Cotidiano

Roraima registra quase 300 homicídios de janeiro a novembro

O levantamento foi feito pelo jornal Folha de Boa Vista, que contabilizou os resultados e descobriu que grande parte dos crimes está diretamente ligado à guerra entre facções criminosas

Leo Daubermann

Editoria de Cidades

Roraima ocupa a primeira posição no ranking nacional, como o estado com o maior número de mortes violentas do Brasil. Os dados são do Núcleo de Estudos de Violência (NEV) da USP (Universidade de São Paulo), que revelou também, que foram registrados neste primeiro semestre 26 mil assassinatos no país. O mesmo estudo revela que as dez primeiras posições no ranking nacional de homicídios estão nos estados do Norte e Nordeste brasileiro.

Em Roraima, já foram contabilizados 292 homicídios de janeiro até a metade do mês de novembro. O crescimento é percebido quando são comparados com os dados de todo o ano de 2017, quando foram registrados 212 homicídios no estado. Em 2016, foram contabilizados 192 homicídios.

Os meses mais violentos, onde houve uma maior concentração de mortes foram setembro e outubro, com 47 e 34 homicídios, respectivamente. O mês mais tranquilo foi fevereiro, com 11 registros, seguido de junho, com 19 mortes contabilizadas. Em janeiro foram registradas 33 mortes, em março 32, em abril foram 29, em maio 24 registros, no mês de julho foram 25 mortes, em agosto 21, e somente nesses primeiros 16 dias de novembro já foram contabilizados 17 homicídios.

REGISTRO DE HOMICÍDIO EM RORAIMA

Janeiro

33

Fevereiro

11

Março

32

Abril

29

Maio

24

Junho

19

Julho

25

Agosto

21

Setembro

47

Outubro

34

Novembro

17

Nossa equipe de reportagem contatou a Secretaria de Comunicação do Governo do estado, ainda na terça-feira, 13, solicitando, além de dados a respeito do número de homicídios, tipo de armas usadas nos crimes, a possibilidade junto à Polícia Civil, para que o delegado titular da Delegacia de Homicídios, fizesse uma avaliação dos casos de homicídios ocorridos no estado, até o momento. Quantos desses homicídios estariam realmente relacionados à guerra entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), facções instaladas no estado.

Como resposta, a assessoria de Comunicação disse que “os dados, devido ao feriado seriam quase impraticáveis”, e quanto à entrevista com o delegado, “somente seria possível após o feriado prolongado”, ou seja, na próxima quarta-feira, 21.

Em entrevista ao “monitor da violência” do Globo, a delegada-geral Giuliana Castro afirmou que as facções brigam pelo controle de tráfico de drogas e armas. “Para mudar esse cenário investimos em inteligência e temos excelentes profissionais comprometidos e dedicados. Para se trabalhar contra o crime é preciso trabalhar de forma integrada. Essa é a chave do sucesso, todos trabalhando juntos em busca de segurança pública”.

Especialista em Segurança afirma que maioria dos crimes está ligada à guerra entre facções

“A mudança é um processo longo e delicado, é preciso que a nova gestão invista em um plano de ação integrada”, diz Geyza Pimentel (Foto: Nilzete Franco/Folha BV)

De acordo com a especialista em segurança pública, doutora em ciência política e socióloga Geyza Alves Pimentel, grande parte desses crimes está diretamente ligado à guerra entre facções criminosas que se instalaram em Roraima nos últimos anos.

“Os crimes mais violentos, com requintes de crueldade, esquartejamento, com desova de corpo, com uma série de outras condicionantes que fogem dos padrões que estamos acostumados num crime comum, esses crimes são geralmente cometidos por integrantes de facções ou de grupos que estão organizados com esse intuito”, explicou Geyza.

Ainda de acordo com Geyza, geralmente são crimes gerados por vingança, para melhorar o poderio diante de outros grupos, ou ascensão dentro do próprio grupo. “São várias as motivações para essas execuções, desde alguém que pega droga para vender e no meio do caminho perde ou simplesmente deixa de devolver o dinheiro dessa droga para a facção, até as execuções para melhorar o poderio, conseguir mais rotas, mais locais de atuação, ou então para galgar posições dentro da própria organização criminosa”, explica.

Ainda segundo a especialista em segurança pública, Geyza Alves Pimentel, o sistema prisional falido agrava ainda mais a situação caótica da violência no estado. “Nossos presídios estão em péssimas condições, superlotação, sem nenhuma infraestrutura. Impossível ressocializar alguém que cumpre pena em condições insalubres, passando fome, sem nenhum amparo do estado. É desumano”, destaca Geyza.

“Fora isso, nós temos aí três [dois] meses de salário sem receber, então nós temos toda uma equipe de segurança do estado que está vulnerável, abalada psicologicamente, que tá sem condições de trabalhar e isso agrava o quadro, quer dizer, diminui o efetivo de pessoas na rua, diminui o efetivo de pessoas a prestar socorro no momento de necessidade, tudo isso colabora para que a condição de insegurança continue”, completa.

Integração das forças policiais – A mudança é um processo lento e delicado, de médio e longo prazo, de acordo com a doutora em ciência política e especialista em segurança pública, Geyza Pimentel. “É preciso que a nova gestão invista em um plano de ação integrada. Além da equipe de segurança pública, é necessária a parceria das policias Federal e Rodoviária Federal, além do Exército e da Força Nacional”, analisa.