Política

Brasil depende de exportações, dizem especialistas

Promessas do governo Bolsonaro de mudar o posicionamento do Brasil frente à globalização vão encontrar resistência

Leo Daubermann

Editoria de Política

As promessas do governo Bolsonaro de mudar o posicionamento do Brasil frente à globalização vão encontrar resistência, opinião compartilhada pelos professores doutores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Cléber Batalha Franklin, doutor em relações internacionais, e pelo economista Haroldo Amoras, em entrevista ao programa Agenda da Semana desse domingo, 6, na Rádio Folha FM 100.3.

Ambos estavam se referindo a alguns comentários agressivos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) contra a China. Em alguns discursos do presidente, ele sinaliza o bloqueio, não do comércio bilateral, mas da vontade chinesa de investir no Brasil, adquirindo empresas. Após esses comentários, o presidente teria declarado uma espécie de alinhamento automático à economia dos Estados Unidos (EUA).

Para Franklin, as instituições brasileiras são capazes de mediar posições radicais. Ele acredita no amadurecimento da democracia. “Nós estamos passando por um processo de amadurecimento da democracia. São vozes que até então não eram ouvidas e hoje estão sendo ouvidas. Os extremos, na minha concepção, devem ser renegados ao segundo plano. A tendência é encontrar o meio termo, buscar um ponto de equilíbrio”, disse.

De acordo com Amoras, o Brasil depende muito de suas exportações e do ingresso de capitais internacionais, e determinados posicionamentos podem colocar em risco a economia do País. “No momento em que se declara que não será realizada uma política ideológica, já está sendo executada uma política ideológica. Se levarmos em conta que a nossa maior relação comercial hoje em dia é com a China, qualquer declaração mal posicionada pode colocar em risco nossa economia”, falou.

A solução, de acordo com Amoras, pode vir por meio do crivo de instituições legitimamente estabelecidas. “Essas mediações podem vir do Congresso Nacional, das universidades, prefeituras, câmaras municipais, ou através da imprensa, como nós estamos fazendo neste momento aqui. Cada um com sua opinião e no final tudo vai ser mediado pela política”, ressaltou.

Amoras ressaltou ainda que o Brasil nunca foi um país capitalista na sua essência, mas que o sentimento nacionalista, que sempre existiu, está cada vez mais aflorado.

“O Brasil é um país que foi patrimonialista, clientelista, dominado pelo coronelismo, então agora é o momento de termos esse amadurecimento. Cada vez mais pessoas estão participando do processo de discussão, o que vai resultar num outro nível de compreensão da realidade nacional, aliás, o nacionalismo é muito forte”, disse.

Segundo Franklin, a atenção não deve ser voltada neste momento somente para o globalismo e a globalização, mas para o nacionalismo que está voltando à moda. “O nacionalismo aflorou com uma força que não se via desde a década de 1970. Estava adormecido e aflorou com muita força. Os partidos de esquerda não se atentaram e estão sem saber o que fazer. O povo está dizendo, minha bandeira é verde e amarela, não é vermelha, não”.