Cotidiano

Terceirizados continuam sem receber salários

Após diversos anúncios e adiamentos dos pagamentos, somente terceirizados de duas empresas receberam um dos vários meses de salários atrasados

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

Funcionários terceirizados continuam acampados na frente do Palácio Senador Hélio Campos. Há dois meses, esta tem sido a estratégia para cobrar por salários atrasados. Empregados da Limponge e Lidam receberam o valor referente aos serviços prestados em janeiro deste ano. Já os da Haiplan caminham para oito meses consecutivos sem pagamentos.

São cerca de 800 trabalhadores da Haiplam, que atuam na capital e outros municípios de Roraima. Apenas os terceirizados que auxiliam na Educação continuam trabalhando, pois “precisam cumprir horários”. Mesmo com o adiamento do início do ano letivo estadual.

“Eles dizem que precisamos cumprir nossos horários de trabalho. Foi passado para cada gestor que é preciso ter o relatório diário de quais funcionários estão lá porque só irão pagar os que estão trabalhando”, declarou o terceirizado Luiz Carlos Monteiro Vieira.

Pelo menos em três vezes o pagamento referente a janeiro foi anunciado: a primeira data para seria em 4 de fevereiro; depois, no dia 7, o governador Antonio Denarium (PSL) anunciou em coletiva de imprensa que o pagamento havia sido realizado, e por último a data foi marcada para o último fim de semana.

O OUTRO LADO – A reportagem questionou o Estado sobre os pagamentos dos terceirizados da empresa Haiplan, também sobre previsão para pagar os outros meses e por qual razão houve uma sequência de anúncios e adiamentos.

O governo, por meio da assessoria de comunicação, respondeu somente que as empresas que prestaram serviços para o Estado em janeiro de 2019 receberam os repasses. Também foi afirmado que o pagamento dos funcionários terceirizados é de obrigação das empresas contratantes.

Terceirizados têm lona retirada da frente do Palácio

Enquanto a reportagem da Folha conversava com os terceirizados na manhã de ontem, 18, a lona que cobria o acampamento foi retirada. Os manifestantes explicaram que já não têm mais como pagar para manter o material no local.

Para manter sombra, foi improvisada uma lona menor sustentada por pedaços de madeira. Isso porque, mesmo que o pagamento de janeiro ocorra para todas as empresas, os terceirizados pretendem permanecer no local até receberem, no mínimo, três dos vencimentos atrasados.

“Já fizemos outra lona porque ninguém mais tem dinheiro para pagar estas tendas. Acertamos com o dono que assim que ‘saísse’ um mês, nós pagaríamos, e assim foi feito”, explicou Vieira.

Para manter acampamento, manifestantes pedem doações

Após tantos meses de salários atrasados, a situação dos terceirizados só piora, falta de tudo. E eles aproveitaram para pedir doações de todos os tipos: alimentos, gelo, carvão, fraldas e dinheiro.

“Há poucas doações, tanto que hoje estamos sem gelo, tem uma carne que trouxeram no sábado e está sendo conservada em uma água fria. Não temos carvão e por isso não fizemos nada ainda”, clamou Luiz Carlos Monteiro Vieira.

Dalvanir da Silva também é funcionária da Haiplan e está no sétimo mês de gestação. Sofrendo com princípio de pré-eclâmpsia, ela precisa tomar uma injeção para não comprometer a saúde do bebê, mas não há o material no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, única maternidade do Estado.

“É uma situação difícil. Eu tenho mais três filhos e moro no município de Uiramutã. Viemos para cá para ver se conseguiríamos receber [os salários] e agora estamos nesta situação”, desabafou. (F.A)