Cotidiano

Deficientes visuais ainda enfrentam desafios diários

Calçada desnivelada ou piso tátil que leva a uma quadra de tênis são alguns desafios que os cegos devem vencer todos os dias

Hoje, dia 13 de dezembro, é Dia Nacional da Pessoa Deficiente Visual ou do cego. A data foi criada pelo então Presidente da República Jânio Quadros, em 1961, como uma forma de sensibilizar a população quanto às necessidades e desafios de quem está sem visão.

Em Roraima, a Associação dos Deficientes Visuais de Roraima (Advir), que existe há 18 anos, foi criada como uma forma de ajudar deficientes a manterem uma vida ativa, com atividades voltadas para informática, linguagem braille, artesanato, coral e cozinha.

A advogada Tainá Guerra, de 23 anos, ficou cega este ano por causa de uma trombose. Ela contou que a associação foi fundamental para sua adaptação sensorial e descobriu que cegos são capazes de fazer coisas que para muitos podem parecer improváveis.

“Eu tive uma trombose, que me fez ficar sem os movimentos, a sustentação do tronco e, cega. Fiz fisioterapia e já consigo me mexer normalmente, mas minha visão não voltou. Por isso, estou me adaptando e me sinto privilegiada em ter sido acolhida pela Advir. O que mais me surpreendeu é ter aprendido a cozinhar, algo que imaginava que deficientes visuais não poderiam fazer. Eu também consigo mexer no celular, com a função de voice over. Só do computador que ainda estou apanhando um pouco”, relatou.

A presidente e fundadora da Advir, a servidora pública Vera Sábio, explicou que, apesar da associação sempre buscar formas de cada um poder manter uma boa qualidade de vida de forma independente, ainda há desafios estruturais em Boa Vista. “Em muitos prédios públicos, a imagem que passa é que cego só vai para o banheiro ou beber água. Não há um piso que nos guie até a vara, sala ou seção que queremos. Muitos de nós acabamos preferindo usar a parede, pois ajuda muito mais”, comentou.

Vera também destacou que, às vezes por mais bem intencionadas que certas estruturas possam parecer, elas possuem erros que são fruto do próprio fluxo de objetos e mercadorias ou uma falta de linearidade em obras.

“O Caxambú é um exemplo clássico disso. Por lá existem pessoas vendendo tudo quanto é tipo de coisa de todas as formas. Como resultado, certos trechos do piso são intransitáveis. Em vários pontos da cidade, há uma rampa que leva para a rua, só que sem ter uma faixa de pedestre e, o que é pior, não ter uma rampa logo a frente do outro lado, pois cego só anda para frente, e nós precisamos ficar tateando o desnivelamento e correr risco de ser atropelado por não estarmos em uma faixa que deduzimos estar lá já que havia uma rampa de acesso a rua”, afirmou.

O massagista e acupunturista Valdecir Rodrigues de Andrade, de 60 anos, reforçou as críticas levantadas por Vera e destacou que a falta de sensibilização mais grave não vem da população, mas sim daqueles que estão no poder.

“Um piso tátil que leva para uma árvore é inútil. Um piso que tem desnivelamento ou que acaba em um buraco também. Na Praça Ayrton Senna, tem um piso desses que para em uma quadra de tênis, pois cego com certeza deve adorar jogar tênis ou levar uma bolada na cara. Essas coisas são pura falta de cuidado, de pessoas que querem parecer sensíveis na visão pública, mas quem usa sabe que não se importam. É preciso ouvir o cego para entender como planejar essas obras, ou pelo menos ter maior sensibilidade para evitar gafes como essa, que existem em toda a cidade”, pontuou.

Governo oferece atendimento educacional especializado

O Governo do Estado informou, por nota, que atende pessoas portadoras de deficiência visual por meio do Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual (CAP-DV), onde são oferecidos serviços de apoio pedagógico com atendimento educacional especializado.

“O Centro possui um Conjunto de equipamentos e tecnologias para produção de materiais didáticos pedagógicos como livros e textos em braille, ferramentas fundamentais para o desenvolvimento educacional de pessoas com deficiência visual. Também promove a formação continuada de professores e atende pessoas da comunidade para promover mais qualidade de vida a elas”, apontou a nota.

Com relação à acessibilidade nos prédios públicos, o governo informou que, com a nova gestão, pretende realizar um levantamento para identificar quais necessitam de adaptação.

A Folha também entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista, para saber quanto a ações e estruturas oferecidas para deficientes físicos, mas não obteve retorno. (P.B)

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