Eleitores pedem dentadura e até filhote de cachorro em troca de voto

Costume de pedir favores para apoiar candidatos é mais comum em pessoas mais velhas, dizem aqueles que trabalham na campanha eleitoral

Embora configurado como um crime eleitoral, ainda persiste no país o costume de troca de voto por favores pessoais. Normalmente a retribuição acontece através do pagamento em dinheiro propriamente dito, mas nem todos têm a mesma necessidade, momento em que aparecem os pedidos incomuns. Em Roraima, por exemplo, eleitores já chegaram a pedir dentaduras e até filhotes de cachorro de raça.

Segundo levantamento feito pela Folha com pessoas que trabalham na campanha eleitoral, os mais comuns são os pedidos por materiais de construção como milheiros de tijolos, sacas de cimento e tábuas, pagamento de contas atrasadas, passagens aéreas e o dinheiro propriamente dito. 

No entanto, alguns pedidos curiosos ainda perduram como a solicitação de um aparelho celular avaliado em R$ 3 mil e até para inteirar o dinheiro para uma cirurgia de lipoaspiração.

“Tem pessoas que me pediram dentadura que em alguns casos chega de R$ 600 a R$ 2 mil, sem brincadeira. Outra vez me disseram que tinha uma pessoa vendendo uns cachorrinhos da raça Pug em torno de R$ 1 mil e que se o candidato comprasse o filhote conseguiria o apoio de toda família, 12 votos no total”, informou uma fonte.

PERFIL DOS ELEITORES – A informação é que esse tipo solicitação ocorre com maior frequência durante as ações que participam a população mais velha ou idosa. Os jovens parecem ter certa aversão a esse tipo de troca, preferindo trabalhar e agir como cabo eleitoral na rua, balançando bandeira e entregando ‘santinho’, ou seja, incluídos naquele percentual de empregos em campanha garantidos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Os eleitores também não têm pudores no momento de pedir favores e o fazem explicitamente, mesmo sem nem ter conhecido o candidato em questão, informam os servidores de campanha.

“Teve uma pessoa que pediu uma reunião com o (a) candidato (a) para conhecer as propostas e, quando chegou no dia, informou que só ia fazer o encontro se ganhasse uma botija de gás”, informou uma fonte. “É algo que ficou enraizado, principalmente nas pessoas mais velhas. Os idosos preferem ficar em casa e vender os votos”, acrescentou outra.

Para quem trabalha na política, chega a ser difícil ir contra os costumes que, de alguma forma, fazem parte da cultura local, já que muitos candidatos costumavam realizar ações de assistências sociais e troca de materiais por voto. 

A solução para o problema, dizem os trabalhadores, é justamente tentar esclarecer à população da prática incorreta, sobre a importância de votar em alguém que represente os seus desejos e focar na juventude que tem cada vez mais participado da política, de forma que a atividade seja coibida nos próximos anos.

“As pessoas não têm ideia dessa forma errada de troca, de barganha pelo seu voto. O voto se tornou algo sem valor, sem aquela força democrática. É uma questão de moeda mesmo. Algumas pessoas, infelizmente uma parcela muito grande, ainda pensam dessa forma”, lamentam. (P.C.)