Política

Roraima registrou 80 apagões em 2018

Número cresceu 135% e as falhas no trecho da linha de transmissão seriam apontadas como a causa da maioria dos blecautes

Cyneida Correia e Leo Daubermann

Editoria de Política

A população roraimense voltou a sofrer com apagões constantes e a causa, de acordo com a Eletrobras Distribuição Roraima, empresa responsável pela geração e distribuição de energia no Estado, são falhas no trecho da Linha de Transmissão Macágua-Las Claritas, na Venezuela.

Em todo o ano passado, foram registrados 34 blecautes e neste ano, de janeiro de 2018 até o momento, já foram mais de 80 apagões, sendo sete, somente no mês de novembro, num aumento de 57% em 2018. Quando o sistema para na Venezuela, 13 dos 15 municípios de Roraima ficam sem energia.

Segundo a Gerência de Comunicação Social e Relações Institucionais da Eletrobras Roraima, nesse final de semana não foram registrados apagões, mas ocorreram desligamentos de carga, por conta da Linha de Transmissão de Guri ter deixado de operar parcialmente. A gerência não informou as razões da queda de operacionalização.

Cada vez que a energia é cortada, as quatro termelétricas de Roraima demoram cerca de 20 minutos para restabelecer a energia de que o Estado precisa e tem funcionalidade para suprir a energia apenas por oito dias diretos. A Eletrobras Roraima atende cerca de 165 mil unidades consumidoras em todo o Estado.

Um megawatt-hora em Roraima custa, em média, R$ 931, mais do que o dobro da tarifa média no Sudeste (Foto: Arquivo/Folha BV)

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA – Em setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) chegou a montar um sistema de eficiência energética, mas que funcionou apenas até a eleição em outubro e depois foi abandonado pelo Governo Federal.

Segundo a Eletrobras, o plano foi aprovado pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico que está ligado diretamente ao MME, mas foi um plano temporário. “Atualmente voltamos a operar com Guri e com as térmicas simultaneamente”, explicou a empresa.

REAJUSTE TARIFÁRIO – Apesar da oferta insuficiente de serviços e dos constantes apagões, a Agência Nacional de Energia Elétrica aprovou em outubro o reajuste tarifário de 38% da Boa Vista Energia que entrou em vigor em 1º de novembro. Um megawatt-hora em Roraima custa, em média, R$ 931. Isso representa mais do que o dobro da tarifa média no Sudeste. A energia das térmicas no estado custa ainda mais: R$ 1,7 mil por megawatt-hora.

Sindicato afirma que apagões são fruto de descaso político

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Urbanitários de Roraima (Stiu/RR), Gissélio Cunha, lamentou o descaso e a ausência de compromisso do Governo do Estado e de alguns parlamentares de Roraima por “interesses desalinhados do interesse coletivo”. “Roraima é o único estado da Federação que não faz parte do Sistema Interligado Nacional [SIN] e está isolado do restante do país”, lembrou.

Para o sindicalista, enquanto a interligação não ocorrer, a população vai continuar sofrendo sem uma energia confiável e segura. “O governo precisa cumprir com a sua responsabilidade quanto à interligação de Roraima ao Sistema Interligado Nacional, medida que pode atrair investidores ao Estado, mediante um sistema elétrico de qualidade e confiável, bem como, com um custo menor ao consumidor”, destacou.

Roraimenses amargam prejuízos

Central de ar do escritório do arquiteto Yan Axel Guedes queimou após uma queda de energia (Foto: Divulgação)

Com as oscilações de energia, comuns após os apagões, muitos roraimenses acabam ficando no prejuízo, devido à perda de aparelhos eletroeletrônicos. De acordo com dados da Eletrobras Distribuidora Roraima, foram efetuados neste ano 1.174 pedidos de ressarcimento por queima de aparelhos eletrodomésticos, 189 solicitações a mais do que no ano passado, quando foram registrados 985 pedidos de indenização. No entanto, nem todos os pedidos são atendidos. Há casos ainda de o consumidor desistir no meio do caminho, por achar que a contraproposta não vale a pena.

É o caso do arquiteto Yan Axel Guedes, de 25 anos. No mês de setembro, ele e o sócio saíram para o almoço e, ao retornarem, foram ligar as centrais do escritório e só uma ligou. O arquiteto procurou a concessionária e solicitou um reembolso, cuja taxa custava o preço da peça a ser trocada. “E esse orçamento gira em torno de R$ 80 a R$ 120, dependendo do local, porque tem que ser com CNPJ. Chamamos um rapaz e ele constatou que o problema era na placa que custaria R$ 150. Então, trocar a placa saía mais barato do que o orçamento”, comentou.

Oliveira Energia ainda não assumiu concessão

De acordo com a concessionária, as usinas termoelétricas de Roraima estão “preparadas para suprir eventual falha no fornecimento de energia elétrica pela Venezuela” e atualmente estão “funcionando em regime complementar, gerando em torno de 130 megawatts (MW) por dia”.

As informações foram repassadas por meio da assessoria de comunicação, que informou também que a Oliveira Energia, empresa que arrematou com a melhor oferta, a Eletrobras Distribuição Roraima, em leilão das distribuidoras, realizado em 30 de agosto deste ano, na Bolsa de Valores de São Paulo, “ainda não assumiu a concessão”.

A reportagem da Folha tentou contato com a assessoria da Oliveira Energia, para saber se há uma data prevista para assumir o controle da distribuidora de energia, em Roraima, mas até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

No Diário Oficial da União de 23 de outubro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a Oliveira Energia à anuência prévia para assumir o controle da Eletrobras Distribuição Roraima. O prazo para implementação da operação de transferência do controle societário direto da elétrica seria de até 120 dias, a contar da data da publicação.