Cotidiano

Militarização de escolas desperta interesse de alunos pelos estudos

Alunos recebem constantes incentivos para melhorar o desempenho nas aulas, como as promoções, medalha de mérito intelectual e entrega de alamar

A melhoria na aprendizagem proporcionada pela militarização das escolas já é uma realidade em Roraima. No Colégio Elza Breves, o primeiro a ser militarizado em 2016, no bairro Senador Hélio Campos, em Boa Vista, o nível de aprovação dos alunos aumentou de 87% em 2016 para 96% no primeiro bimestre de 2018. É um resultado comemorado principalmente pelos pais, que agora veem os filhos mais disciplinados e estudiosos. 

O alamar – peça de uniforme militar formada por cordões entrelaçados, que representa uma condecoração por mérito intelectual – é o sonho da maioria dos estudantes dos colégios militarizados. O reconhecimento é feito somente aos alunos que atingem boas médias e têm bom comportamento, um exemplo de como o ensino militarizado produz resultados imediatos no processo ensino-aprendizagem e na melhoria da qualidade da educação.

Para exibir o alamar no uniforme, os alunos precisam conquistar média semestral acima de 8,5 e que não reprovar em nenhuma disciplina. É preciso ainda ter bom comportamento. Esses são os principais estímulos dos 18 colégios militarizados implantados em Roraima nos últimos três anos, com uma gestão compartilhada entre a Secretaria Estadual de Educação, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros.

Esses colégios, que já atendem 20 mil alunos, seguem a metodologia do Colégio Militar Coronel Derly Luiz Vieira Borges, que na atual gestão conquistou nota 7 no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), realizado em 2015, ficando entre os cinco melhores colégios militares do país e 15% acima da média nacional.

Para incentivar os alunos a se destacarem por meio das boas notas, os colégios militares também promovem os alunos a diversas patentes e entregam medalhas de mérito intelectual. Somente em 2018, 58 estudantes foram promovidos. Promoções que vão da graduação de cabo à patente de coronel, dependendo da série e desempenho escolar de cada um. As patentes possuem posições de destaques durantes as formaturas, e a maior patente do corpo de alunos é quem comanda o batalhão escolar. Na rotina diária, as graduações e patentes têm funções simbólicas, porém cada turma possui um chefe e subchefe, que tem entre suas atribuições coordenar e fiscalizar suas turmas.

Sariene Lima, de 17 anos, cursa a 3ª série do Ensino Médio no Colégio Elza Breves. Desde a militarização, ela vem mantendo as notas com média acima de 9,0 em todas as disciplinas e já recebeu 12 alamares. Além disso, foi promovida à patente de aluna-major, a mais alta existente hoje em sua unidade de ensino, onde comanda todo o corpo de alunos.

“O que mais me incentiva é o conceito de militarização, baseado em regras e normas parecidas com os da Polícia Militar, profissão que acho linda e que de certa forma me influencia a querer seguir uma carreira militar. Atualmente, possuo a patente mais alta da escola, que é de major, e até o fim do ano quero chegar a coronel. O alamar é um incentivo a mais para os alunos, e gera uma espécie de competição saudável entre nós, não para querer ser melhor que o outro, pois sempre estamos ajudando os demais a alcançar e manter o padrão de média exigida para receber as condecorações”, relatou Sariene.

Para Samuel Lima, pai da aluna, é um orgulho ver a filha como exemplo. “Sariene sempre foi estudiosa e consegue manter as notas acima da média dos demais. A escola militarizada tem um método de ensino diferente das demais escolas estaduais e veio para somar com a identificação dela. É um projeto muito bom, que veio para encaixar com o perfil dela e ajudar também muitas famílias, principalmente pela disciplina aplicada dentro dos colégios, que reflete de forma positiva dentro de casa”, pontuou o pai. 

O gestor administrativo do Colégio Elza Breves, tenente-coronel Adelson Filgueiras, explicou que o primeiro lugar de cada série ganha medalhas por mérito intelectual e tanto as medalhas como os alamares contam pontos para as promoções que são realizadas anualmente. Atualmente o colégio atende 930 estudantes, distribuídos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental maior e da 1ª a 3ª série do Ensino Médio.

“A parceria da Polícia Militar com a Secretaria de Educação na gestão de Ensino Básico Militar vem resgatando esse interesse dos alunos pelos estudos. Antes, eles não se interessavam tanto pelos estímulos para aprender, mas com a militarização começaram a gostar de estudar, pois sentem que são reconhecidos. O alamar, as promoções e as medalhas têm sido um incentivo importante”, disse Filgueira.

APROVAÇÃO – No Colégio Elza Breves, o nível de aprovação dos alunos aumentou, passando de 87% em 2016, para 96% em 2018. “Houve uma grande melhoria no aprendizado, tivemos muitos alunos aprovados no último vestibular. E ano passado um de nossos alunos do 9º ano ficou em 3º lugar nas Olimpíadas Nacional de Matemática. Mesmo sendo perceptíveis os avanços no aprendizado dos alunos, estamos aguardando o resultado o Ideb para termos a comprovação dessa melhoria”, citou.

Ainda conforme Filgueiras, outro ponto importante para melhorar o aprendizado dos alunos, é o investimento feito para valorização dos professores. “Em nível de gestão, foram feitas parcerias com a Universidade Estadual de Roraima [UERR] para ofertar de cursos de mestrado, e quase todos nossos professores já estão concluindo a especialização. Com isso, o desempenho desses docentes com os alunos também melhorou dentro de sala de aula. E nas formaturas, também buscamos valorizar o trabalho deles, concedendo reconhecimento para os profissionais que se destacam por mês”, disse.

Rittler de Lucena diminuiu índices de violência

Coordenado pelo Corpo de Bombeiros Militar, o colégio Luiz Rittler de Lucena, o segundo a ser militarizado, tem tido mudanças significativas que ajudam a melhorar a estrutura familiar e a questão social dos estudantes. Localizado no bairro Nova cidade, a unidade atende a 1.710 alunos, em turmas que vão do 6º ao 9º do Ensino Fundamental e da 1ª a 3ª série do Ensino Médio, nos turnos da manhã e tarde. 

“O Ensino Básico Militar contribuiu muito para a melhoria do desempenho e aprendizado dos alunos, uma mudança que pode ser percebida principalmente dentro da escola. Diferente de três anos atrás, quando a escola era conhecida por ser uma com maiores índices de violência e consumo de drogas, hoje temos um ambiente pacificado e tranquilo, com disciplina”, lembrou a tenente-coronel Rosimere de Oliveira.

Ela explica que o Colégio não se preocupa apenas com a questão disciplinar e de aprendizado, mas faz um acompanhamento social, que inclui orientação psicológica para os alunos que possuem algum conflito familiar. “A militarização dos colégios tem ajudado e ainda vai ajudar muito nos próximos anos. A parte disciplinar oferecida alcança várias fases do desenvolvimento dos alunos, que serve de pilar para formação de caráter e personalidade deles para toda a vida. Enquanto as instituições militares entram com a parte de disciplina, a Seed automaticamente consegue melhorar a qualidade de ensino, facilitando o trabalho do gestor pedagógico e dos professores”, analisou a gestora.

REDE – A Rede de Colégios Estaduais Militarizados de Roraima atualmente é composta por 18 colégios militarizados, além do Colégio Militar Coronel Derly Luiz Vieira Borges.

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