Cotidiano

Donos de chácaras denunciam poluição

Produtores de soja e fazendeiros da região são acusados de construir barragens e despejar agrotóxicos no igarapé em Alto Alegre

Proprietários de chácaras localizadas na Vila São Silvestre, no Município de Alto Alegre, região Centro-Oeste do Estado, denunciaram que produtores de soja e fazendeiros estão poluindo o igarapé Água Boa, com a construção de barragens e o despejo de agrotóxicos usados nas plantações.

Segundo um dos proprietários, Claudemir Souza, os produtores desmataram toda mata ciliar do igarapé e construíram valas para escoamento. “Em janeiro, nós tínhamos um igarapé totalmente diferente e agora está essa situação. Os produtores de soja aradaram e desmataram até a beira do igarapé e fizeram uma vala para escoar os agrotóxicos e areia solta, que vão tudo para a água”, disse.

Conforme ele, até uma barragem de cerca de seis metros de altura foi construída na área. “Para piorar a situação, um fazendeiro fez uma barragem cruzando o igarapé de um lado para o outro. Nessa barragem dentro da propriedade dele tem um mar de água sem tamanho, mas o igarapé está morrendo porque não corre mais água”, relatou.

Com a poluição, o igarapé, que chamava a atenção de quem frequentava a região por conta das águas cristalinas, agora representa risco aos banhistas. “Durante muitos anos tentamos preservar o igarapé, porque é um ponto turístico. Como a água era cristalina, as pessoas iam para tomar banho, mas agora não vão mais”, comentou o proprietário.

Ele relatou que os outros proprietários tentaram conversar com os produtores, mas foram ignorados. “Conversamos com eles e falaram que, se quiséssemos, era para procurar a Justiça. É o que faremos. Com um abaixo-assinado denunciaremos a situação aos órgãos ambientais para ver o que podem fazer por nós”, informou.

A situação tem prejudicado cerca de 70 famílias que vivem no local. “Estamos na Semana do Meio Ambiente e queremos que os órgãos façam algo por nós. As pessoas tomam banho e ficam com coceira no corpo por conta dos agrotóxicos que são jogados lá, fora que a água não é mais cristalina, ficou branca por conta da poluição”, lamentou.

Especialista alerta para danos à fauna

Questionado sobre os impactos causados pela poluição decorrente do despejo de agrotóxicos no igarapé, o especialista em recursos hídricos da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Vladimir de Souza, afirmou que a ação pode até acabar com a fauna presente no igarapé. “O agrotóxico, dependendo do tipo, é altamente contaminante e pode contaminar toda cadeia alimentar. Alguns agrotóxicos, inclusive, podem acabar com a fauna aquática”, alertou.

Conforme ele, os defensivos agrícolas despejados na água alteram a coloração. “A mudança na coloração pode estar relacionada aos sedimentos e argilas que são levados pelo igarapé, porque antes tinha a mata ciliar e a vegetação, e esses materiais podem mudar a cor da água. O agrotóxico não é visível, somente se estiver em altíssima concentração”, explicou.

De acordo com o especialista, a situação traz sérios riscos à saúde. “Já teve casos em Boa Vista de vários peixes terem morrido em grande quantidade e suspeitaram que foi por agrotóxico. Traz riscos tanto para o animal quanto para o ser humano, porque alguns são venenos e vão acarretar vários problemas de saúde”, afirmou.

Multa varia de R$ 1 mil a R$ 50 milhões, diz Femarh

O diretor presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), Rogério Campos, disse que o órgão tem apurado denúncias de poluição de igarapés no interior. “Na verdade, a Lei deixa claro que quem licencia tem a competência de fiscalizar, mas isso não impede de fiscalizarmos quando as denúncias chegam para nós. Temos interesse de verificar e apurar para ver o que está ocorrendo”, contou.

Conforme ele, a multa para quem pratica crimes ambientais varia de R$ 1 mil a R$ 50 milhões. “São dois tipos de multa, uma trata sobre o licenciamento das atividades de produção, e a outra sobre a destruição visual e mortandade dos animais por contaminação. Varia muito de acordo com o impacto do volume de área atingida”, explicou.

Ele pediu para que quem se sentir prejudicado com crimes ambientais que procure o órgão e denuncie. “Todas as denúncias encaminhadas à Fundação são apuradas, sejam na Capital ou do interior, ficamos abertos e solicitamos que os moradores e a população que tenha visto algum crime ambiental que nos procure e faça a denúncia”, frisou. (L.G.C)

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