Cotidiano

Oleiros esperam ajuda da Defesa Civil para saírem de casas alagadas

Sem familiares, trabalhadores vão esperar ações da Defesa Civil para saber onde serão abrigados

Todos os anos a situação se repete. No período das chuvas o nível do Rio Branco sobe e transforma a realidade de famílias ribeirinhas. Um desses casos acontece aos oleiros que trabalham logo depois da Ponte dos Macuxis, onde já é área do Município de Cantá. 

Por lá, a água invadiu casas, obrigou a interrupção da produção de tijolos, deixando alguns trabalhadores angustiados. São 18 famílias que residem no local e não têm para onde ir durante a inundação. 

Sem ter como trabalhar, os oleiros ficam sem renda para se manter nesse período. Por conta disso, alguns recebem ajuda de familiares que moram em Boa Vista. Pedro Pinho de Souza é um deles, trabalha com olaria há 45 anos e mora sozinho em uma pequena casa de madeira na entrada da chamada Vila Vintém. 

Pedro disse que fica no local até enquanto a água não invade a casa. Quando isso acontece, ele vem para Boa Vista, onde recebe apoio da filha. “Não penso em sair, mas se a água chegar, falo com os meninos e vou para o bairro Tancredo Neves. Quase todos os anos faço isso. Teve um ano que não saí. A água veio até a porta e baixou. Agora ninguém sabe se vai subir mais”, afirmou.

No caso do Valdino Luiz da Silva, oleiro há 20 anos, a situação é mais complicada. Ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ano passado e desde então não trabalha. Ele se mantém com doações e se preocupa por não ter família ou conhecidos para pedir suporte. 

“Eu sou sozinho e não tenho benefício de nada. Quem pode pagar aluguel, paga. Desde o meu acidente eu não tive mais condição de fazer nada. Ano passado a Defesa Civil deu abrigo, mas não ofereceram nenhum pacote de café e de bolacha para a gente”, contou. 

Conforme os trabalhadores, todo ano a Defesa Civil do Cantá e a de Boa Vista, além da Defesa Civil do Estado, dão algum tipo de apoio e oferecem abrigo para as famílias. Este ano, até o momento nenhuma entidade procurou para auxiliar na retirada do local.


Na parte onde fica a produção dos tijolos, a água já alcançou o teto dos barracos. Para evitar mais prejuízos, os oleiros vendem na beira da estrada os tijolos que conseguiram tirar antes da inundação. Dizem que a procura é pequena, mas por enquanto não pretendem reduzir os preços. 

Gil Martilis trabalha como oleiro faz 18 anos. Para ele, a única coisa que resta é esperar para poder retomar os trabalhos. “A situação aqui é complicada. Esse ano a Defesa Civil não apareceu, aí a minha família inteira ainda tá aqui. Não tem para onde ir. Então a gente fica”, completou. 

Gil disse que muitos amigos dele estão procurando trabalhos temporários para sobreviverem até agosto, quando o Rio Branco começa baixar. Mas ressalta que até esse tipo de serviço é difícil.

CANTÁ – Por telefone, o secretário de Finanças da Prefeitura do Cantá, Sérgio Rangel informou que ano passado o Município fez uma parceria com a Defesa Civil do Estado para ajudar na retirada dos moradores do local. 

Este ano, porém, enfrenta resistência dos moradores porque eles preferem abrigo em Boa Vista. Reforçou que nunca houve recusa por parte da Prefeitura do Cantá em ajudar os oleiros. 

O secretário Sérgio Rangel esclareceu que a Defesa Civil do Estado entrou em contato para saber quais medidas serão tomadas em parceria e que esta semana os trabalhos serão iniciados. 

Ele informou que todos os anos são feitas recomendações para a saída dos moradores, mas eles resistem. “Vamos definir os abrigos e as cestas básicas para as famílias que serão atendidas”, comentou. 

GOVERNO – Por meio da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDC), através de Nota o Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBMRR), informou que desde o início do inverno intensificou as ações de resposta em consequência das chuvas em todo o Estado. 

Além de realizar o monitoramento diário das condições meteorológicas e do nível do Rio Branco, a Defesa Civil mantém um efetivo de sobreaviso para realizar vistorias in loco nas áreas críticas na capital e no interior, bem como atuar de forma emergencial.

Apesar de não haver registro de desabrigados em decorrência do período chuvoso, a CEPDC já dispõe de locais com infraestrutura que podem ser usados em caso de eventual necessidade. O ginásio da Escola Estadual 13 de Setembro está passando por melhorias para acomodar possíveis desabrigados na área da olaria.

A situação dos moradores da olaria é sazonal e todos os anos a CEPDC realiza a conscientização junto à Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (COMPDC) do município do Cantá sobre a vulnerabilidade do local, em decorrência da elevação do nível do Rio Branco.

Diante desse alerta, esforços são adotados para que a Defesa Civil Estadual mantenha as ações de prevenção e mitigação durante o período do inverno. Em caso de emergência, a solicitação deve ser comunicada pelo telefone de emergência 193 ou pelo telefone 199 da Defesa Civil Estadual.

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