o transporte público individual é o serviço remunerado de transporte de passageiros aberto ao público, por intermédio de veículos de aluguel, para a realização de viagens individualizadas”, frisou.

A empresa citou ainda decisões onde o Judiciário rejeitou pedidos de proibição do funcionamento do aplicativo em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre e Distrito Federal. “Por diversas vezes, os tribunais brasileiros afastaram e consideraram inconstitucionais as tentativas municipais de proibição do Uber, confirmando a legalidade das atividades da empresa e dos motoristas parceiros e garantindo o direito de escolha da população”, finalizou a empresa. (P.C.)