Saúde e Bem-estar

A importância de dizer “não” ao seu filho

A grande verdade (se é que existe alguma certeza nessa vida) é essa: todo ser humano se frustra desde que aterrissa nesse mundo. Não há como evitar isso, por mais que doa ver um filho sofrer. Tentar satisfazer completamente as vontades e evitar dizer o famoso “não”, achando que isso trará felicidade, é inútil. Ensinar os filhos a esperar e persistir faz parte do papel de pais e mães. Se os adultos não derem limites e não negarem alguns caprichos das crianças, elas não aprenderão a lidar com as adversidades que surgirem pelo caminho e isso se torna um problemão lá no futuro.

PRIMEIRAS INSATISFAÇÕES

Engana-se quem pensa que a vida do bebê é uma maravilha completa. Desde que sai do conforto e da segurança do útero materno, onde tinha tudo, ele inicia um processo de adaptação à sociedade. Aqui fora, a realidade é bem diferente. “Em pouco tempo, a criança se depara com a ausência do seio materno: ela se dá conta de que aquilo não lhe pertence e não estará disponível o tempo todo. Esse é um exemplo de frustração necessária e inevitável”, explica Maria José Gontijo, pós-doutora em Educação, professora da PUC-MG e membro do Conselho Federal de Psicologia.

Assim, uma série de outras pequenas insatisfações se apresentam diariamente ao bebê e não há como criar um ser humano sem contrariar suas vontades. O cotidiano de uma criança pequena já inclui uma série de desgostos que fazem parte da existência. “Não acarinhar 24 horas seguidas é frustrá-la. Mas é impossível alguém oferecer o peito e o colo dia e noite sem parar. Isso é completamente ilusório e romantizado. No cotidiano, os pais têm que se ausentar para tomar banho, comer, trabalhar”, reflete Alessandra Barbieri, psicóloga, psicanalista e professora do Instituto Sedes Sapientiae (SP).

QUANDO DIZER “NÃO” 

Além das insatisfações irremediáveis (como a impossibilidade de estar nos braços de um adulto em tempo integral) é preciso, aos poucos, dar limites a certos comportamentos dos filhos. “O bebê de 1 ano já compreende o ‘não’. É por isso que essa é a primeira palavra de muitos. Aos 2 anos, ele passa a entender também que o ‘não’ pode trazer consequências, como um castigo. Dar limites é extremamente importante para a formação”, afirma o pediatra e neonatologista Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria. 

Os especialistas lembram que, atualmente, existe uma “ditadura do prazer”, em que não se pode adiar uma vontade. Por isso, muitos pais tentam fazer de tudo para que a criança não se frustre e acabam criando pequenos paraísos artificiais para os filhos, onde qualquer desgosto é sanado com doces, presentes, telas.

MAS QUAL É A MEDIDA CERTA DAS NEGATIVAS?

Não existe receita pronta! “Temos que usar o ‘não’ somente quando for preciso. Para definir a necessidade, os pais devem pensar nos planos que têm para o filho. É preciso ter em mente o tipo de adulto  que você deseja que a criança se torne, para poder cobrar comportamentos e corrigi-la sem sentir culpa”, afirma a psicóloga Teresa Helena Schoen, pedagoga e professora da Unifesp.

O papel do elogio Elogiar (sem excessos) o bom comporta- mento é muito importante. Ressalte aquilo que a criança fez e que condiz com o que se espera dela. Por exemplo: se ela lavou as mãos sozinha após usar o banheiro, se soube agradecer um presente repetido que ganhou, se foi educada durante a visita a um parente… São pequenas conquistas que merecem reconhecimento verbal. É uma forma de valorizá-la.

O QUE DIZ A ESPECIALISTA

Alessandra Barbieri, psicóloga, psicanalista e professora do Instituto Sedes Sapientiae (SP) responde a questões frequentes 

COMO DIZER “NÃO” NA MEDIDA CERTA, SEM FALTA DE EXAGERO?

Crianças são seres em processo de humanização. Cada adulto deve terem mente o que julga importante nesse processo e não abrir mão disso. Em questões de menor importância, o “não” pode ser deixado de lado: isso poupa energia para as próximas negativas e permite que a criança explore o mundo sem tantas inibições. Uma boa medida é os pais perceberem a quantidade de prazer em sua relação com o filho. Se, no dia a dia, os adultos não encontram nenhum ponto agradável na convivência porque sempre estão no papel dos que tolhem, então é preciso repensar a frequência do “não”.

Fonte: Maria Clara Vieira/ Revista Crescer