Cotidiano

Usuários criticam valor da passagem e condições de ônibus

Intervalo de 30 a 40 minutos entre ônibus também é problema enfrentado por passageiros em Boa Vista

Críticas relacionadas ao transporte público em Boa Vista sempre existiram. Como forma de contornar isso, a Prefeitura de Boa Vista investe no aumento da frota de ônibus e até mesmo na customização de uns. Apesar disso, para o público em geral, os problemas perduram.

A graduada em serviço social Ivaneide Trindade, por exemplo, afirmou que mesmo com o preço da passagem de ônibus, R$ 3,60, não ser maior do que de outras capitais, ainda assim é injustificável pelo tamanho de Boa Vista. Ela gasta R$ 200,00 em passagens por mês. “Boa Vista não é uma cidade grande, então acho o preço salgado levando em conta de que os circuitos não chegam a ser tão longos e a frota nem é tão grande. É o segundo maior gasto que tenho no mês, depois do aluguel de casa. Se para mim é complicado conciliar os gastos de ônibus, imagina para quem ganha só um salário mínimo, por exemplo”, disse.

O estagiário de secretaria Ayan Ariel comentou que gasta por volta de R$ 70 a R$ 100. Ele usa três passagens por dia, já que consegue carona para seu emprego pela manhã. Para ele, mesmo com o aumento de frota, as demoras em pontos de ônibus não mudaram. “É uma boa facada, né? A coisa ficava menos apertada quando a meia passagem era R$ 1,55 e a inteira era R$ 3,10. Não dá pra achar que tá tudo de boa gastando R$ 100 de recarga, principalmente considerando que a qualidade dos transportes não é lá essas coisas, né? Acho que quase metade da frota é da década passada. Além do mais, o tempo de espera ainda é grande. Tem ônibus que eu pego que demora uns 30 minutos para chegar”, afirmou.

Já o acadêmico de comunicação social Gabriel Gomes, que gasta uma média de R$ 120 mensais em ônibus, conta que a maior dificuldade é decorar os horários e que não há uma referência que consiga acompanhar as atualizações das linhas em seus circuitos. “Quem pega ônibus tem que ter a manha de decorar horários para não se atrasar, porque ao perder ele, é questão de 30, 40 minutos de intervalo até o próximo. Isso em horário de pico. Existem sites e aplicativos, como o site oficial da empresa de transporte, e o aplicativo Moovit, que já mapearam as linhas e horários, mas pela falta de estabilidade da organização dos ônibus, esses recursos acabam não conseguindo se atualizar junto com as linhas. Para mim, a própria empresa de transporte deveria ter como obrigação manter uma tabela de linhas e horários atualizada e disponível on-line”, explicou.

Veículos antigos também são alvos de críticas

A reportagem da Folha andou de ônibus, do Mini Terminal Luiz Canuto Chaves, na Praça do Centro Cívico, até o final da rota do ônibus Equatorial 112, na rua S-24, no bairro Jardim Equatorial, voltando até o final da avenida Ville Roy, no bairro Caçari.

No próprio terminal de ônibus do Centro Cívico, não é possível ver indicações quanto a horários ou destinos dos veículos que passam por lá. Para passageiros terem certeza de que irão pegar o ônibus certo e que ele irá de fato parar, muitos vão para fora do local esperar.

O veículo da linha Equatorial 112 já aparentava estar velho, com marcas de ferrugem e janelas abertas para melhor ventilação de ar dentro do veículo. Apesar disso, o calor ainda é inevitável e o suor já parecia contaminar todos que estavam dentro dele por mais de dez minutos. Durante uma curva, a porta da frente do ônibus se abriu e foi fechada novamente pelo condutor.

Em certo trecho da avenida Mário Homem de Melo, uma moça com muletas precisou utilizar o elevador do ônibus para subir. A princípio, ele travou e fez pequenas subidas e descidas bruscas. Mas, eventualmente, o elevador a sustentou. Ao conversar rapidamente com a equipe de reportagem, ela falou que está acostumada a falhas do tipo e salientou que sempre precisa de ajuda para alcançar a corda que faz o ônibus parar.

Ao chegar ao fim da linha, na rua S-24, após 57 minutos de rota, não há um ponto de ônibus ou qualquer indicação de que aquele era o ponto final. Para o trajeto de volta, havia um ponto, só que sem decoração e com traços de que estava inacabado, o que é comum em bairros mais afastados do centro e populosos da cidade.

Por volta de 12h, um senhor, que se identificou como Raimundo, comentou que já estava ali no ponto esperando o ônibus, pois tinha uma consulta no oftalmologista às 14h. “Conheço bem os ônibus de Boa Vista. Sei que é preciso sair com duas horas de antecedência para ter pontualidade, pois se tu perde o ponto aqui, terá que esperar mais 30 ou 40 minutos”, comentou. O ônibus que chega ao local possui ar-condicionado, apesar de ele não gelar o ambiente, garante que há a ventilação interna, o que já ajuda a não suar. A rota de lá até o Caçari foi de 52 minutos.

De lá, houve a tentativa de pegar um ônibus na avenida Bacabeira, no Paraviana, para ir em direção à avenida Júlio Bezerra. Após uma espera de meia hora, nenhum ônibus passou na parada. Duas senhoras que estavam no outro lado da avenida comunicaram que a linha já não passa mais ali, apesar da parada existir. Esta é a única maneira de saber o trajeto e o horário dos ônibus: perguntando.

PREFEITURA – A Folha tentou contato com a Prefeitura de Boa Vista, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. (P.B)