Cotidiano

Consumo de produtos orgânicos traz benefícios em longo prazo para a saúde

Produção orgânica é mais trabalhosa e onerosa, mas tende a crescer em Roraima

O consumo de produtos orgânicos tem ganhado adeptos nos últimos anos. Eles são mais saudáveis e também biodegradáveis. Podem estar presentes tanto nos alimentos, quanto em produtos cosméticos que visam um melhor aproveitamento de componentes que são encontrados na natureza sem a interferência de qualquer produto químico.

Em Roraima, a agricultura familiar que realiza a produção de alimentos orgânicos já existe há anos e realiza a comercialização em vários pontos da cidade em feirinhas ecológicas. Muitas delas podem ser encontradas em praças de Boa Vista ou até mesmo nos shoppings, dependendo do dia da semana.

Canidé Bessa é produtor orgânico há 13 anos e, para ele, fazer um produto natural tem dificuldades, mas é vantajoso para o consumidor por conta dos nutrientes. Atualmente ele faz parte da Associação Hortivida, que tem a participação de dez produtores rurais e que realizam a chamada organização de controle social, onde cada um recebe uma certificação, mas também é o próprio fiscalizador.

“Cada dia vai aparecendo um cliente novo, vão descobrindo a feirinha e vão se tornando clientes. Fazer produto orgânico às vezes tem problemas que você não consegue solucionar. Roraima é um lugar fácil para plantar, é um lugar agradável ainda, o meio ambiente está em equilíbrio, ainda é propício para isso”, afirmou.

O produtor completou dizendo que o produto orgânico às vezes tem um alto custo por conta de como é feita a produção: sem o uso de agrotóxico, a mão de obra precisa ser usada mais vezes. “Por não usar nenhum artifício químico, a mão de obra aumenta muito. Na condição química, não. Você passa um veneno e mata o mato, mata tudo. A gente tem dificuldade de produzir tomate aqui na região na produção orgânica, esse ano foi um ano terrível para tomate, isso influencia também”, comentou.

Canidé ressaltou que a produção orgânica ainda passa por algumas limitações por não poder expandir a comercialização dos produtos. Com a certificação que foi recebida na Associação, os produtores só podem vender diretamente para o cliente, sem poder vender dentro de supermercados. Para que haja esse tipo de comércio, o Ministério da Agricultura precisa validar outro tipo de selo, o que geralmente precisa de apoio de instituições para passar por uma avaliação e saber se o produto realmente é de procedência orgânica.

PRODUÇÃO – Mesmo com essa mudança de comportamento adotado por algumas pessoas, ainda existem muitas dúvidas em relação a esses produtos, principalmente sobre os motivos que levam a ter um custo mais alto que os demais. Conforme o diretor de Defesa e Inspeção Vegetal da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr), Luiz Estrella, as produções orgânicas não conseguem ter uma extensão maior por justamente não fazerem o uso de fertilizantes químicos e que isso impacta diretamente no preço final.

“O produto orgânico é cultivado de maneira toda especial. Onde não usa fertilizante químico, onde não usa agrotóxicos de forma alguma, não usa transgênicos. Usa as variedades tradicionais, cultivados pelos métodos tradicionais. Os fertilizantes utilizados são compostos de procedência vegetal ou animal e eles têm uma característica toda especial com relação ao consumo e a saúde humana. Eles não têm basicamente riscos à saúde humana de acordo com a própria composição. Muito diferente dos produtos utilizados com agrotóxicos”, apontou o diretor.

Luiz Estrella defendeu ainda que, diferentemente de uma produção que utiliza agrotóxico, os produtos orgânicos passam por uma cultivação manual, onde se tiver alguma praga ou animal na planta, ela precisa ser retirada à mão para não fazer a procedência do uso de pulverizadores com produtos prejudiciais à saúde.

“O produto orgânico, por exemplo, pode tirar cada lagarta à mão, bota num saco e protege a planta. Mas isso você faz numa área resumida, você não consegue fazer numa área muito grande. Você utiliza alguns produtos como água e sabão, que não fazem mal à planta e não fazem mal a ninguém e matam alguns insetos. Então são esses tipos de práticas que não conseguem fazer em áreas extensas, são áreas menores que você consegue fazer esse cultivo”, completou.

Sobre a fiscalização, ainda existem restrições por ter uma dificuldade em identificar o produto que contém agrotóxico ou não. Por isso, Estrella afirma que vai da consciência de cada produtor em realizar o melhor tipo de produção sem a interferência de produtos químicos. Caso o produtor que afirma ter produtos orgânicos e for pego comercializando sem que realmente seja, ele pode ser punido pelo Código do Consumidor e também passar por uma investigação no Ministério Público.

Tirando as dificuldades, o diretor confirma que o Estado tem boa relação com a questão de produtos orgânicos e que esse tipo de produção, principalmente na agricultura familiar, tem aumentado cada vez mais e recebido o apoio de órgãos da agropecuária. Além das frutas, ele informa que a carne produzida em Roraima é de qualidade.

“Nós temos a nossa produção de carne bovina oriunda de pasto na região de mata e não contém nada de agrotóxico e não contém nada de fertilizantes e dá uma característica de produção rural e que também não é explorada. Nossa carne sob ponto de vista orgânico, vamos dizer que não seja 100%, mas 90% é uma carne orgânica. Nós temos um estado que boa parte dos nossos produtos estaria classificado como orgânico, faltando cada um buscar a certificação desses produtos e comercializar”, finalizou.

Nutricionista dá dicas sobre como aproveitar melhor produtos orgânicos

Os produtos orgânicos são resultados de uma produção agrícola que não utiliza agrotóxico ou outros aditivos químicos que modificam a composição natural do produto. Ao contrário dos alimentos convencionais, os orgânicos possuem técnicas específicas que ajudam a respeitar o meio ambiente durante o processo de produção.

A nutricionista Talita Nascimento explica que os orgânicos devem ser preferência no consumo por conta da qualidade do alimento, que não acarreta em danos à saúde e também possuem um sabor mais natural e com maior teor de nutritivos.

“Pela técnica convencional de produção de alimentos, utiliza-se maquinário pesado e insumos químicos. Como consequência há desgaste do solo, contaminação de alimentos por agrotóxicos e diminuição da qualidade dos alimentos. Por outro lado, a técnica utilizada na produção de alimentos orgânicos dispensa o uso de qualquer tipo de contaminantes que ponham em risco a saúde do agricultor, do meio ambiente e do consumidor, preservando portanto a saúde humana e ambiental”, ressaltou.

Outro ponto que a nutricionista levanta é a durabilidade dos produtos, que podem ter mais resistência em relação ao armazenamento, que pode ter um prazo maior de vida. Em relação aos riscos de consumir produtos que foram produzidos com o uso de agrotóxicos, podem ocasionar problemas em longo prazo na saúde. “A depender da substância utilizada e do tempo de exposição ao produto. Pesquisas apontam que ocorrem mais de 200 mil mortes por ano no mundo em virtude de problemas gerados pelo uso de agrotóxicos, sendo que a maioria ocorre em países em desenvolvimento. A intoxicação por agrotóxicos pode ocasionar tonturas, cólicas abdominais, náuseas, vômitos, dificuldades respiratórias, tremores, irritações na pele e até mesmo a morte”, disse.

Para Talita, a única desvantagem dos alimentos orgânicos está no preço, que por conta do tamanho da produção, que geralmente é em pequena escala e precisa de mais mão de obra, paga-se mais para comprar alimentos. (A.P.L)

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