Cotidiano

Casos de suicídio preocupam pais e professores da rede pública de ensino

O temor é que o suicídio de duas adolescentes de 15 anos, este mês, possa influenciar outros estudantes

O suicídio recente de duas estudantes adolescentes tem preocupado pais e professores em Boa Vista. As garotas, de 15 anos de idade, apresentavam comportamento depressivo e não receberam nenhum tipo de atendimento ou tratamento. Para impedir que o fato se repita, pais pedem acompanhamento psicológico e tratamento na rede pública de ensino. 
A professora Elda Soares disse que após o suicídio de uma estudante na escola onde trabalha, na zona Oeste, ela passou a preocupar-se com os demais alunos e teme que o fato volte a repetir-se. “A adolescência é uma época de constantes mudanças, tanto físicas quanto comportamentais. Eles se decepcionam facilmente, principalmente quando se trata de relacionamentos amorosos. Muitas vezes, sofrem calados e não procuram por ajuda e acabam cometendo essa tragédia”, observou. 
Para solucionar o problema, Elda acredita que as escolas deveriam contar com atendimento psicológico. “Se o professor tivesse detectado um comportamento depressivo na aluna, ele poderia tê-la orientado a procurar uma unidade para que recebesse atendimento psicológico. Acredito que se ela tivesse recebido este comportamento, a tragédia não teria ocorrido”, enfatizou. 
A mãe de uma aluna de escola da rede estadual de ensino relatou que uma adolescente daquela unidade de ensino também cometeu suicídio. “No ambiente escolar, geralmente todos os alunos interagem e seguem tendências. Temo que minha filha veja essa atitude como um exemplo e acabe querendo fazer o mesmo”, observou. 
O servidor público Carlos Almeida é pai de duas adolescentes. Ele afirmou que sempre acompanhou a vida escolar das garotas, mas teme que elas se espelhem nas estudantes que tiraram a própria vida. “A adolescência é uma fase de descobertas, e é nesta época que a personalidade é acentuada. Acredito que toda escola deva ter um assistente social e um psicólogo para detectar jovens com esse tipo de comportamento e tratá-los”, explicou.
A psicóloga Patrícia Roma destacou que os pais e professores devem prestar atenção em uma série  de comportamentos, como alteração do humor, ansiedade, agressividade, autoestima baixa, relacionamento social distante. “Nestas situações, o jovem sente dificuldade de concentração, além de se deixarem dominar pelo medo, insegurança, sentimento de fracasso e achar que a vida não tem sentido”, disse ao ressaltar que alguns ainda fazem o uso de drogas ou álcool.
Patrícia destacou que existe tratamento para este tipo de comportamento. “Os pais devem se envolver com o tratamento proposto, seja psicoterapia, medicação, grupo de orientação para pais e terapia de família, além de tratar o assunto de maneira atenta e direta, evitando o preconceito e a culpa”, disse.
“Os pais devem evitar insistir para que a criança fique bem. Se houver uma sobrecarga, a recomendação é aliviar, pois se ela estiver depressiva, não conseguirá mudar a postura sob pressão. Já no ambiente escolar, é preciso dosar as cobranças e o perfeccionismo no processo de ensino. Crianças que crescem em ambientes de muita cobrança e pouca recompensa estão mais sujeitas a deprimir”, frisou.
GOVERNO – A Secretaria de Comunicação do Governo do Estado informou que a escola tem a orientação de que, ao identificarem alunos com baixa autoestima e depressão, deve relatá-lo imediatamente à Secretaria Estadual de Educação e Desportos (Seed), que, por sua vez, aciona a Divisão de Desenvolvimento Psicossocial Escolar, que faz o acompanhamento do aluno e família, encaminhando-os a um profissional psicólogo para tratamento clínico na rede pública de saúde.
“Esclarecemos que a Divisão de Desenvolvimento Psicossocial faz o acompanhamento durante o tratamento clínico, monitorando a frequência do aluno nas sessões clínicas, além do desempenho pedagógico do estudante. Esclarece que este ano, até o momento, não houve registro de alunos com baixa autoestima e depressão nas escolas da rede pública estadual”, diz a nota, mesmo tendo sido registrados dois suicídios de adolescentes da rede estadual.