Cotidiano

Boa Vista tem 1681 novos casos de malária em um ano

Já o Estado teve um crescimento de 72% no índice da doença em um ano, passando de 8 mil para 14 mil casos

Com a aproximação do período de estiagem, os órgãos de saúde da região amazônica começam a se mobilizar para as ações de combate à malária, já que os índices de contágio são maiores durante a seca. No entanto, Roraima já obteve um aumento de 72% de casos da doença, mesmo ainda passando por chuvas esporádicas. O município que mais influenciou para este aumento foi Pacaraima, com 2.496 novos casos somente em um ano.

De acordo com dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica e Notificação de Casos (Sivep – Malária) do Ministério da Saúde, Roraima registra atualmente 14.274 casos da doença. 

Destes, a maioria (7.733) é do tipo autóctone, ou seja, contraída no Estado. Os demais são importados de outros municípios ou unidade federativa (2.368) ou outro país (4.173). Em setembro do ano passado, eram 8.257 no total, sendo 5.153 autóctones, 1.399 de outros municípios ou estados e 1.705 de outros países.

PACARAIMA – Em setembro do ano passado eram 586 casos, sendo a maioria oriunda de outro país (360), seguido por aqueles ocorridos no território estadual (212) e importados de outras localidades (14).

Já em setembro deste ano são 3.082, ou seja, houve o crescimento de 425% de um ano para o outro. A maioria continua sendo de pessoas de outros países (1.942), em seguida por autóctones (1.106) e poucos de outras regiões (32).

O município localizado na fronteira com a Venezuela passou a ser a região com o maior índice de malária no Estado, ultrapassando Boa Vista e Rorainópolis que normalmente tinham a maior concentração de pessoas com a doença. 

A maioria dos casos no município, cerca de 90%, é de comunidades indígenas na região e não no centro da cidade. Isso se dá por conta da característica climática de Pacaraima, com um clima muito frio para a permanência do mosquito Anopheles darlingi. Já nas terras indígenas, a vegetação alta deixa a área mais propícia para o vetor transmissor da malária.

Uiramutã tem crescimento de 1.700% em índice de malária

Outras localidades que também registraram um aumento significativo no percentual da doença foram os municípios de Uiramutã, Bonfim, São João da Baliza, Caroebe e São Luiz, todos com um crescimento acima dos 100%.

Uiramutã teve a maior mudança, passando de apenas dois casos em 2017 para 349 em 2018, ou seja, um aumento de 17.350% de ocorrência da doença na região. Bonfim passou de 22 para 96 (+336%), São João da Baliza de 80 para 296 (+270%), Caroebe de 68 para 187 (+175%) e São Luiz de 34 para 93 (+173%).

A Capital Boa Vista teve um crescimento de 75%, passando de 2.236 casos para 3.917 em um ano e Rorainópolis teve um aumento de apenas 18%, saindo de 2.081 no ano passado para 2.475 este ano. Somente Alto Alegre, Iracema e Mucajaí registraram redução da doença.

Óbitos por malária aumentaram 225%

O aumento dos casos positivos da doença em Roraima também impactou no registro de óbitos no Estado. Segundo dados da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde da Secretaria estadual de Saúde, durante todo o ano de 2017 foram quatro mortes relacionadas à malária. 

Até agosto deste ano foram contabilizadas 13 mortes, o que significa um aumento de 225% no percentual de mortes causadas pela doença. Entre as vítimas, nove eram venezuelanos e quatro brasileiros.

Migração impactou no aumento da transmissão da doença

De acordo com Ducinéia Aguiar, gerente do Núcleo de Controle da Malária da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde da Secretaria estadual de Saúde, o aumento ocorreu principalmente por conta do fluxo migratório venezuelano, em especial, na transmissão da malária nas áreas indígenas de Pacaraima. 

“A migração interferiu nos casos autóctones das comunidades localizadas às margens da BR-174, região de São Marcos, muito procuradas como abrigos para esses refugiados, sendo as comunidades de Sorocaima e Boca da Mata as que mais registraram casos da doença”, explica.

A gerente alerta ainda que, embora o índice tenha subido, Roraima ainda não está no período mais crítico já que normalmente os casos aumentam durante a seca.

“Esse período de setembro está meio atípico. Já era para estar seco, mas continua chovendo esporadicamente. Talvez comece a aumentar os criadouros do vetor para final de outubro, começo de novembro. Por isso a importância dos municípios de organizar os seus serviços e se planejar para reduzir a malária nesse período”, afirmou.

População deve auxiliar no combate à doença

Para combater a doença, a gerente explica que o Estado tem trabalhado com a logística dos insumos estratégicos, seja medicação, inseticida e teste rápido para que não falte tratamento, diagnóstico nem o controle do vetor.

Ducinéia Aguiar afirma que a população pode ajudar também na redução de casos evitando sair nos horários de amanhecer e entardecer, horário em que o mosquito sai para se alimentar. Para quem mora no interior, o cuidado deve ser também no período noturno. 

“Tem que procurar se proteger, usar blusa de manga e calça comprida, meia, repelente e, principalmente, quem puder, fazer a aquisição do mosquiteiro. Além disso, a população deve deixar que os agentes de saúde façam o seu trabalho de borrifação dentro das residências e entendam que essas ações são voltadas para o bem da sua saúde”, concluiu. (P.C.)