Cotidiano

Cadeirantes encontram dificuldades para utilizar transporte público

Segundo a informações da Prefeitura de Boa Vista, um 78 ônibus circulam na cidade com 100% de acessibilidade.

A mobilidade urbana não se resume apenas em vias mais asfaltadas, extensão de ciclovias, calçadas para pedestres, entre outros. Também precisa englobar uma parte da sociedade que ainda é muito desvalorizada e sofre diariamente com as limitações que encontra ao precisar utilizar transportes públicos ou até mesmo se locomover na cidade. Os cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida fazem parte desse grupo e precisam encontrar facilidades como qualquer outro habitante, mas não é sempre que isso acontece.

De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), 88% das cidades do Brasil não possuem acessibilidade dentro dos transportes públicos, mesmo com a adaptação de ônibus para pessoas com deficiência estar regulamentada na Constituição Federal e do Decreto nº 5.296 de 2004 que estabelecia que todos os veículos de transporte coletivo deveriam estar acessíveis até 2014.

Quem conhece bem essas barreiras é o psicólogo Weslen Lima. Ele tem osteogênese imperfeita, popularmente conhecida como “ossos de vidro” e precisa de uma cadeira de rodas para se locomover por Boa Vista. Ele afirma que atualmente a principal dificuldade nos transportes públicos é a falta de manutenção, o que causa problemas nos elevadores dos ônibus.

“Já aconteceu comigo e precisar ser trocado, chamar outro ônibus para poder transportar outras pessoas também porque ele fica meio que inutilizável. Última vez que aconteceu foi um acidente. Um elevador travou no meio e quando ele foi destravar, ele desceu de uma vez, aí eu fiquei uns três minutos sem ar, fui para o hospital, foi bem tenso esse dia”, relembrou.

O psicólogo disse que não encontra dificuldades em relação aos motoristas porque ele sempre tenta manter um diálogo e, dessa forma, consegue apoio deles no momento de subir no transporte. “Todos os ônibus que eu pego têm acessibilidade sim, a frota é realmente 100%, mas tem ônibus que precisa de mais atenção, mais cuidados, porque essa parte de elevador é muito chata quando acontece. Alguns ônibus são antigos e foram adaptados, é isso que prejudica. Os mais novos já vêm com o elevador e é melhor”, completou.

Para o Weslen, o maior problema está em como a sociedade ainda não enxerga o deficiente e acaba criando problemas sem perceber, como estacionar em cima de rampas ou de calçadas, para isso, ele procura utilizar as ciclovias para conseguir andar com tranquilidade.

“Uma vez encontrei um casal que estacionou bem em cima da rampa na praça do Ayrton Senna. É bem ruim encontrar outro lugar para subir, daí eu estava com alguns amigos e eles queriam que eu subisse com eles me carregando, mas eu disse que ‘não’. Aquela questão de ‘ah, é rapidinho’ tem muito disso”, relatou.

Ele finalizou dizendo que é preciso ter mais atenção por parte da classe política para criar mais medidas que facilitem a vida do deficiente e também crie mais conscientização na população.

Para tentar diminuir essas dificuldades, a jornalista Layse Menezes contou que ela e o marido João de Souza, cadeirante há quatro anos após um acidente de trânsito, procuraram adaptar o carro da família para que ele pudesse se locomover com mais facilidade. O custo ficou em torno de R$ 2.000 para fazerem as modificações necessárias e conseguir adaptar para a realidade dele.

A jornalista relata que já passou por muitas situações em que encontrava dificuldade com os elevadores dos ônibus e também nas calçadas que não davam a possibilidade de conseguir entrar no transporte. “Pode ser que tenha o elevador, mas não se garante que a acessibilidade seja completa. Porque muitas vezes a gente fala de acessibilidade e pensa que é só a parte do elevador e dentro dele, mas não, é o funcionamento todo. São muitas coisas que têm que considerar quando fala em acessibilidade”, confirmou.

Layse tenta também levar mais informações sobre as pessoas com deficiência e quais os direitos que elas possuem, principalmente na parte do trânsito. Para isso, ela afirmou que está trabalhando na criação da Associação Asas de Rodas que tem como objetivo atender pessoas com deficiência de diversas formas, seja com atendimento psicológico, questões esportivas e também reuniões para conversa.

A equipe de reportagem flagrou no Terminal Urbano José Campanha Wanderley, no Centro de Boa Vista, o momento em que uma mãe tentava entrar no ônibus com a filha deficiente, mas o elevador quebrou. A mãe não quis conversar sobre a situação, mas que informou que a situação é frequente.

A Prefeitura de Boa Vista foi questionada sobre a situação ocorrida no Terminal do Centro e também sobre a manutenção dos ônibus, principalmente sobre os elevadores que quebram constantemente. A Prefeitura de Boa Vista se limitou a informar, por meio de nota, que “possui atualmente uma frota de 78 ônibus com 100% de acessibilidade”. (A.P.L)