Cotidiano

Projeto para revitalização ainda não está concluído

Há mais de dez anos abandonado, teto começa a desabar e matagal está tomando conta do terreno; local é usado como abrigo

ANA PAULA LIMA

Editoria de Cidade

Uma única luz ainda ilumina o palco do antigo Teatro Carlos Gomes. Poderia ser o brilho do holofote, mas é apenas o reflexo solar no teto caído. A placa de programação, sem receber informativos dos espetáculos, é tomada pela ferrugem. O símbolo teatral formado pelas máscaras já passa despercebido. Abandonado há mais de dez anos, aos poucos o local vai deixando de existir e se tornando um amontoado de tralha.

Por trás do portão, há uma grande quantidade de lixo e mato. Uma grade foi colocada para evitar que adentrassem para a parte do palco, mas por conta dos buracos no teto de madeira, a água ficou acumulada no nível mais baixo. As poltronas foram retiradas e agora há apenas papelões no lugar.

Em um dos cômodos, onde ficava o camarim, há uma grande sujeira com madeira do teto que desabou, sacolas com lixo e a base que sustentava as lâmpadas. Na parte de trás do teatro, um matagal está tomando conta do lugar, que divide o terreno com a Igreja São Sebastião. Uma grade também foi colocada para evitar a entrada de pessoas, mas foi removida. 

De acordo com o diretor do Grupo Técnico Especializado em Gestão Estratégica (GTEGE) da Secretaria Estadual de Infraestrutura de Roraima (Seinf), Álvaro Coelho, os trabalhos para recuperar o Carlos Gomes estão sendo feitos há dois anos, porém, por se tratar de um prédio antigo e que está há muito tempo abandonado, os processos para revitalização são mais demorados. 

“É uma estrutura antiga e precisa se adequar a normas atuais. Não é só chegar e passar uma tinta. Tem que fazer a instalação elétrica novamente, por exemplo, e é difícil colocar equipamentos modernos em um prédio assim”, afirmou.

Seis meses atrás, o letreiro que identificava o prédio ainda estava por lá, mesmo com algumas letras já caídas. Agora, essa parte foi totalmente retirada e os ferros jogados na entrada do teatro. Do lado direito, o restante das letras estão no chão acumulando água da chuva. 

Apesar de ser um local com bases antigas e, por estar abandonado há muitos anos, a opção de demolição para a construção de uma nova estrutura foi totalmente descartada pela Seinf. Atualmente as paredes estão totalmente infestadas de cupim e as janelas foram quebradas. “O projeto está em fase de conclusão. A governadora [Suely Campos] deixou muito claro quando se reuniu com os secretários, comigo e o arquiteto que ela não quer perder a estrutura e aproveitar o máximo possível porque é um prédio que faz parte de Roraima”, ressaltou o diretor.

Em relação à possibilidade de desabamento e incêndio, o diretor garantiu que não existem riscos, somente se forem atos criminosos, pois toda rede elétrica foi desativada para evitar que isso aconteça. Já sobre o prazo para o começo das obras, Álvaro Coelho disse que o projeto tem em torno de 60% concluído e que deve ser finalizado nos próximos 30 dias.

Depois de totalmente finalizado, será publicado o edital para licitação. A previsão de valores inicialmente é de R$ 1,5 milhão para as obras do teatro. O diretor do GTEGE acredita que todo esse prazo deve ser de outros 90 dias.

Entre os escombros, foi achado um panfleto com as informações de uma peça, demonstrando que ali ainda existe a resistência pela história do Teatro Carlos Gomes.

Roupas foram encontradas no teatro

Em março desde ano, a Defesa Civil estadual realizou a retirada de venezuelanos que estavam utilizando o teatro como abrigo por afirmar que não havia condições de estadia por risco de desabamento. Entretanto, uma parte do local está sendo mantida limpa (uma vassoura foi encontrada nesse cômodo) e com roupas estendidas na parte de trás e também na frente, onde ficava a bilheteria. A equipe de reportagem não localizou ninguém dentro do prédio, mas percebeu que uma ligação clandestina de água foi feita para dentro do teatro.

Ministério Público diz que processo ainda está em andamento

Por meio de nota, o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) informou que tramita na Justiça Estadual ação civil pública protocolada pelo órgão ministerial para que os patrimônios e bens culturais materiais e imateriais (entre eles, o Teatro Carlos Gomes) tombados e/ou formalizados pelo Estado de Roraima sejam devidamente identificados e catalogados, contendo discriminação, dados, titularidade, conteúdo, estado de conservação, monitoramento e fiscalização, bem como que seja determinada por parte do Poder Judiciário a obrigatoriedade de controle sobre o entorno dos bens tombados, conforme determina o artigo 24 da Constituição Federal, que disciplina a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional.

A ação do MPRR protocolada contra o Estado de Roraima foi motivada com base nos dados colhidos no Procedimento de Investigação Preliminar nº 043/2011, instaurado no âmbito da 3ª Promotoria de Justiça Cível, em face da necessidade de avaliar a responsabilidade do Poder Público Estadual em relação a todo e qualquer patrimônio cultural do Estado de Roraima, devidamente tombado, passível de proteção preventiva e repressiva, conforme determina a legislação vigente.

Nas investigações à época, foram levantados pela segunda titularidade da 3ª Promotoria de Justiça Cível inúmeros bens considerados patrimônios culturais tombados pelo Estado, sem que houvesse a identificação, catalogação, discriminação, inserção de dados, demonstração e identificação da titularidade, eventual conteúdo, estado de conservação, área do entorno, monitoramento e fiscalização, conforme documento anexo.

TEATRO – Quanto ao Teatro Carlos Gomes, o Ministério Público informou que o bem não é tombado, entretanto, encontra-se localizado no entorno da Igreja São Sebastião que, conforme estabelece Emenda Constitucional Estadual nº 21/08, sendo tombada como parte da memória histórica, turística, social, artística, ambiental e cultural pertinentes à formação da sociedade roraimense, devendo ser restaurado e preservado. 

Na ação, o MPRR requereu a restauração do Teatro Carlos Gomes, no entanto o pedido da Promotoria não foi acolhido pela Justiça Estadual e, conforme decisão judicial, o Estado deverá apresentar em juízo, apenas estudo sobre a situação do respectivo imóvel. O processo ainda está em andamento. (A.P.L)