Cotidiano

Água de coloração escura é despejada por tubulação no leito do Rio Branco

Populares que utilizam as águas do Rio Branco para prática esportiva e pescas denunciaram à Folha que uma água de coloração escura e que exala mau cheiro está sendo lançada no leito do rio nas proximidades do Distrito Industrial, na zona Sul. Eles acreditam que se trata de despejo de esgoto sem tratamento que estava saindo de uma tubulação da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer).

A Folha esteve no local, esta semana, e constatou a forte vazão da água de tonalidade escura que escorria para o leito do rio por meio de uma vala. No local, que também exalava forte odor, uma família pescava e tomava banho sem nenhum incômodo.

Conforme o especialista em recursos hídricos da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Carlos Sander, esse tipo de despejo pode caracterizar a contaminação do rio. “A questão do odor e da coloração caracteriza como contaminação da água ou pode sinalizar que aquela estrutura pode ser insuficiente para o volume que está recebendo”, disse.

Ele informou que processos químicos também podem alterar a cor da água. “O tratamento existe, mas não teve êxito esperado devido à sobrecarga. É interessante verificar se estão lançando direto no rio. Às vezes, há processos químicos que podem alterar a cor da água, que são naturais, inclusive, mas tem que ver se o problema não é de estrutura”, frisou.

Conforme o especialista, a estrutura de tratamento da rede de esgoto da Capital é insuficiente. “Fizemos visita antes da ampliação da rede de drenagem de esgoto em Boa Vista. Talvez, naquela época, a estrutura de tratamento fosse suficiente, só que agora, com certeza, o volume de esgoto é muito maior do que há dez anos e, provavelmente, haja a necessidade de ampliar a área de tratamento”, afirmou.

O professor explicou que o tratamento de esgoto feito pela Caer é por meio de radiação. “Eles jogam o esgoto que eles tratam ali nas lagoas de estabilização. A companhia lança o esgoto em grandes piscinas e o processo de radiação faz a filtragem. O material sai de uma piscina e depois vai para outra, e na última piscina eles colocam peixes para mostrar que tem condição de vida na água”, informou.

Conforme o especialista, isso não quer dizer que o esgoto despejado no Rio Branco esteja em condições aceitáveis. “O fato de conseguir ter a presença de peixes nesses ambientes representa o processo de oxigenação e condições razoáveis na água. É boa para se usar para determinada finalidade, mas não quer dizer que está dentro de uma condição supostamente aceitável”, frisou.

CAER – Em nota, a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima informou que não faz o despejo in natura de esgoto no Rio Branco, e sim o descarte do efluente (esgoto tratado) da lagoa de estabilização, atendendo às normas da legislação ambiental. Em relação ao Distrito Industrial, a empresa esclareceu que a denúncia precisa ser averiguada junto aos órgãos ambientais, para verificar de quem é a responsabilidade. (L.G.C)