Cotidiano

Mortalidade neonatal aumenta e pode ter relação com imigração

Falta de acompanhamento médico durante a gestação, como é o caso das venezuelanas, contribui para mortalidade neonatal

Não é novidade que a imigração que vem ocorrendo nos últimos anos em Roraima tem causado impactos diretos tanto nos setores sociais, quanto nos serviços essenciais para a população. Um desses pontos é a taxa de mortalidade neonatal. 

De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), em 2015 foram registrados 122 óbitos e 10.544 nascidos vivos, o que representa uma taxa de mortalidade de 11,57 para cada mil nascimentos. No ano seguinte, foram 10.309 nascidos vivos e 124 mortes, resultando uma taxa de 12,02. 

O ano de 2017 foi o menor em relação ao número de mortes neonatais, com 116 óbitos e 10.795 nascidos vivos no ano, dando uma taxa de 10,74 para cara mil nascidos. Já no primeiro semestre de 2018, a Sesau registrou 4.238 nascidos vivos e 47 óbitos neonatais, representando uma taxa de 11,09. Esses dados não mostram quais são os bebês de mães imigrantes, portanto não é possível determinar a porcentagem de mortes de bebês de mães imigrantes.

Segundo a diretora clínica do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, Eugenia Glaucy Moura, a imigração é um novo fator de risco para mortalidade neonatal por conta da falta de estruturas para as gestantes, o que iguala a situação de famílias de baixa-renda, mas que Roraima acompanha os dados gerais da Região Norte. “O baixo peso ao nascer, o risco gestacional e condições do recém-nascido são os principais fatores associados ao óbito neonatal. A inadequação do pré-natal e as dificuldades de atenção ao parto são indicadores de qualidade e de causas”, explicou.

A diretora explicou também que é preciso ter atenção com o acompanhamento das gestantes durante o parto e também no nascimento das crianças que nascem com menos de 1.500 kg. “Óbitos de recém-nascidos a termo por asfixia intraparto e por prematuridade tardia expressam a evitabilidade dos óbitos. É preciso avançar nas políticas públicas relacionadas às causas, incluindo o Estado de Roraima no princípio da equidade no contexto da redução das taxas”, completou.

Eugenia Glaucy afirmou que, para tentar diminuir esses números, o Governo do Estado tem procurado se organizar na qualificação da atenção com programas junto com o Ministério da Saúde. Um deles é o QualiNEO, uma estratégia que visa qualificar o atendimento ao recém-nascido de risco, sendo integrado em diversas ações para evitar a mortalidade e realizando acompanhamento e monitoramento da criança nos primeiros 28 dias de vida.

O outro programa é o Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia (ApiceOn), que aprimora o modelo de atenção ao parto, nascimento e abortamento, por meio de oficinas e capacitações de profissionais e estudantes. (A.P.L)

Casa da Gestante acolhe grávidas de alto risco e mães de recém-nascidos na UTI

Mercelina Inácio André, de 33 anos, vive na comunidade indígena Manalai, uma aldeia isolada, aos pés do Monte Roraima, no Município de Uiramutã, cujo acesso só é possível por via área. Grávida do quarto filho, a indígena ingaricó que fala pouco o português precisou se deslocar até a capital, Boa Vista, para dar à luz no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth. O bebê nasceu no dia 26 de junho, mas precisou ser internado na UTI Neonatal, por complicações respiratórias, onde permanece até hoje, recebendo assistência médica e o aconchego da mãe, acolhida na Casa da Gestante, um espaço anexo à maternidade, construído especialmente para dar apoio a essas mulheres.

A Casa da Gestante foi inaugurada em maio de 2016. Desde então, já acolheu 1.139 mulheres como Mercelina, que precisam permanecer no ambiente hospitalar, embora não estejam internadas, para dar suporte aos bebês recém-nascidos na UTI, ou grávidas de alto risco que necessitam de cuidado especializado para garantir que a gestação chegue até o final. 

“Trata-se de um serviço de acolhimento essencial para garantir a saúde da mulher e que também evita a mortalidade infantil. Na Casa da Gestante, essas mães e futuras mamães recebem todo acompanhamento de uma equipe multiprofissional, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, mas num ambiente com mais aconchego, para que elas se sintam em casa”, explicou a governadora Suely Campos.

Para a recuperação de um recém-nascido na UTI, a presença da mãe é essencial e até mulheres que vivem em Boa Vista optam por permanecer na Casa da Gestante para estarem mais próximas do bebê. “Moro no bairro Senador Hélio Campos. Não conseguiria vir aqui todos os dias, por isso a Casa da Gestante me ajuda muito em estar perto do meu filho nesse momento que ele mais precisa”, disse Silvana Oliveira, mãe de Gabriel, que nasceu dia 28 de abril, já passou por três cirurgias e segue internado, se recuperando bem, com a presença da mãe.

Essas puérperas, como são chamadas, têm uma rotina que precisa ser seguida à risca, como ir à UTI amamentar o bebê a cada três horas e fazer a coleta no Banco de Leite Humano que também funciona na maternidade.

Lisione Pereira, 23 anos, deu à luz há oito dias, e aguarda a recuperação do filho. “Sou de Rorainópolis e tenho somente uma cunhada em Boa Vista. Aqui na Casa da Gestante tenho acesso mais rápido ao meu filho, amamento de três em três horas, tudo para que ele se desenvolva, ganhe peso e possamos ir pra casa logo”, contou.

A Casa da Gestante tem capacidade para vinte mulheres, em quartos com camas ou redes, uma opção dada às mulheres, principalmente indígenas, que culturalmente dormem em redes, com atendimento adequado e humanizado. 

Para que se sintam em casa, essas mulheres dispõem de uma cozinha equipada para preparar alimentos do seu agrado, em complemento às sete refeições fornecidas diariamente pela maternidade às internas.