Cotidiano

Pacientes de lúpus estão sem remédio há mais de três anos

Medicações estão previstas no orçamento dos governos estadual e federal, mas devido à má gestão da Sesau, os remédios não chegam aos pacientes, diz reumatologista

LEO DAUBERMANN

Colaboradora da Folha

Em Roraima, portadores de lúpus que necessitam do tratamento da rede pública enfrentam um drama. Há mais de três anos o governo do estado não fornece os medicamentos básicos, de uso contínuo, como reuquinol (hidrocloroquina) de 400 mg e azatioprina de 50 mg. Já a ciclofosfamida de 1000 mg, medicamento usado para os casos mais graves (quimioterapia), está em falta há dois anos. A doença autoimune não tem cura, mas pode ser controlada com uso de medicamentos.

A denúncia partiu da vice-presidente da Associação de Pacientes de Lúpus do Estado de Roraima (APL-RR), Ildelene da Silva Ferreira, diagnosticada com a doença há 8 anos.

“As pacientes que deram entrada no HGR (Hospital Geral de Roraima) nesse período e precisaram fazer uso do ciclofosfamida, só obtiveram o medicamento porque a associação comprou com recurso próprio ou por meio de doações de pessoas sensibilizadas com a causa, porque se dependesse do estado essas pacientes teriam morrido”, disse.

Além da falta da oferta na rede pública, também há o problema do alto custo dos remédios na rede privada. A ciclofosfamida custa R$ 890, cada caixa contém dez ampolas que podem ser administradas uma a cada mês, de forma injetável e similar ao tratamento de quimioterapia. No entanto o remédio é de uso hospitalar, e só pode ser vendido para pessoa jurídica da área médica.

Os outros dois medicamentos podem ser adquiridos em farmácia, o reuquinol que custa em média R$ 85 a caixa e azatioprina, R$ 57, porém, os lúpicos usam em torno de três caixas por mês, valor que somado, acaba pesando no bolso.

“A situação das pacientes com lúpus no estado de Roraima é grave”, alerta o médico reumatologista, Bruno Leitão. “As medicações estão previstas no orçamento dos governos estadual e federal, mas devido à má gestão da Secretaria de Saúde do Estado (Sesau), os remédios não chegam aos pacientes”, diz o especialista.

De acordo com o médico, o serviço de reumatologia do Hospital Coronel Mota já cadastrou aproximadamente 200 pacientes com a doença, a maioria moradora da capital Boa Vista.

“São pacientes graves e agora nós estamos nos deparando com uma nova demanda, que são as pacientes vindas da Venezuela, são sete, atualmente. A situação está ruim e tende a piorar”, alerta.

A falta de regularidade no fornecimento dos medicamentos para pacientes crônicos preocupa o reumatologista. “Do coquetel básico para tratamento, que são o reuquinol, a azatioprina e o corticoide, somente o último está disponível na rede pública estadual, mas tratar lúpus apenas com corticoide não é ideal para o paciente, já que traz muitos efeitos colaterais”, explica.

A vice-presidente da APL-RR cobra atenção das autoridades. “Precisamos desses medicamentos para viver. Se não tivermos tratamento adequado a gente morre ou desenvolve sequelas como paralisação dos rins. Se a pessoa não tiver o lúpus controlado, pode morrer em um mês”, desabafa.

“A nossa esperança é que com essa eleição, venham pessoas capacitadas, com vontade de trabalhar, que abracem nossa causa, apoiem os pacientes, não só com lúpus, mas todos com doenças autoimunes, porque o tratamento é praticamente o mesmo”, completa.

OUTRO LADO – Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que está empenhada em dar andamento ao processo de licitação para a aquisição dos medicamentos ciclofosfamida, reuquinol e azatioprina.

“O processo de licitação tende a ser um pouco demorado, devido aos prazos que precisam ser cumpridos, mas os medicamentos já estão sendo providenciados para o mais breve possível”.