Cotidiano

Famílias têm casas demolidas sem assinatura de acordo

Seis crianças viviam nas casas, incluindo uma bebê de dois meses de idade

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

A dona de casa Léia de Sousa precisou sair às pressas de uma consulta médica durante a manhã dessa sexta-feira, 9. Isso porque recebeu uma ligação de sua filha relatando que as duas casas da família estavam prestes a serem demolidas.

As residências ocupavam o mesmo terreno, localizado no bairro Caetano Filho, popularmente conhecido como Beiral, que está em fase de revitalização. A obra na área foi anunciada pela Prefeitura de Boa Vista após as enchentes que atingiram diversas famílias, em 2017.

A Prefeitura garantiu que faria acordos com todas as famílias do bairro para que os espaços fossem comprados e as famílias evacuassem a região que deverá se tornar uma nova orla, extensão da obra já existente na beira do Rio Branco.

Léia de Sousa garantiu que não houve nenhum tipo de acordo ou trato entre ela e a Prefeitura porque nunca recebeu nenhuma proposta. “Eu vivia sendo ameaçada, sempre quiseram derrubar a minha casa. Mas ainda não houve negociação”, relatou a dona de casa.

A família vivia há 22 anos no local e assistiu a casa ser demolida com diversos móveis dentro, pois sequer tiveram tempo de salvar tudo. Quando a equipe de reportagem da Folha chegou ao local havia somente madeira e tijolos despedaçados. Entre utensílios domésticos, havia ainda uma máquina de lavar no meio dos restos.

Quando a equipe de reportagem da Folha chegou ao local havia somente madeira e tijolos despedaçados (Fotos: Priscilla Torres/Folha BV)

“Agora estou aqui sem água e sem energia, já registrei B.O. (boletim de ocorrência) na delegacia e estou nesta luta toda. A causa está na justiça e eles vieram e levaram tudo hoje, só ficaram meus dois pés de manga para morar debaixo com meus filhos e família aqui”, lamentou a dona de casa.

Quatorze pessoas viviam nas casas, sendo seis crianças, inclusive uma com apenas dois meses de idade, e as outras com idades que variam entre sete e quatorze anos. “Estou muito triste, não temos para onde ir com seis crianças; tudo que restou foi o pé de manga”, disse, Léia, com pesar.

No momento em que os trabalhadores da empresa Andrade Galvão anunciaram a demolição da casa, a família tentou argumentar que não havia acordo, mas foi insuficiente para conter a ação. Segundo a filha da dona de casa, Wyza de Sousa, a guarda municipal foi acionada e não permitiram que a família se explicasse.

O advogado que representa a família, José Aparecido Correa, informou que já havia uma ação na primeira vara da Fazenda contra a Prefeitura com objetivo de receber uma indenização. “Existe ainda outra ação civil pública que foi movida pela Defensoria Pública e nessa ação existe um acordo feito entre a defensoria e a Procuradoria Jurídica da Prefeitura, então não pode derrubar a casa sem que o responsável pelo imóvel assine um termo de compromisso”, explicou o advogado.

Segundo o advogado, há quinze dias foi realizada uma perícia, contratada por dona Léia de Sousa, para avaliar o valor da indenização e que a perícia já está registrada, portanto não haverá perdas quanto a valores, mas como não houve assinatura de documentos, haverá uma ação por dano moral.

OUTRO LADO – A reportagem da Folha entrou em contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura pedindo a versão da instituição sobre os fatos e como pretendem agir, mas até o fechamento desta edição não obtivemos resposta.