Cotidiano

Entidade que trabalha com dependentes químicos cobra apoio das autoridades

Depois de retirados de um prédio público ocupado por 40 pessoas, entidade afirma que não tem onde atender os dependentes

Membros da Casa de Recuperação Auto Refúgio da Igreja Missionária Auto Refúgio realizaram uma manifestação, na manhã de terça-feira, 21, em frente à sede da Prefeitura Municipal de Boa Vista, para cobrar o desenvolvimento de trabalhos com dependentes químicos na Capital. A indignação do grupo tomou força após os dependentes terem sido retirados de um prédio público, de responsabilidade do Município, no bairro Buritis, na zona Oeste, onde a instituição ocupou para funcionar como sede.

Conforme Kinho Correia e o pastor Junior Campos, que desenvolvem o trabalho com dependentes químicos no Estado, o espaço que foi desocupado, localizado na Rua João Padeiro, estava abandonado há oito anos e há cerca de um mês começou a ser utilizado pelo grupo de recuperação. “Começamos o trabalho naquele local, pois recebemos a informação de que o espaço era utilizado como ponto de venda e compra de drogas e prostituição, onde três pessoas usuárias de drogas estavam morando. Começamos o trabalho de recuperação, de auxílio dessas pessoas. Fizemos uma limpeza do local e cortamos o mato. Hoje, essas três pessoas trabalham conosco como voluntárias e o local se tornou um espaço de recuperação”, explicou o pastor.

“Nós tínhamos muita reclamação da população das redondezas. Diziam que não era possível nem andar naquela rua por conta do roubo, e hoje os vizinhos nos agradecem pelo trabalho e até nos ajudam com a alimentação, porque vivemos através de doações”, complementou o religioso.

OCUPAÇÃO – O grupo de recuperação tem ciência de que utilizava um prédio público, mas informaram que eles acreditavam que o prédio pertencia ao Estado. Quando o Município teve conhecimento da ocupação, solicitou a saída da entidade e, na segunda-feira, 20, promoveu uma ação de desocupação da área.

“Recebemos uma notificação da Prefeitura para desocupar o espaço em dois dias. Nesse período, nós não conseguimos arranjar um espaço para levar as 40 pessoas. Então, a Guarda Municipal chegou, nos despejou e hoje a gente se encontra na rua, se alimentando na rua próximo à caixa d’água do bairro Buritis”, frisou o pastor Júnior.

“Recentemente, a Guarda Municipal retirou as pessoas, dizendo que o prédio é deles, expulsaram todo mundo na marra. A gente, para evitar conflito, começou a tirar as coisas. São 40 pessoas morando por lá, sem ter para onde ir, com os colchões na rua. Queremos cobrar uma posição de trabalho na área porque o poder público não faz nada, não ajuda com recurso nenhum e ainda coloca as pessoas para fora que estão fazendo trabalho”, complementou Kinho Correia.

PREFEITURA – Por meio de nota, a Prefeitura de Boa Vista informou que o prédio, no bairro Buritis, pertence à Secretaria Municipal de Educação e será cedido à Guarda Civil Municipal para ser a sede da Escola de Formação Continuada da Guarda Civil Municipal. “O prédio será revitalizado e o processo já está em andamento”, frisou.

Quanto à ocupação, a Prefeitura alegou que, foi identificado pela equipe da Guarda Municipal e pela Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur), que pessoas invadiram uma área do Município, além de terem deteriorado o prédio e estavam vivendo sem condições de moradia. “Foi identificado ainda que, os invasores fizeram ligação clandestina de energia e água”, destacou.

De acordo com a Prefeitura, as pessoas foram notificadas na semana passada a saírem do prédio, mas não obedeceram à recomendação. “Na segunda-feira, 20, foi feita a retirada, e não foi empregado uso de força, uma vez que não houve resistência por parte dos invasores”, frisou.

Quanto ao dependente químico, a Prefeitura esclareceu que o trabalho do Município é com ações preventivas, “por meio da oferta de escolas com qualidade e de projetos sociais que oferecem outras oportunidades positivas para crianças e adolescentes”. “O Município dispõe ainda dos Centros de Referência em Assistência Social (Cras), que oferecem orientação e apoio às famílias de como lidar com diversos temas, entre eles o alcoolismo e drogadição”, frisou.

Por fim, o Município ressaltou ainda que acompanha os dependentes por meio do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas). “As demandas chegam ao Creas através de encaminhamentos da rede de saúde, educação e dos Cras, e também pela equipe de abordagem social da unidade”. (P.C)