Polícia

Foragidos pretendiam criar nova organização criminosa

Criminosos eram apontados como responsáveis por assaltos a bancos, um comércio, um posto de combustível e uma casa lotérica

Na manhã de ontem, dia 28, representantes da Polícia Militar, Polícia Civil e Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) convocaram a imprensa para dar detalhes da operação que resultou na morte dos quatro assaltantes que estavam foragidos do sistema prisional, identificados como Anderson Maxsuelle Dias Mafra, vulgo “Gongo”; Elivandro Batista Ferreira, conhecido como “Vandrinho”; Roniere Santos de Moraes e Wesley Melo da Silva, o “Van Helsen”.

Os policiais fizeram investigações por meio dos departamentos de inteligência das Polícias Militar, Civil e Federal e conseguiram descobrir que o bando, composto por aproximadamente 11 criminosos membros da facção do Comando Vermelho, estava escondido numa área de mata, cerca de cinco quilômetros adentro, na fundiária de um sítio localizado na vicinal 39, cuja via de acesso é a BR-432, no município do Cantá, região centro-leste do Estado.

“É bom frisar que a operação foi em conjunto das Forças Policiais do Estado com policiais federais. Nós já estávamos acompanhando há bastante tempo essas últimas ações que aconteceram no Estado, principalmente os assaltos a banco. Esses indivíduos, desse confronto, são da facção do Comando Vermelho, fugiram na última fuga da Cadeia Pública de Boa Vista e fizeram os últimos quatro grandes assaltos”, explicou o Comandante da Polícia Militar, coronel Edison Prola.

Os criminosos foram identificados como autores dos roubos às agências do Banco do Brasil de São João da Baliza, no último dia 10, e da avenida Ville Roy, dia 25; de um Banco Cooperativo, no dia 19, e de um comércio, um posto de combustível e uma casa lotérica, no município do Amajari, dia 17, ocasião em que tomaram uma pistola que pertence à Guarda Municipal de Boa Vista e um colete à prova de balas.

“Quero fazer um agradecimento ao delegado Alan Robson, da Polícia Federal, que colaborou muito com essa ação. Foi uma ação integrada e conseguimos identificar o local onde eles estavam escondidos. Mandamos equipes da Polícia Civil, Polícia Militar, Dicap [Divisão de Inteligência e Captura] de madrugada e conseguimos surpreendê-los. Quando foram abordados, reagiram e houve o confronto que resultou na morte dos quatro marginais”, revelou Prola.

O delegado Márcio Amorim, diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (DPJI), contou que os policiais ainda estão na região realizando as diligências em busca de outros seis ou sete criminosos que conseguiram fugir. 

“A Polícia passou quase duas noites na mata para prender esses elementos. As investigações prosseguirão. Foi feito o flagrante de uma mulher que prestava apoio a esse grupo. Esse é o destino dado a bandido que quer viver à margem da sociedade. A Polícia não se curvará à ação de bandido. Nosso estado é um estado de paz, pequeno e que não merece esse tipo de ação. Enquanto o sangue correr na veia desses policiais, o combate será efetivo”, complementou.

Além de Edison Prola e Márcio Amorim, também participaram da coletiva o subcomandante da PM, José Damasceno; a Delegada-Geral da Polícia Civil Giuliana Castro; o coronel Elias Santana, do Comando de Policiamento da Capital; e o secretário adjunto da Sejuc, coronel Fabiano Peres. (J.B)

Polícia Civil destacou extensa ficha criminal dos indivíduos

Ainda na coletiva de imprensa, a delegada-geral da Polícia Civil, Giuliana Castro, observou que a operação foi bem-sucedida por conta das atividades em conjunto e que Roraima vive um momento único, de integração. Por fim, ela salientou que os elementos mortos na troca de tiros eram considerados de alta periculosidade. 

“Esses quatro criminosos que estavam escondidos junto com outros, que ainda estamos no encalço, tinham uma extensa ficha criminal. São muitas páginas de fichas carcerárias, fichas criminais e eles respondiam por processos de tráfico de drogas, associação para o tráfico, crimes de homicídios, tentativas de homicídios, roubos, organização criminosa e porte ilegal de arma”, disse.

As investigações da Polícia apontam que Elivandro Batista Ferreira, o “Vandrinho”, foi o responsável pela instalação do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Roraima há alguns anos, mas foi expulso da facção por desavenças internas, migrando para o grupo rival, Comando Vermelho, onde também assumiu papel de liderança.

“Vandrinho é um dos fundadores do PCC em Roraima. Em 2012 foi transferido para o presídio Urso Branco, em Rondônia. Lá, ele foi batizado pelo PCC com a missão de fundar a facção em Roraima, mas por divergências internas, foi expulso, inclusive havia uma questão levantada a respeito da criação de uma nova facção roraimense, por não estar à vontade no Comando Vermelho e tinha a intenção de montar uma facção roraimense, como em Manaus existe a Família do Norte”, acrescentou Prola. 

O nome da nova facção ainda seria decidido, mas as possibilidades eram de a organização se chamar Primeiro Comando Revolucionário (PCR) ou Primeiro Comando da Maioria (PCM). “Em Roraima nós temos uma Polícia competente e a criminalidade pode acontecer, mas aqui, como diz o comandante da PM, ‘bandido não cria nome’, bandido não faz fama. A todos os que afligem a sociedade estamos dando a resposta devida”, enfatizou Giuliana Castro.

Duas mulheres que acompanhavam a rotina dos foragidos, foram ouvidas e, em depoimento, frisaram que os criminosos já estavam preparados para o confronto tanto com os membros da facção rival, quanto com a Polícia. (J.B)

Material usado pela quadrilha foi apreendido

No acampamento improvisado, foram encontradas seis armas, duas delas foram roubadas durante os assaltos praticados pela quadrilha. No total, são duas pistolas, três revólveres e uma escopeta, calibre 12, de fabricação venezuelana, mais 61 munições, sendo 50 intactas e 11 deflagradas, além de cinco cartuchos calibre 12 deflagrados, oito rádios de comunicação com carregadores, um relógio e dois invólucros de substâncias aparentando ser entorpecente. 

Quanto ao dinheiro roubado das vítimas e instituições, que somam mais de R$ 500 mil, a Polícia destacou que continua fazendo as buscas para recuperar os valores. Em depoimentos, duas mulheres, que acompanhavam os foragidos, confessaram que, prevendo a caçada da Polícia, enterraram os pacotes.

Conforme o delegado Márcio Amorim, o poder de fogo e de mando dos que foram abatidos em confronto deve ser levado em consideração.

“Por isso nos antecipamos para localizá-los. Destaca-se também o material de comunicação. São rádios digitais que permitiam eles se deslocarem de um ponto para outro do estado sem serem identificados”, destacou.

Já o Comandante da PM tratou com seriedade a quantidade de armas e munições encontradas com os criminosos.

“Vejam o poder de fogo desses marginais. Isso aqui não é brincadeira. O romantismo de antigamente, tanto de ser policial quanto bandido, acabou. Isso aqui demonstra o poder de fogo e o interesse da facção criminosa em relação ao crime. Mas bandido não vai criar nome e isso é uma resposta das forças de segurança do estado no combate ao crime”, ressaltou Prola.

Os criminosos usaram o sítio da sogra de um dos foragidos, que ainda não foi recapturado e nem está entre os mortos, e a casa servia apenas como um ponto de apoio, uma vez que eles se mantinham refugiados na mata. 

A mulher que foi presa por dar suporte no momento da fuga dos foragidos, sendo abordada na BR-432, era responsável pelo transporte do bando e estava em posse de munição e drogas. Foi apurado que ela é membro do crime organizado na região. 

INVESTIGAÇÃO – Suspeita-se que os criminosos sejam autores do homicídio que ocorreu numa conveniência, localizada às margens da BR-174, no começo da semana, quando um funcionário foi morto sem qualquer reação.

“Eram bandidos de alta periculosidade e agora vão responder pelos seus atos seja lá onde estiverem”, afirmou Giuliana.

Prola acrescentou que os criminosos estavam planejando um assalto ao banco de Rorainópolis.

“Já foi levantado pela inteligência que, por isso, estavam naquela região, já próximo à BR-174 e, após os assaltos, tentariam fugir para Manaus”, concluiu. (J.B)