Cotidiano

Falta de clínicas para internação prejudica dependentes químicos

Número de comunidades terapêuticas que fazem tratamento para dependentes químicos em Roraima não é suficiente

Na Capital, quem tenta buscar ajuda para se tratar de vício de alguma droga não encontra atendimento especializado. Com isso, a pessoa vai para a rua para manter o vício e o problema fica sem solução. Em julho deste ano, a Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) começou a derrubar casas e barracos usados por usuários de drogas na área Caetano Filho, o Beiral, localizado na região central da cidade.

Mas destruir os barracos do antigo local conhecido como Beiral, uma feira de drogas, é uma atitude que não representa a solução do problema. Em entrevista, um usuário que não quis ser identificado que vivia no Caetano Filho, confirma. “Não tem jeito de trabalhar, não tem jeito de fazer nada, a gente é viciado, e como vamos manter o vício?”, afirma o usuário.

Nem o Executivo estadual oferece clínica para recuperação. O que se faz é um trabalho paliativo. As comunidades terapêuticas que fazem tratamento para dependentes químicos em Roraima não são suficientes para atender a demanda existente e o número de usuários só aumenta. A prova disso, é que nas unidades existe uma lista de espera de pessoas aguardando uma vaga. Muitas famílias que não conseguem tratamento público procuram a Defensoria Pública Estadual (DPE).

De acordo com o Movimento de Ajuda aos Dependentes Químicos, o Estado não tem estrutura adequada e a implantação de uma casa de recuperação por parte do Executivo é necessária. Falta melhoria no atendimento no Hospital Geral de Roraima (HGR), que não tem um atendimento adequado para atender esses pacientes. É preciso trabalhar as três áreas: prevenção, recuperação e a repressão, as três áreas têm que estar fundidas e serem trabalhadas juntas.

EXEMPLO – O ex-dependente químico Flávio Castellar disse que saiu do mundo das drogas graças a uma Comunidade Terapêutica de Recuperação, unidade que presta serviço sem fins lucrativos. “É muito difícil a recuperação. É uma situação grave, social, de saúde, segurança e de educação, e falta ainda muito por parte das políticas públicas”, disse Flávio ao relatar que passou seis meses internado.

PREFEITURA – A Prefeitura de Boa Vista esclarece que quanto ao dependente químico, isso inclui o alcoolismo, o trabalho do município é com ações preventivas, por meio da oferta de escolas com qualidade, de projetos sociais que oferecem outras oportunidades positivas para crianças e adolescentes. O município dispõe ainda dos Centros de Referência em Assistência Social (Cras), que oferecem orientação e apoio às famílias de como lidar com diversos temas, entre eles o alcoolismo e drogadição.

A prefeitura acompanha ainda os dependentes por meio do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas). As demandas chegam ao Creas através de encaminhamentos da rede de saúde, educação e dos Cras, e também pela equipe de abordagem social da unidade.

GOVERNO – Nos casos de busca voluntária por tratamento de transtornos ligados ao consumo de álcool e de outras drogas, o Estado possui duas unidades voltadas a este tipo de tratamento. O Caps AD 24h (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas) que funciona na Rua Sócrates Peixoto, 138, Jardim Floresta, também de portas abertas para a população. Só neste ano, a unidade já recebeu quase 350 novos pacientes.

Há também a Unidade de Acolhimento, que recebe pacientes encaminhados pelo Caps AD, sendo dependentes químicos maiores de 18 anos, de ambos os sexos, que se encontram em sofrimento psíquico com necessidade de um cuidado mais específico e prolongado.

Já em situações de crise, as pessoas são conduzidas para o HGR (Hospital Geral de Roraima) e depois de saírem do surto, seguem o tratamento no Caps.

A Folha tentou entrar em contato com as Comunidades Terapêuticas existentes em Roraima, mas não obteve êxito. (E.S)