Cotidiano

Comerciantes próximo à praça Simón Bolivar reclamam do fluxo de ambulantes venezuelanos

Sem alternativa de um emprego regular, imigrantes sem qualquer regularização ou origem dos produtos vendidos, tornam-se uma concorrência desleal ao mercado local

A presença de vendedores ambulantes vem crescendo cada vez mais em Boa Vista. Essa é mais uma das várias consequências do grande fluxo migratório que acontece no estado, nos últimos anos.

Entre os imigrantes ambulantes, é possível ver um pouco de tudo sendo vendido. Borrachas para carro, fones de ouvido, carregadores, alimentos, meias, entre tantos outros itens. Mas os comerciantes em torno da praça Simón Bolivar reclamam desse fluxo de ambulantes venezuelanos e afirmam que estão tendo as vendas prejudicadas.

Sem alternativa de ter um emprego regular, imigrantes sem qualquer regularização ou origem dos produtos vendidos, tornam-se uma concorrência desleal ao mercado local, que já sofre com a crise econômica que vem sendo registrada no país há alguns anos.

Um dos ambulantes imigrantes, Romer Mendonza, que está em Boa Vista há dois anos, conta que a atividade não é de grande ajuda, mas pelo menos consegue ganhar o dinheiro do aluguel de um pequeno apartamento em condomínio e garantir a comida.

“Trabalho vendendo borracha para portas de carros há um ano. Eu consigo esse produto da Venezuela e revendo por aqui. Não dá para viver de forma confortável com as vendas, mas pelo menos consigo sobreviver, e nunca tive atrito com os comerciantes por aqui por perto”, afirmou.

Outra ambulante venezuelana, que vende doces e café, Margeri Romero, de Puerto de La Cruz, conta que pratica suas vendas há cinco meses, e que, com ajuda de seu marido, que realiza bicos pela cidade, eles conseguem pagar um aluguel e não passam fome. 

“Eu gosto de Boa Vista, quero ficar por aqui. Mas na Venezuela costumava ser mais fácil praticar vendas do que aqui, antes de começar a faltar tudo. Por lá, eu vendia o equivalente a umas cinco garrafas de café, aqui eu geralmente só vendo uma. São muitos ambulantes disputando o mesmo espaço. Além disso, também preciso mandar parte do dinheiro que consigo para meus familiares, na Venezuela”, mencionou. 

Para os comércios em torno da praça Simon Bolivar, a concentração de ambulantes não é positiva. Os comerciantes afirmam possuir uma boa convivência com os imigrantes, mas admitem que a atividade atrapalha suas vendas e o atendimento aos clientes.

“A convivência é pacífica, mas gera desconforto para os clientes. Quando eles estacionam e saem dos carros, chegam uns cinco ambulantes venezuelanos oferecendo um pouco de tudo. E nós não temos o que fazer. Sabemos que esse pessoal está tentando sobreviver, mas nos afeta de certa forma. Já nos deparamos com clientes que tinham dinheiro contado para comprar alguma coisa e acabou gastando com o ambulante para que ele não fique insistindo”, contou.

O dono de um comércio agrícola na mesma região, Renato Lopes, explicou que já se deparou com clientes que pararam de estacionar em frente aos comércios no entorno da praça Simon Bolívar por causa dos imigrantes.

“Evitamos arranjar confusões com eles, até porque os vendedores não querem arranjar briga com ninguém, mas ficamos prejudicados sim. Tem muitas pessoas que já não estacionam mais por aqui para evitar esse tipo de constrangimento. O meu comércio não é tão afetado por ser de necessidade de quem trabalha com agricultura, mas muitos por aqui são”, ressaltou.

REGULARIZAÇÃO – De acordo com a Gerente da Unidade Técnica Geral de Atendimento Internacional do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em Roraima, Kátia Veskesky, é possível que os imigrantes busquem regularização do trabalho ambulante, por meio de cadastro do Microempreendedor Individual (MEI).

“O estrangeiro que tem visto permanente no país, seja pelo casamento ou pela dupla nacionalidade, e que queira se formalizar como MEI, deve tirar o Registro Nacional de Estrangeiro, na Receita Federal. Com esse documento, ele conseguirá ter seu número do CPF, que é necessário para a formalização”, explicou Kátia.

Para aqueles que não tenham visto permanente no Brasil, é necessário buscar um visto de investidor no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio do site do Ministério do Trabalho.

“Como o estrangeiro não tem título de eleitor, porque não pode exercer direito ao voto, para prosseguir com a formalização, deverá fazer uma Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF) entregar em arquivo de mídia na Receita Federal. No caso de haver outras dúvidas sobre a regularização, todas as quintas e terças-feiras às 15h, no Sebrae São Francisco, realizamos a palestra de Formalização para esclarecer todas as dúvidas antes do registro.

As inscrições para palestra são feitas pelo 0800-5700-800”, concluiu a gerente do Sebrae-RR.

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