Cotidiano

Negro é invisível em RR, diz professora

Coordenadora de Núcleo diz que o Brasil é avançado na legislação das questões étnicas, mas com pouca coisa implementada na prática

O Dia da Consciência Negra é comemorado hoje, dia 20, em todo mundo. A  coordenadora do Neabi (Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígenas) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR), Cristina Oliveira, disse que a implementação das políticas públicas voltadas para a inclusão étnico-racial ainda é dos maiores desafios para que a cultura de negros e indígenas comecem a ser percebidas pela sociedade da Região Norte.   
Durante reunião realizada na semana passada em Manaus (AM) com representantes de todos os estados da região Norte e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR), ela disse que o negro em Roraima, assim como em toda região amazônica, ainda é invisível. “Em toda região Norte tem muito a ideia de só ver o indígena, de focar muito a cultura indígena e outras culturas. Isso acaba sendo, de certa forma, invisibilizada”, frisou. 
Segundo a coordenadora, é recorrente ouvir o questionamento: “Se não existe negro em Roraima, então para quê estudar e pesquisar essa área?”. “Isso mostra que existem pessoas alienadas do processo que está acontecendo em todo Brasil, que é um país extremamente avançado na legislação das questões étnicas, com muitas garantias constitucionais, mas na prática não são implementadas”, disse Cristina.
Como exemplo, ela citou a Lei 10.639, que institui o ensino da História da África e da Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas, que foi sancionada em 2003. Já se passaram onze anos e as escolas não conseguiram colocá-lo em prática.
PERFIL – De acordo com o Censo de 2010 do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a população de negros em Roraima era de 26.364 pessoas. Os que se autoidentificaram como pardos somaram 275.908 pessoas. 
“Se for levado em conta o que diz o Estatuto da Igualdade Racial, que ressalta que a população afrodescendente no Brasil é definida como todo aquele que se declara preto ou pardo, dessa forma podemos afirmar que a população de Roraima é eminentemente afrodescendente, já que, juntando os dois grupos, dá mais de 70% da população de Roraima”, frisou Cristina Oliveira.
Pelo levantamento feito pelo Neabi, o perfil da maior parte população negra em Roraima aponta que são jovens de 25 a 29 anos, com renda de mais de meio salário mínimo até um salário mínimo. “Percebe-se que é uma população que apresenta um perfil masculino, jovem e de baixa renda. Isso corrobora as estatísticas nacionais, quando se fala em racismo e falta de espaço e oportunidade. Comprova a realidade de que o negro não consegue ascender socialmente no Brasil por conta da desigualdade social”, frisou a coordenadora do Neabi.  
COTAS – Quanto ao sistema de cotas nas escolas, instituídos por lei no Brasil, Cristina Oliveira afirmou que está aos poucos sendo aplicada. No IFRR, por exemplo, foi instituído no ano passado.  “Com a implantação do sistema de cotas, 50% das vagas são destinados a alunos que apresentam renda com até um salário e meio ou que sejam étnico-racial, de preto, pardos ou indígena e vai concorrer a uma vaga dento de seu grupo”, disse.
Ela explicou que não existem privilégios para essas pessoas. “Existe a igualdade de condições entre eles, embora façam uma prova com o mesmo nível que os outros”, frisou. Em alguns casos, as vagas são mais disputadas entre eles que entre os que tentam a ampla concorrência, conforme Cristina. “Às vezes, é melhor o cotista ir para a ampla concorrência do que disputar uma vaga pelo sistema de cotas”, frisou. (R.R)    
Semana da Negritude encerra na sexta-feira
A I Semana da Negritude e o 9º Dia da Consciência Negra encerram-se nesta sexta-feira. O evento começou na segunda-feira, 17, no Campus Boa Vista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR), numa promoção do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) e da Coordenação de Comunicação Social (CCS/CBV).
Segundo a coordenadora do Neabi, Cristina Oliveira, ao longo da semana estão ocorrendo debates, oficinas, minicursos, mostra científica e mesas-redondas em diferentes eixos temáticos, como Saúde da População Negra; Corpo, Movimento e Identidades Negras; Artes e Linguagens; Políticas Públicas e Ações Afirmativas; Educação para as Relações Étnico Raciais; Literaturas Negras e Diásporas; Segurança Pública, Violência Urbana e Juventude Negra; Raça, Racismo e Antirracismo, entre outros.
O IFRR já comemora o Dia da Consciência Negra há nove anos e neste ano resolveu promover a I Semana da Negritude, sendo o primeiro movimento do Neabi, que foi criado para trabalhar ensino, pesquisa e extensão dentro da temática de educação étnico-racial, no caso específico de Roraima, contemplando afrodescentes e indígenas. “Apesar de ser a primeiro evento que promovemos, a participação está sendo muito boa, em especial na parte lúdica de dança e capoeira, mas de um modo geral está sendo muito positivo”, frisou.
PROGRAMAÇÃO – Conforme a programação, nesta quinta-feira, 20, data marcada pelo Dia da Consciência Negra, serão realizadas mesas-redondas com os temas “Comunidades Tradicionais de Matriz Africana”, com a presença dos sacerdotes do culto Nagô Vodun Fon, Babà Orlando Bassú (liderança do Abassá Afro-Brasileiro Lego Xapanã, de Belém-PA) e Mãe Adansan Yatylyssalefan (liderança do Ilê Axé Obá D’Alaguinã, de Boa Vista).
Orlando Bassú é conselheiro do segmento Cultura Afro no Conselho Municipal de Política Cultural de Belém (PA) e presidente do Conselho de Ritual da União Religiosa dos Cultos Umbandistas e Afro-Brasileiros (Urcabep-PA). Mãe Yatylyssá é assistente social e integrante da Rede Amazônia Negra (RAN). Ainda compõem a mesa os estudantes Ibukun Chifé Didier Adjitche e Sédjo Enock Telesphore Montcho, do Benin (África).
Encerrando a programação, na sexta-feira, o debate será “Cultura Afro-Brasileira”, com a mesa-redonda integrada pelo professor Édio Batista Barbosa (UERR/Faculdade Estácio Atual), professora Ana Paula Araújo Braga (UFRR), Maysa Mathias Alves Pereira (UFRR) e Jéssica Helena da Silva (Unifal-MG), estudiosos do tema “Cultura Afro-Brasileira” e suas inter-relações com outras áreas do conhecimento, além dos estudantes Michel Andy Loembet (Congo Brazzaville, África), Joseph Tchivinda do Amaral (Angola, África) e Onogifro Euclisio Correia de Matos (Guiné Bissau, África).
Os debates iniciam sempre às 19h, precedidos de apresentação cultural a partir das 18h, no auditório do IFRR Campus Boa Vista. (R.R)